Eletrobras deve ganhar eficiência, mas efeito em tarifas é incerto, dizem analistas
Capitalização da estatal deve aumentar capital para investimentos, sem limitação da União
Com previsão de conclusão entre junho e julho deste ano, o processo de capitalização da Eletrobras não deve mudar apenas a estrutura societária da empresa.
Segundo especialistas consultados pelo CNN Brasil Business, empresas recém-privatizadas acabam tendo, em geral, um ganho na sua eficiência operacional.
José Glauber Cavalcante dos Santos, professor da UFC, explica que o termo se refere à capacidade de uma empresa de “gastar menos para produzir e ganhar mais ou a mesma coisa”.
Mesmo assim, esse ganho de eficiência pode não se traduzir necessariamente em um benefício para o consumidor.
Primeiro porque é necessário considerar as perdas e os ganhos com o processo, mas principalmente porque o aspecto operacional não é o único que determina os valores das taxas cobradas nas contas de luz.
Da origem à privatização: entenda a história da Eletrobras
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Apesar de a discussão ter reacendido recentemente, não é a primeira vez que a privatização da Eletrobras vira tópico de debate na política e sociedade. Conheça a história da companhia, da sua criação até a MP 1.031/2021 • REUTERS/Brendan McDermid/File Photo
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Em 1961, o presidente Jânio Quadros assinou a Lei 3.870-A, que autorizava a construção das Centrais Elétricas Brasileiras S.A. A instalação da empresa ocorreu oficialmente em 1962, pelo presidente João Goulart—nascia, então, a Eletrobras • Agência Brasil
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Após a posse do presidente Fernando Collor de Mello em 1990, foi anunciado o “Plano Brasil Novo”, que instituiu, entre outras medidas, a MP 155/90. Ela implementava o Programa Nacional de Desestatização (PND) que, como o nome já diz, visava transferir atividades exercidas pelo setor público ao setor privado • Foto: Wilson Dias/ Agência Brasil
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A Eletrobras foi incluída no plano, e as reformas institucionais e privatizações na década de 1990 acarretaram a perda de algumas funções da estatal e mudanças em seu perfil. Ela só foi removida do PND em 2004 --e adicionada novamente em 2021 • REUTERS/Mike Blake
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Em 2012, a MP579 mudou completamente o rumo da companhia. A medida provisória propunha a renovação antecipada de uma série de usinas hidrelétricas, com a condição do regime de cotas • George Becker/Pexels
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Isso significa que a empresa passa a ser obrigada a vender energia pelo preço que cobria basicamente o custo de operação e manutenção daquelas plantas. Quando não estão submetidas a ele, o preço de mercado da energia elétrica cobrados pelas usinas chega a R$180/MWh. Nas usinas que estão sob o regime, o valor fica em torno de R$60/MWh. Na Eletrobras, cerca de 40% da energia vendida acabava saindo por esse preço • REUTERS/Pascal Rossignol
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Além disso, a MP cortou cerca de 70% das receitas da companhia em transmissão. Isso provocou uma queda de R$10 bilhões no faturamento da Eletrobras, que somadas à crise econômica e ambiental, quase levaram a empresa à falência. • Pixabay
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Em 2016, Wilson Ferreira Júnior, CEO escolhido pelo então presidente Michel Temer, melhorou o cenário da empresa com um projeto de "turnaround" • Marcelo Camargo/Agência Brasil
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Ele demitiu cerca de 53% dos funcionários da companhia, reduziu para menos da metade o número de subsidiárias e ordenou a venda das distribuidoras de energia da empresa --a medida mais polêmica do projeto. Isso fez com que o PMSO— ou seja, as despesas gerenciáveis da empresa com pessoas materiais, serviços e outros— fosse de RS$ 12 bilhões em 2016 para RS$ 9 bilhões em 2020 • Marcelo Camargo/Agência Brasil
