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Agro vê impacto no acesso ao mercado chinês após nova tarifa na carne

Entidades argumentam que a medida impõe uma reorganização dos fluxos de produção e exportação

Gabriel Garcia, da CNN Brasil
Contêineres no Porto de Santos
Contêineres no Porto de Santos  • 03/04/2025REUTERS/Amanda Perobelli
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Entidades que representam os setores do agronegócio avaliam que a decisão da China de impor tarifas adicionais de 55% sobre a carne bovina, no caso de superação de uma cota de importação, altera as condições de acesso ao mercado do gigante asiático.

Em nota assinada pela CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil) e pela Abiec (Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes), o setor argumenta que a medida impõe uma reorganização dos fluxos de produção e de exportação.

“A Abiec e a CNA entendem que a aplicação das medidas de salvaguarda pela China, no contexto da investigação conduzida sobre as importações de carne bovina, altera as condições de acesso ao seu mercado e impõe uma reorganização dos fluxos de produção e de exportação”, diz a nota.

As organizações afirmam que serão necessários ajustes ao longo de toda a cadeia, da produção à exportação, para evitar impactos mais amplos sobre o setor.

“A Abiec e a CNA seguirão acompanhando a implementação das medidas, atuando diretamente junto ao Governo Brasileiro e às autoridades chinesas para reduzir os
danos que essa sobretaxa causará aos pecuaristas e exportadores brasileiros e para preservar o fluxo comercial historicamente praticado”, concluem.

A Abrafrigo (Associação Brasileira de Frigoríficos) afirmou enxergar a medida com grande “preocupação”. Segundo a entidade, a nova tarifa representa um risco material e imediato ao desempenho das exportações brasileiras.

A decisão do governo chinês foi tomada após associações da indústria de carne bovina da China pressionarem por medidas de salvaguarda imediatas até o fim do ano, com o objetivo de estabilizar as expectativas do mercado e proteger a renda dos produtores locais.

Desde 2023, o setor de pecuária bovina chinês vem acumulando prejuízos por uma combinação de fatores, incluindo o aumento das importações. Esse cenário levou muitos criadores a anteciparem o abate de animais reprodutores como forma de reduzir custos.

No caso do Brasil, as tarifas adicionais só serão aplicadas se as importações chinesas de carne bovina brasileira ultrapassarem a cota de 1,106 milhão de toneladas em 2026.

Estratégia do governo

Ao CNN Money, o ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, afirmou que uma das ideias é o Brasil assumir as cotas de carne bovina de países que não exportem produto à China ou não cumpram o total possibilitado.

"Essa negociação vamos fazer com a própria China. Propor a eles, pela boa relação que temos, que se algum país não for cumprir a sua cota, que transfira ao Brasil, que está pronto para cumprir e garante a chegada de carnes com qualidade, preços competitivos e sem tarifas excedentes", declarou.

"O Brasil está pronto para atender, vamos negociar com a China durante o ano de 2026, além de outros detalhes dessa negociação que são permanentes e constantes", acrescentou o ministro, que citou os Estados Unidos como exemplo de país que não exportou o produto aos chineses.

Fávaro disse que o governo federal tinha conhecimento do anúncio de medidas de salvaguarda aos produtores chineses, devido ao excesso de oferta de carne bovina na China.

O ministro explicou que foi feito um cálculo pelo Ministério do Comércio da China das importações de junho de 2024 até junho de 2021, com o objetivo de avaliar os países que mais exportaram carne bovina neste período e, assim, definir a cota.

"O Brasil ficou com uma cota de 1.106 milhões de toneladas, o que corresponde a 44% do volume a ser importado à China com as tarifas regulares atuais. É mais ou menos o que o Brasil está exportando hoje", afirmou.

Segundo o Fávaro, os impactos da tarifa ao Brasil não são consideráveis.

"De modo geral, não é algo preocupante. O Brasil está relativamente preparado para intempéries comerciais. Vamos começar uma fase de negociação. A implementação disso, de fato, é a partir da data de primeiro de janeiro de 2026, e vamos estar discutindo se o que vale para contar a cota é o que conta a partir de amanhã, ou o que já chega lá... detalhes pequenos", concluiu.

Com informações de Fabrício Julião

 

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