Ano teve muitas empresas estreando na bolsa; relembre os IPOs de maior destaque
Empresas estreantes variam de R$ 300 milhões a R$ 112 bilhões em valor de mercado, e também estão cada vez mais diversas setorialmente
A entrada de novas empresas na bolsa foi uma montanha-russa em 2020. O ano começou com expectativas altas, e o mercado se preparava para uma enxurrada de IPOs. Houve quatro ofertas primárias na B3, bolsa brasileira, até que veio a crise, em março.
No entanto, a rápida atuação de Bancos Centrais ao redor do globo, despejando trilhões na economia, criou uma liquidez muito grande no mercado, melhorando o sentimento dos investidores. Com isso, os IPOs voltaram ao cardápio no segundo semestre.
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Os IPOs do ano no Brasil
A bolsa de São Paulo teve 27 ofertas primárias e 23 ofertas secundárias no ano, levantando mais de R$ 110 bilhões em capital, segundo Gilson Finkelsztain, CEO da B3.
É possível citar casos de sucesso, como a Locaweb, que cresceu mais de 200% no ano, e a Rede D’Or, que entrou na B3 valendo mais de R$ 100 bilhões. E também desistências, como foi o caso da varejista Havan e de várias incorporadoras e construtoras de menor porte.
Também chama atenção a variedade de setores representados nas novas aberturas de capital, com presença de empresas menores. A lista tem desde redes de estacionamentos e hospitais, passando por diversas modalidades de varejo (inclusive de pets) até plataformas de cashback e brechó online.
Na tabela abaixo, disponibilizada pela Economatica, elencamos os IPOs da B3 em 2020 e a valorização de cada papel até o fechamento do pregão de 14 de dezembro.
Os IPOs de maior destaque
Analistas ouvidos pelo CNN Brasil Business selecionaram seus destaques do ano na bolsa brasileira e na americana. Confira a seguir.
Rede D’Or
O grupo de hospitais Rede D’Or São Luiz precificou sua oferta inicial de ações a R$ 57,92 por papel, no maior IPO de uma companhia brasileira desde 2013. A operação avaliou o grupo em R$ 112,5 bilhões, o que o coloca entre as 10 empresas brasileiras com maior valor de mercado listadas na B3.
Pode parecer exagero (as cifras colocam a rede acima de nomes como o Banco do Brasil em termos de valor de mercado), mas os investidores compraram a ideia e os papéis avançaram quase 8% apenas no primeiro pregão da companhia e quase 15% até o dia 14 de dezembro.
“A Rede D’Or tem uma marca, uma grife muito forte”, diz Raphael Bevilacqua, estrategista-chefe da Levante Investimentos. “Ela consegue fazer reajustes de preços e os clientes aceitam pagar. As pessoas contratam até planos específicos para poder utilizar os seus serviços.”
Grupo Mateus
Uma varejista criada há 34 anos por um ex-garimpeiro de Serra Pelada, o Grupo Mateus chegou à B3 quebrando dois recordes. Com arrecadação de R$ 4,63 bilhões, foi o maior IPO de 2020 –até o fenômeno Rede D’Or. Também foi a maior estreia da história da bolsa de uma empresa com origem na região Nordeste.
Para Pedro Mesquita, sócio e head do banco de investimento da XP, este pode ser um caso de referência para os próximos anos. “Há diversas histórias como a do Grupo Mateus espalhadas pelo Brasil. Uma economia gigantesca e pouquíssimo explorada. Esse movimento já começa a acontecer por aqui, mas tem tudo para ganhar mais força”, diz.
Petz
Este foi um grande case de sucesso da bolsa em 2020, vindo de um setor ainda sem players de capital aberto e com captação superior a R$ 3 bilhões. Atualmente, a Petz tem 110 lojas, a maioria delas em São Paulo. O mercado comprou a tese e está de olho no plano de expansão da marca, que deve apostar em outras regiões para avançar.
“Trata-se de um mercado excepcional, que vem apresentando crescimento forte e duradouro, mas ainda pequeno no Brasil. A marca é líder isolada num setor bastante fragmentado e ainda está colocando um pé no digital, com uma boa execução”, diz Bevilacqua, da Levante.
Locaweb
A empresa de tecnologia Locaweb foi uma das primeiras a fazer IPO neste ano. E fez em um momento que muitos acreditaram que era certeiro: os investidores apostavam que 2020 seria o ano das aberturas de capital.
Suas ações até chegaram a cair 58% em março, que foi o epicentro da bagunça nos mercados. Mas o momento ruim durou apenas 20 dias: a companhia já dobrou de valor em comparação com o preço da abertura.
“Locaweb se mostrou resiliente e soube aproveitar o momento de crise, que não só não afetou a empresa como ajudou a expandir seus negócios. Também realizou uma série de aquisições importantes que foram completando o portfólio da empresa”, diz João Freitas, analista da Toro Investimentos.
