Indústria quer inclusão de empresas no diálogo com Índia para fechar acordo
Brasil e país asiático decidiram ampliar acordo de preferências tarifárias existente no âmbito do Mercosul; atualmente o tratado é considerado limitado
Índia e Brasil formalizaram os termos para a ampliação do Acordo de Preferência Comercial entre o país asiático e o Mercosul. A expectativa é de que as negociações sejam concluídas no prazo de um ano.
Entre os termos acordados entre as partes, está a participação ativa do setor privado na discussão das preferências tarifárias que serão ampliadas. Diante disso, a CNI (Confederação Nacional da Indústria) e a FICCI (Federation of Indian Chambers of Commerce and Industry) criaram um mecanismo de cooperação empresarial para promover o comércio, os investimentos e a inovação entre os dois países.
De acordo com Frederico Lamego, superintendente de Relações Internacionais da CNI, a Índia tem uma política de incentivos extensa no setor industrial, de modo similar à NIB (Nova Indústria Brasil). A política industrial brasileira foi lançada pelo governo Lula em 2024, com o objetivo de impulsionar o desenvolvimento da indústria nacional até 2033.
“Existe muito espaço para uma agenda de complementaridade industrial, até mais do que uma agenda agrícola, a depender de como vai se desenrolar as negociações”, afirma Lamego à CNN.
Para alcançar esses objetivos, a CNI propôs ao governo brasileiro a estruturação de comissão intergovernamental entre o Brasil, a Índia e o setor privado de ambos países. Lamego explica que a criação de uma comissão desse tipo poderia facilitar uma agenda público-privada na estruturação de uma aliança estratégica.
“A gente entende que tem que colocar empresário para falar com empresário, que o setor privado seja escutado nas discussões entre governo. Para isso, precisa de uma comissão de alto nível para facilitar essas pontes”, disse Lamego.
A indústria brasileira já está se preparando para a visita oficial do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) à Índia, prevista para o início de 2026. A ideia é que empresários do Brasil também integrem a comitiva brasileira para fechar negócio com os indianos.
“Vai precisar ter um mecanismo de diálogo institucionalizado para que o setor privado possa levar seus pleitos para a discussão entre governos. No fim, é o setor privado que vai viabilizar e promover negócios entre os dois países”, disse Lamego à CNN.
Atualmente, o tratado entre Mercosul e a Índia abrange 450 categorias de produtos, num universo de cerca de 9 mil, e prevê reduções tarifárias modestas, entre 10% e 20%. Por isso, o Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços enviou uma equipe à ao país asiático em outubro para ampliá-lo.
Durante a missão oficial no mês passado, integrantes dos governos brasileiro e indiano debateram oportunidades de negócios com cerca de 20 empresas de diferentes setores que têm presença direta no mercado ou registram exportações significativas para lá. Participaram empresários dos ramos de alimentos, bebidas, agronegócio, construção, tecnologia, química e saúde, máquinas e equipamentos, energia e moda.
“A gente espera que haja a criação desse conselho vital para colocar empresa brasileira para dialogar com empresa indiana, colocando as suas preocupações, como facilitar negócios. Recomendamos ao governo brasileiro a criação de uma comissão intergovernamental de alto nível entre Brasil e Índia que tenha participação do setor privado dos dois lados. O Brasil já tem mecanismos assim com a China”, afirmou.
Para este ano, a estimativa é que o comércio entre Brasil e o país alcance US$ 15 bilhões. Com a definição de um cronograma para diversificar produtos com tarifa reduzida, a meta é alcançar US$ 20 bilhões na balança comercial entre o Brasil e o país asiático em 2026.