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Em 2018, a empresa volta a ser tópico de discussão em todo o país: Temer deu o primeiro passo legal para a privatização da empresa, enviando ao Congresso o PL 9463/2018. Ele argumentava que a Eletrobras estava perdendo espaço para a iniciativa privada e, diante do acúmulo de dívidas, tornava-se custosa para a sociedade. O projeto ficou parado e nem sequer chegou à fase de votação • Isac Nóbrega/PR
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O presidente Jair Bolsonaro (PL) reacendeu a discussão em 2019, com o PL 5877/2019. Esse projeto buscava demonstrar, assim como o anterior, o decaimento da estatal, sua perda de espaço no mercado e seus custos ao contribuinte. Mas ele também ficou parado no Poder Legislativo • 16/1/2021REUTERS/Adriano Machado
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Em 2021, em um cenário que o governo julgou de relevância e urgência, a MP 1.031/2021 foi editada. Na foto, vemos o presidente do Senado Federal, Rodrigo Pacheco, o presidente Jair Bolsonaro, o líder do governo no Congresso, Eduardo Gomes e o ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque, durante declaração após entrega da MP • Marcelo Camargo/Agência Brasil
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A ideia é a seguinte: a Eletrobras é uma empresa de capital misto. Como o governo detém 60% de seus papéis, ela é considerada uma empresa estatal. A MP propõe reduzir a participação da União para menos de 50%, por meio da venda de novas ações no mercado • Alan Santos
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A capitalização da Eletrobras foi aprovada pela Câmara dos Deputados, pelo Senado Federal, e pelo Tribunal de Contas da União (TCU). O processo foi finalizado em junho de 2022, em uma operação que movimentou mais de R$ 30 bilhões • 3/01/2019REUTERS/Pilar Olivares
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Hoje, a Eletrobras é responsável por 1/3 da energia elétrica do Brasil. Ela detém 43% das linhas de transmissão, e cerca de 29% da geração de energia do país –fazendo dela a maior companhia do setor elétrico da América Latina • Reuters
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Eficiência da Eletrobras
Santos avalia que é necessário primeiro as diferentes visões sobre eficiência da Eletrobras. Por um lado, existe a busca do Estado por um tipo de eficiência, e do outro, o ponto de vista empresarial.
“Hoje, a União controla a Eletrobras, e o interesse como proprietário é econômico, a continuidade operacional e lucratividade, mas também uma intervenção política pensando nos interesses sociais, em um setor estratégico como o elétrico, pensando em estratégias da empresa que não necessariamente convergem com a eficiência privada”, diz.
Já após a capitalização, o controle é repassado para a iniciativa privada, assim como a gestão e processos, ou seja, os interesses empresariais passam a ser o foco.
Nesse sentido, Armando Castelar, coordenador da área de Economia Aplicada do FGV IBRE, cita estudos feitos nas décadas de 1990 e 2000 que indicam que, do ponto de vista empresarial, há sim um aumento na eficiência e produtividade.
Para ele, isso está ligado a uma maior liberdade de gestão. “O problema em si não é ser estatal, mas o controle do Estado tem um certo limite na capacidade de gestão, é um dilema entre necessidade de controle, respeitar leis e regras de uma estatal, e a gestão em si”.
“Ao privatizar, os proprietários têm um controle mais flexível”, afirma. O exemplo mais comum nesses casos é a liberdade da empresa não precisar mais seguir as leis de licitações, dando velocidade para projetos.
Castelar cita ainda o estabelecimento de uma gestão mais focada em resultados, encerrando um mandato “ambíguo” nas estatais, em que há um foco empresarial mas também em políticas públicas.
Ele avalia que mesmo a existência do chamado “golden share” na Eletrobras, que permite que o governo federal vete certas medidas mesmo sem ter a maioria das ações, não interfere nessa liberdade.
“Várias empresas têm golden share, Embraer, Vale, mas são usadas em casos mais extremos, não costuma intervir na gestão, é mais coisa de coisa de segurança nacional, e a prática é de não usar”, diz.
Santos afirma que, em seus estudos, encontrou casos com mais e menos sucesso, dependendo da perspectiva. No médio e longo prazo, não foram notadas grandes diferenças em termos de rentabilidade, endividamento e liquidez antes e depois de privatizações no setor elétrico.
