71% das indústrias registraram alta de matérias-primas acima do esperado, diz CNI
Setor aponta para aceleração nos custos e atraso na entrega dos insumos, impactados com a guerra entre Rússia e Ucrânia
Uma pesquisa feita pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) mostrou que a alta dos preços de insumos atingiu o setor industrial de modo inesperado em março. Segundo o estudo, 71% das empresas da indústria extrativa e de transformação registraram alta acima do esperado de matérias-primas no mês, enquanto o número sobe para 73% no caso de empresas da indústria da construção civil.
A CNI informou que foram ouvidas 1.842 empresas, sendo 744 pequeno porte, 660 médio porte e 438 de grande porte.
O gerente-executivo de economia da CNI, Mário Sérgio Telles, explicou que a pressão sobre os preços coincide com o início da guerra entre Ucrânia e Rússia, que trouxe impactos na cadeia de suprimentos global.
“O conflito e as sanções impostas à Rússia acentuaram o problema das cadeias de suprimentos, gerando gargalos no fornecimento de insumos e energia, além de barreiras ao sistema de logística internacional. Esse fato provoca atrasos e interrupções no fornecimento de insumos, além da excessiva elevação de preços, como temos visto”, afirmou.
A pesquisa aponta que o aumento generalizado dos preços nacionais surpreendeu mais de 80% das empresas de cinco setores, que são relacionadas a produtos de borracha, biocombustíveis, metalurgia, veículos automotores e produtos de limpeza.
“A alta de custos nos insumos importados superou as expectativas de 100% das empresas de biocombustíveis, de 94% das indústrias de produtos de borracha, de 75% do setor de impressão e 73% da indústria química”, destacou o estudo.
A CNI também alertou que as dificuldades e os atrasos nas cadeias de suprimentos começam a gerar uma reconfiguração na produção das indústrias brasileiras.
Segundo eles, 40% da indústria geral (extrativa e de transformação) e 54% da indústria da construção que dependem de insumos importados pretendem mudar a estratégia de aquisição de insumos e matérias-primas e buscar fornecedores no Brasil.
Entre as empresas que já compram no Brasil, 43% da indústria geral (extrativa e de transformação) e 50% da indústria da construção afirmam que já buscam outros fornecedores no país.
Já em relação àquelas que buscam por fornecedores alternativos fora do país correspondem a 18% na indústria extrativa e de transformação e 3% na construção civil.
Por fim, a CNI diz que caiu o percentual de empresas que acreditam em uma normalização na oferta de insumos ainda neste ano
“A proporção de empresas na indústria extrativa e de transformação que preveem normalização da oferta de insumos e matérias-primas, ainda em 2022, foi de 39%. Em outubro de 2021, 80% das indústrias acreditavam na reestruturação das cadeiras produtivas neste ano”, afirmou a pesquisa.
Ao serem questionadas sobre uma eventual normalização em 2023, entre 25% e 36% das empresas disseram que acreditam que isso possa acontecer para produtos nacionais e 31% e 45% para importados.