Méliuz, Enjoei
Empresas menores, que há alguns anos atrás não seriam material de bolsa de valores. Para Mesquita, da XP, isso mostra um amadurecimento do mercado brasileiro. “É um sinal claro de evolução do mercado. Além disso, empresas populares e conhecidas do investidor de varejo tendem a ganhar mais atenção de quem está começando na bolsa.”
Destaques em Wall Street
Airbnb
No primeiro semestre deste ano, com seus negócios dizimados pela pandemia, o Airbnb cortou um quarto de sua força de trabalho. Agora, a empresa está decolando em sua tão esperada estreia em Wall Street, ao mesmo tempo em que a pandemia piora nos Estados Unidos e coloca novamente em dúvida o estado do setor de viagens.
O Airbnb começou a ser negociado no dia 10 de dezembro a US$ 146 por ação, mais do que o dobro do preço do IPO (US$ 68), levando a empresa a ser avaliada em mais de US$ 100 bilhões. “Foi o sexto maior IPO da história no setor de tecnologia”, diz William Alves, estrategista-chefe da Avenue.
“No mercado americano, as pessoas físicas não participam dos IPOs. Então, quando entram nomes populares como esse na bolsa, é natural que os investidores de varejo sejam atraídos para estes papéis.”
DoorDash
O DoorDash está para os Estados Unidos como o iFood está para o Brasil, só que numa escala ainda maior. Com racional parecido com Airbnb, as ações da empresa de entregas estrearam na Nasdaq no dia 9 de dezembro com alta de 86%. (O preço do IPO foi US$ 102 e o fechamento do primeiro dia, US$ 189)
“É o pai do iFood”, diz Alves. “As ações dispararam já na primeira sessão por conta da força dessas empresas de economia de compartilhamento, que intermediam negócios. O setor demonstra níveis de crescimento muito grandes, mesmo que as companhias não gerem caixa num primeiro momento.”
Snowflake
Esse é o clássico caso da pessoa (neste caso, empresa) certa, na hora certa, no lugar certo. A Snowflake, especializada em armazenamento de dados na nuvem, se encaixou perfeitamente no que os investidores procuravam durante o rali do setor de tecnologia. Resultado: cresceu 112% em um dia.
“É o que se chama atualmente em Wall Street de setor sexy. Tem tudo a ver com a nova economia, tudo que tem a ver com nuvem chama atenção”, afirma Alves. “Além disso, Warren Buffett montou posição no papel, o que obviamente atrai diversos outros investidores.”
Lemonade
Se o segmento de nuvem é sexy, dá para dizer que o de seguros é o oposto disso. No entanto, a Lemonade vem apostando no modelo com sucesso, aplicando uma abordagem hipster para a coisa (tem até seguro saúde para pet). Cresceu assustadores 139% no primeiro pregão.
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“É um setor extremamente consolidado nos EUA e na Europa, mas a Lemonade tenta fazer isso com uma abordagem mais disruptiva”, explica William. “A grande ideia é simplificar algo que é considerado chato ou difícil pelas pessoas. Transformar a experiência em algo agradável.”
Schrödinger/CuraVac
Duas empresas de menor porte, voltadas para biotecnologia, e com algo em comum: Bill e Melinda Gates confiaram no potencial dos papéis e investiram. Com este “selo de aprovação”, a primeira cresceu quase 70% em um dia e a segunda saltou quase 250% no seu primeiro pregão.
“A Schrödinger tem um software que modela sistemas para ajudar indústrias farmacêuticas ou empresas correlatas a chegar a drogas específicas, enquanto a segunda desenvolve vacinas”, explica. “Isso mostra um crescimento deste setor de biotecnologia no mercado financeiro.”
Ficou de fora
Era para ser o “o maior IPO da história”, do Ant Group, que estava avaliado em US$ 37 bilhões, mas foi suspenso em cima da hora pelas bolsas de Xangai de Hong Kong.
Os reguladores afirmaram que a companhia pode não atender aos requisitos de listagem e de transparência.
O que esperar para 2021
O CEO da bolsa brasileira diz acreditar que vem mais por aí. “Muita gente pergunta se estamos no fim do ciclo de aberturas de capital, mas eu penso diferente. Ainda temos muitas empresas trabalhando com esse objetivo”, disse. “Tivemos em 2020 companhias que seguiram com o IPO e outras que desistiram, o que também mostra que não há formação de bolha nem excesso de otimismo.”
Pedro Mesquita, sócio e head do banco de investimento da XP, acredita que este caminho deve continuar sendo trilhado em 2021. “Estamos trabalhando com o número de 80 a 100 ofertas em 2021, entre primárias e secundárias, de segmentos variados. O setor de agro, que é muito forte e tem pouca penetração até aqui, é um dos que está no nosso pipeline”, disse.
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