Brasil tem 4º maior volume de investimentos estrangeiros no 1º tri, diz estudo
País teve a maior proporção entre investimentos e PIB em 2021, considerando as principais economias do mundo, segundo um relatório da OCDE
O Brasil foi o quarto país com maior volume de investimentos estrangeiros no primeiro trimestre de 2022, de acordo com dados das principais economias do mundo compilados pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) e pelo Banco Central.
O relatório da OCDE que traz os volumes investidos nos três primeiros meses do ano não traz o valor que entrou no mercado brasileiro. O período de levantamento da OCDE coincide com a greve dos funcionários do Banco Central, que atrasou a divulgação de uma série de indicadores, inclusive o de investimento.
Considerando o valor apresentado pela própria autarquia posteriormente, o Brasil atraiu US$ 27,88 bilhões em investimentos estrangeiros entre janeiro e março de 2022. Com isso, ficou atrás apenas da China (US$ 101,91 bilhões), Estados Unidos (US$ 66,91 bilhões) e Austrália (US$ 59,31 bilhões), mas à frente dos outros países membros da OCDE. O México ficou na quinta posição, com US$ 19,42 bilhões.
Ainda de acordo com os dados da organização, em 2021 o Brasil também ficou no quarto lugar no ranking global, quando recebeu US$ 50,36 bilhões em investimentos. O país ficou atrás dos Estados Unidos (US$ 382 bilhões), China (US$ 334 bilhões) e Canadá (US$ 60 bilhões).
O valor total atraído no ano passado foi superior ao de 2020, de US$ 28 bilhões, mas ainda foi inferior ao período pré-pandemia, quando o Brasil recebeu US$ 65,38 bilhões em 2019. Considerando a série histórica do BC, iniciada em 2005, o ano em que o Brasil mais recebeu investimentos estrangeiros foi em 2011, totalizando US$ 97,42 bilhões.
Já considerando a proporção entre os investimentos estrangeiros que entraram em um país e o seu Produto Interno Bruto (PIB), o Brasil teve o melhor desempenho entre as 15 maiores economias do mundo.
A proporção ficou em 3,1%, superando a de países como o Canadá (3%), China (2%), Estados Unidos (1,8%) e Japão (0,5%).
Causas
Apesar dos números serem positivos, os dados absolutos mostram que o Brasil está estagnado há alguns anos em relação à atração de investimentos estrangeiros, segundo o especialista CNN em economia Sergio Vale.
“Estamos perdendo valor de investimento ao longo dos últimos 12 anos, especialmente desde 2011, quando atingimos o pico. Então, tem o cenário de que temos essa melhora do ranking acontecendo agora, mas não significa, necessariamente, que a gente esteja em uma boa situação, especialmente, quando olhamos em termos de proporção dos investimentos estatais”, ressalta.
Vale associa a atração de investimentos em especial à forte pauta de exportação de commodities, cuja dependência global crescente beneficia mercados exportadores. Mesmo assim, considera que os resultados ainda estão “aquém do nosso potencial”.
“A gente poderia estar com um número muito maior de investimento se tivéssemos mantido um padrão estável de crescimento, de investimento e de reformas ao longo dos últimos anos. Então é um bom resultado, mas aquém do que poderíamos alcançar e é uma sinalização de qualquer maneira que temos muito trabalho para melhorar esses números, de voltar a ter o padrão de investimento estrangeiro direto que tínhamos anteriormente, acima de US$ 60 bilhões”, diz.
Para ele, o ideal para atrair mais investimentos seria que o Brasil oferecesse aos investidores uma perspectiva de retomada de uma estabilidade econômica nos próximos anos, em especial referente à inflação e à dívida pública.
“Adicionalmente, a questão ambiental será cada vez mais relevante neste sentido, é preciso ter um padrão estável de adequação. As questões ambientais vão ser importantes para conseguirmos atrair esse investimento direto cada vez mais”, opina.
Já Jennie Li, estrategista da XP, considera que o Brasil se tornou recentemente um “TINA”, termo que se traduz como “não há outra alternativa”, pensando em investimentos em mercados globais. “De fato, a visão sobre os mercados de fora tem ficado muito mais cautelosa do que o Brasil. Lá fora, temos diversos fatores que nos fazem ter essa visão de cautela quando comparado ao Brasil”.
Entre esses elementos, ela cita ativos vistos como pouco atrativos e pouco baratos, enquanto o Brasil possui ações negociando a múltiplos com forte desconto. A relação preço da ação e lucro da empresa no Ibovespa, por exemplo, está em 6 vezes, enquanto que no índice norte-americano S&P 500, está em 16 vezes. Quanto maior, menos descontadas as ações estão.
O fato da bolsa brasileira ter forte peso de ações de commodities e bancos também atua como um fator de atração de investimentos, já que são dois setores “que investidores tendem a procurar em cenário de inflação e juros em alta”.
Há, ainda, incertezas sobre o rumo de políticas monetárias nos Estados Unidos e Europa, enquanto o Brasil já está próximo do fim do seu ciclo de alta de juros. No cenário internacional, Li cita preocupações ainda com as tensões entre Rússia e países ocidentais e entre a China e os Estados Unidos, além de preocupações com a desaceleração econômica chinesa e os riscos crescentes de uma recessão econômica global.
“É claro que o Brasil tem seus riscos e seus problemas, mas no relativo, estamos vendo ventos mais favoráveis por aqui, e isso tem atraído um forte fluxo de capital estrangeiro. Até agora em 2022, segundo os últimos dados da B3, já entrou um saldo de mais de R$ 85 bilhões, mais que o dobro dos R$ 40 bilhões que entraram no ano inteiro de 2021”, destaca Li.