CNI: Indústria quer crédito para sustentabilidade, mas regulação é entrave
Presidente da SB COP30 defende tratar financiamento climático como oportunidade de investimento para atrair o setor privado

A maior parte dos industriais brasileiros almeja acessar financiamento para ações sustentáveis, segundo levantamento feito pela Nexus a pedido da CNI (Confederação Nacional da Indústria) e divulgado nesta quarta-feira (13).
Dos entrevistados, 22% responderam "sim, com certeza" sobre o interesse por uma linha crédito para investir em ações sustentáveis na sua indústria, enquanto 44% disseram "sim, provavelmente".
Contudo, o ambiente regulatório é visto como um entrave para o avanço da agenda sustentável. Quando questionados se as políticas públicas brasileiras têm favorecido ou dificultado os investimentos da indústria em sustentabilidade e transição para uma economia de baixo carbono, 31% responderam que têm dificultado e 12% que têm dificultado muito. Enquanto isso, 1% falam em muito favorecimento e 11% que tem favorecido.
A pesquisa encomendada pela CNI visa orientar os esforços da entidade voltados à COP30, Cúpula do Clima da ONU (Organização das Nações Unidas) que, neste ano, em novembro, será sediada em Belém, capital do Pará.
A Confederação lidera o SB COP30 (Sustainable Business COP30), aliança global do setor privado formada por empresas, instituições e parceiros de todo o mundo para coordenar as discussões sobre a agenda verde.
A pesquisa apurou que 75% dos industriais veem a COP30 como uma oportunidade de o setor fortalecer sua imagem, além de 77% que apontam está como uma chance de o país aumentar suas exportações.
Porém, entre os principais obstáculos apurados à agenda de transição ecológica, a pesquisa indica custo elevado de tecnologias sustentáveis (38%), falta de incentivos ou políticas públicas específicas (36%) e complexidade regulatória e burocrática (29%), além da falta de financiamento ou crédito direcionado (18%).
O financiamento climático foi uma das principais pautas discutidas na última COP, realizada em Baku, Azerbaijão. A discussão passada acabou, contudo, longe dos resultados esperados.
Em um balanço global, a CNI ainda apurou que há divergências sobre as percepções em torno de como a transição ecológica será paga.
Enquanto países desenvolvidos, países menos desenvolvidos e pequenos Estados insulares exigiram maior destaque às recomendações de mitigação, com menção explícita ao distanciamento dos combustíveis fósseis; países em desenvolvimento argumentaram que o diálogo deveria se concentrar nos meios de implementação, com foco em financiamento por parte das nações mais ricas.
Questionado sobre o assunto, Ricardo Mussa, presidente da SB COP30, ponderou que o Brasil tem dificuldade de atrair o financiamento por conta do risco cambial enfrentado pelo país e as "jabuticabas" da realidade brasileira que são difíceis de explicar no exterior.
Para fazer a pauta avançar entre empresas, Mussa apontou que é necessário tratar o financiamento climático mais como uma oportunidade de negócio do que como uma questão de filantropia.
Com os interlocutores do setor privado no exterior, o empresário relata que "fugiu da conversa de que os desenvolvidos têm que pagar a conta, e focamos que o financiamento climático precisa ter um retorno. Tratar mais como oportundiade de investimento para o setor privado ir adiante".
Mussa defende que a COP30 é um momento de apresentar na prática como as soluções discutidas vão funcionar, tirá-las da teoria, do papel.