Em meio à crise em reservatórios, setor elétrico faz pente-fino em térmicas

ONS vai listar cada usina térmica instalada e em operação para saber com o que poderá contar, a fim de afastar riscos de apagão e racionamento de energia

André Borges, do Estadão Conteúdo
Instrumento para medição do nível d'água em barragem
Instrumento para medição do nível d'água na barragem da usina hidrelétrica de Furnas, em São José da Barra (MG) 14/01/2013  • Foto: REUTERS/Paulo Whitaker
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Com o volume escasso de água nos principais reservatórios do país, o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) decidiu fazer uma varredura em cada usina térmica instalada e em operação, para saber exatamente com o que poderá contar, a fim de afastar riscos de apagão e racionamento de energia.

Na segunda-feira, 24, a diretoria do ONS, que é o órgão responsável por fazer a gestão diária do abastecimento elétrico nacional, disparou um documento a 40 empresas do setor elétrico que possuem usinas térmicas movidas a gás, óleo diesel, biomassa e carvão. Na lista estão empresas como Petrobras, Engie e Neoenergia, além das estatais do Grupo Eletrobras.

 

No documento, ao qual a reportagem teve acesso, o ONS pede que, até a próxima segunda-feira, dia 31, cada empresa informe detalhadamente, quais são as usinas térmicas que cada empresa possui, com detalhamento semanal ou diário de seus cronogramas de manutenção e operação previstos até dezembro de 2021.

"Considerando o final do período chuvoso nas principais bacias integrantes do SIN (Sistema Interligado Nacional) e os baixos níveis de armazenamento alcançados nos principais reservatórios de regularização, torna-se imprescindível a maximização da disponibilidade de geração térmica para garantir o atendimento eletroenergético", afirma a diretoria do ONS, no documento.

No último período chuvoso, iniciado no fim de novembro e encerrado em abril, as águas podem ter caído em bom volume sobre muitos centros urbanos, mas não é isso o que se viu nas principais cabeceiras de rios do país. Se há ocorrência de água abundante nessas áreas, todo o sistema hidrelétrico passa a ser irrigado.

Quando as chuvas nessas localidades não ocorrem, porém, as usinas rio abaixo ficam prejudicadas. No documento enviado às empresas, o ONS alerta que, considerando o potencial de geração de energia hidrelétrica acumulado entre setembro de 2020 e maio deste ano, esta "configurou-se como a pior condição hidrológica" de todo o histórico de vazões em 91 anos de medição (1931/2021).

Segurança energética

A necessidade de o país recorrer às suas usinas térmicas para garantir o abastecimento elétrico deve-se à possibilidade de garantir um volume específico de geração, diferentemente do que acontece com as demais fontes do país.

Usinas hidrelétricas, eólicas e solares dependem, fundamentalmente, de condições naturais para gerar energia. Se não há água, vento e sol, não tem geração. Acrescenta-se a isso o fato de que a energia deve ser consumida no momento em que é gerada, ou seja, não pode ser armazenada para ser usada em outro momento.

Com as térmicas, porém, é possível gerenciar o volume e o tempo de produção. O preço dessa energia, no entanto, é bem mais caro que as demais, além de serem mais poluentes. O Brasil conta hoje com 3.180 usinas térmicas em operação, que respondem por 25% de toda a potência instalada de geração de energia do país.

Diariamente, o ONS define o que deve ser acionado e aquilo que não será utilizado. Atualmente, a ordem é colocar as térmicas a plena carga e é isso o que tem ocorrido. Na quinta-feira, 27, por exemplo, 21% de toda a energia consumida no Brasil foi gerada por usinas térmicas, cujo funcionamento básico se baseia no aquecimento de água e produção de vapor, um processo que impulsiona a turbina e gera energia.

Nesta sexta-feira, 28, conforme anteciparam o jornal O Estado de S. Paulo e o Broadcast (sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado) o governo publicou um alerta de emergência hídrica para o período de junho a setembro em cinco Estados brasileiros: Minas Gerais, Goiás, Mato Grosso do Sul, São Paulo e Paraná.

Todas as unidades da federação atingidas estão na bacia do Rio Paraná, polo de produção agropecuária e de grandes hidrelétricas. Na região a situação é classificada como "severa" e a previsão é de pouco volume de chuvas para o período. É o primeiro alerta dessa natureza em 111 anos de serviços meteorológicos do país.

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