Capital Insights: Fiscal desarranjado é grande fraqueza do país, diz ex-BC
Economista afirmou que relação entre dívida pública e PIB pode atingir 80% no Brasil já neste ano
Economista-chefe para América Latina do BNP Paribas e ex-diretora do Banco Central, Fernanda Guardado, avalia que o cenário fiscal desarranjado é a grande fraqueza no arcabouço macroeconômico do país.
"O temor do mercado é que não haja plano fiscal para depois de 2027. A curva de juros real a 7% chama atenção e mostra o temor com o fiscal", disse ao Capital Insights.
Parceria entre o CNN Money e a Broadcast, o programa entrevista semanalmente referências do mercado financeiro para discutir o cenário econômico do Brasil e do mundo. O Capital Insights vai ao ar toda quinta, às 19h, no CNN Money.
A economista afirmou que a relação entre a dívida pública e o PIB (Produto Interno Bruto), indicador da saúde das contas públicas, pode atingir 80% no Brasil já neste ano.
Em relação a um projeto de resolução do Senado que limita o endividamento da União, a ex-BC diz não ter simpatia. "É de difícil execução", comenta Guardado.
Para Guardado, uma eventual redução do juro básico da economia para baixar a dívida do país não resolveria o problema fiscal. "O governo tem que gerar superávit", defendeu.
Já o Banco Central tem como mandato manter inflação na meta, lembra. A comunicação do BC tem sido consistente, no sentido de compromisso com a meta de inflação, de 3%, considera.
Na ata da última reunião, "tenta combater a percepção de que o BC tem pressa para cortar juros". A manutenção da projeção de inflação da autoridade monetária em 3,4% no primeiro trimestre de 2027 (horizonte relevante) indica desconforto embora as expectativas de inflação caminhem na direção correta.
"O BC está falando calma, serviços ainda são um problema, ainda está alto, eu tenho que ter cautela e manter a vigilância", destaca.
"Quando mantém esses 3,4%, mesmo embutindo os cortes de juros a partir de janeiro na Focus, que é o caso do cenário base do BC, está dizendo que mesmo com as hipóteses benignas de hiato do produto e de juro neutro, com 15% parado até janeiro, não chega à meta. Então, talvez tenha que ser um pouco além de janeiro", afirma, ao falar sobre a perspectiva de redução da Selic.
Guardado diz que o ruído entre Brasil e Estados Unidos aumentou a incerteza do mercado. "Ainda que os efeitos do tarifaço não sejam grandes, a negociação é necessária", conclui.