Nos primeiros anos pós-privatização, porém, essa diferença é mais nítida, com melhora em alguns indicadores.
“Do ponto de vista da empresa, há sim um benefício em termo de eficiência, muito talvez em consequência da mudança de viés, com uma busca pela eficiência, produtividade, gastar menos para produzir e ganhar mais ou a mesma coisa. É um efeito positivo, mas que não tem se mostrado duradouro ao longo dos anos”, pondera.
Marcelo Fodra, professor da UFU, afirma que a Eletrobras possui particularidades, sendo uma empresa de grande porte que atende diversos mercados.
Por isso, para prever com mais segurança se haverá ganho de eficiência será necessário esperar expectativas e análises do mercado. Entretanto, ele aponta que há sim espaço para a estatal melhorar nesse quesito, mesmo com a sequência de lucros nos últimos quatro anos.
Capacidade de investimentos
Fodra diz que resultados de estudos indicam alguma melhora na eficiência operacional de estatais após a desestatização. Para ele, isso “provavelmente é motivado por questões de melhoria da capacidade de investimentos nessas empresas, que gera impacto financeiro”.
“A questão da redução da capacidade de investimento estatal vem acontecendo há algum tempo”, afirma. Com mais restrições orçamentárias, o governo não consegue fazer todos os investimentos que uma empresa demanda para se manter eficiente e atualizada, o que é negativo.
Já para Castelar, o orçamento do governo não tem muito a ver com uma falta de investimentos, e a rentabilidade da empresa fica comprometida mais por outras prioridades de gastos da empresa que são elencadas pela União, reduzindo a capacidade de investimentos.
Ele ressalta, porém, que o setor elétrico demanda muitos investimentos, e que o risco de racionamento se tornou mais comum no país, indicando a necessidade dos investimentos aumentarem para expandir a capacidade de geração de energia elétrica.
Santos, da UFC, avalia que a abertura de capital “com certeza” trará mais capacidade de investimentos, citando como exemplo o caso da Vale, que também foi privatizada.
“O ente público tem orçamento limitado, diversas áreas prioritárias. Falta governança nas estatais para promover eficiência, um conjunto de instrumentos para garantir que os objetivos sejam atingidos”, diz.
Por que o privado consegue fazer e o público não? Talvez seja a questão do capital, ter recursos de sobra, e a segunda coisa é trabalhar governança e ter interesses convergindo. Dá para ser eficiente em organizações públicas
José Glauber Cavalcante dos Santos, professor da UFC
Efeitos para os consumidores
Castelar, da FGV, diz que, em teoria, o ganho de eficiência leva a uma queda das tarifas de energia, mas não de forma imediata. A ideia é que, ao reduzir os custos operacionais, é possível cobrar valores menores da população.
Mesmo assim, Marcelo Fodra ressalta que é difícil dizer com certeza se essa queda chegaria ao consumidor final, já que a tarifa na conta é composta por outras variáveis além dos custos, e que estão fora do controle das empresas, caso do regime de chuva.
“É difícil mensurar exatamente se reduz e quanto, se fosse só por questão operacional, possivelmente reduziria sim”, afirma.
José Santos lembra que o setor de energia elétrica é regulado pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), que estabelece regulações para corrigir distorções de mercado.
“Em tese, um estímulo à competitividade gera uma redução de preços”, diz. Na prática, porém, a influência do regulador torna o quadro mais complexo. A Aneel possui uma medida, por exemplo, que obriga as empresas a destinar parte do faturamento para pesquisa e desenvolvimento com foco no meio ambiente.
“É um benefício que garante que o setor invista para ficar mais competitivo, mas a obrigatoriedade não leva em consideração a capacidade econômico-financeira”, avalia, o que afeta as margens das empresas.
O professor explica que a Aneel estabelece tarifas levando em conta muitos fatores, e que é preciso considerar elementos que encarecem o valor, como inflação e impostos. Por isso, diz que, a princípio, o consumidor “não deve sentir tanto” os efeitos da privatização no bolso.
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