CNN Brasil Money

Argentina tem ousada estabilização econômica com disciplina fiscal, diz IIF

Estudo destaca disciplina, normalização do câmbio e retomada nos setores produtivos como motores da economia do país

João Nakamura, da CNN, em São Paulo
Casa Rosada, sede do governo da Argentina
IFF ressalta, porém, que ainda são necessários alguns passos para consolidar reforma  • Photo by Benjamin Rascoe on Unsplash
Compartilhar matéria

A Argentina é destaque ao representar um processo de estabilização "mais ousado" entre os países emergentes, baseando a recuperação na disciplina fiscal, aponta relatório do IIF (Instituto Internacional de Finanças) publicado nesta terça-feira (8).

Desde que assumiu o poder em dezembro de 2023, o presidente Javier Milei promove uma agenda de cortes de gastos extensos a fim de estabilizar a hiperinflação e o cenário macroeconômico do país.

A nota de pesquisa ressalta que, enquanto os gastos públicos tiveram uma queda real de cerca de 30%, a inflação acumulada em 12 meses caiu de um pico de 270% em julho de 2024 a pouco mais de 40% em maio.

Apesar de o câmbio ainda ser limitado para as empresas, o IFF destaca o fim do cepo cambial, que restringia o acesso dos cidadãos a dólares norte-americanos.

"O conjunto de políticas é coerente e focado, evitando promessas excessivas e priorizando a execução consistente. [...] A eliminação de impostos e barreiras burocráticas — aliada a uma taxa de câmbio flutuante — está permitindo que as empresas planejem uma expansão de longo prazo", escreveu o economista-chefe do Instituto, Marcello Estevão.

Ao se aproximar de quem move a economia do país, o IFF notou que a economia real da Argentina mostra sinais de recuperação, particularmente nos setores exportadores.

Representantes dos setores agrícola, mineração e energia apontaram melhorias nas condições de investimento — permitindo o planejamento no longo prazo —, impulsionadas pela estabilização macroeconômica, desregulamentação — sobretudo no que tange eliminação de impostos e barreiras burocráticas —, uma taxa de câmbio flutuante e um ambiente político mais previsível.

Enquanto isso, o crédito ao setor privado, que anteriormente era de 4% do PIB (Produto Interno Bruto), está se aproximando de 10%.

"Os bancos começaram a se afastar dos títulos públicos e a focar no crédito privado, impulsionados em parte por uma demanda renovada por hipotecas. Embora a penetração hipotecária ainda esteja muito abaixo dos pares regionais, o mercado de crédito de longo prazo começa a se recuperar", relata Estevão.

Nesse cenário, "o sentimento dos investidores mudou para uma direção mais positiva", pontua o IIF. Porém, o relatório afirma que esse otimismo ainda é freado por uma cautela.

Apesar de o governo demonstrar compromisso com as reformas, investidores globais permanecem cautelosos, pondera o documento.

"As reservas externas são limitadas, o sistema financeiro ainda é pequeno, e o histórico de instabilidade da Argentina pesa sobre as expectativas", elenca o relatório.

"O acesso do governo aos mercados de capitais segue restrito, mas sinais de normalização começam a surgir. Diversas empresas conseguiram emitir no exterior, e os spreads soberanos diminuíram. O apoio de instituições multilaterais desempenha um papel crítico, mas a acumulação de reservas e a credibilidade das políticas são fundamentais para mitigar a volatilidade", pondera.

Dentre os caminhos que o IIF sinaliza para consolidação da reforma na Argentina, destaca que:

  • O setor financeiro enfatiza a necessidade de se desenvolver um mercado de securitização para expandir o financiamento habitacional e ajudar a reduzir o déficit habitacional;
  • Liberar todo o potencial dos setores exportadores do país exigirá novos investimentos em infraestrutura, especialmente em dutos, portos e transporte;
  • A agenda de reformas ainda é vulnerável à incerteza política, embora se espere um bom desempenho do governo nas eleições de meio de mandato;
  • Reformas trabalhistas e tributárias são essenciais para aumentar a produtividade e atrair investimentos;
  • Institucionalizar a disciplina fiscal por meio de mecanismos legais ou constitucionais foi uma sugestão recorrente para garantir sustentabilidade de longo prazo.

"No geral, a Argentina superou as expectativas na fase inicial de sua reviravolta econômica. Alcançar uma consolidação fiscal antecipada, domar a inflação e simplificar o regime cambial em poucos meses é uma conquista notável", pontua o relatório.

"Mas sustentar esse progresso exigirá aprofundamento das reformas, apoio institucional e mobilização de investimentos privados. Hoje, a Argentina oferece aos investidores uma rara combinação de promessa e incerteza. Os próximos meses serão decisivos para mostrar se esta estabilização representa uma ruptura duradoura com o passado — ou apenas mais um capítulo em sua história cíclica", conclui.

Acompanhe Economia nas Redes Sociais