Debênture da Americanas é negociada com 94% de desconto e juros de até 109%

Preços oferecidos pela venda dos papéis de dívida da companhia despencaram após anúncio de recuperação judicial nesta quinta-feira (19)

Juliana Elias, da CNN, em São Paulo
Compartilhar matéria

Investidores que têm debêntures da Americanas, que são títulos de dívida da empresa negociados no mercado financeiro, estão tentando vender seus papéis a qualquer preço, enquanto dificilmente têm achado compradores para eles.

A situação ficou mais sensível nesta quinta-feira (19), depois que a varejista confirmou as expectativas e abriu oficialmente um pedido de recuperação judicial, para a reestruturação de uma dívida total informada em R$ 43 bilhões.

Debêntures da empresa que foram emitidas em 2020, por exemplo, oferecendo à época como remuneração a variação do IPCA mais juros de 7,4% ao ano, estavam sendo ofertadas nesta tarde no mercado secundário com juros de até 109% além do IPCA, disse à CNN o analista de renda fixa da corretora Genial Investimentos Rafael Siqueira.

O preço do título, por sua vez, que era de R$ 1.000 na emissão, em 2020, era negociado nesta manhã ao valor de R$ 280.

Se considerado que o papel valeria hoje, formalmente, R$ 1.232 - que é o quanto o dono do título teria direito a receber por ele caso fosse pago agora com o adicional dos juros -  o desconto que estava sendo oferecido é de mais de 80%.

A tarde, após a notícia da recuperação judicial, já havia negociações por R$ 100 e até R$ 68 pelo mesmo título, contou Siqueira. O desconto em relação ao valor de referência, neste caso, chegou aos 94,4%.

Os valores se referem às debêntures emitidas pela Americanas em 15 de setembro de 2020, com vencimento em 15 de outubro de 2030. Elas são negociadas na B3 com a sigla LAMEA6

Com acontece com as ações de uma empresa, o mercado secundário das debêntures é onde investidores que já possuem um título de dívida de uma companhia podem negociar e revender seus papéis diretamente para outros investidores.

Os juros oferecidos e o valor do papel, nesse caso, variam conforme a oferta e a demanda, também como ocorrem com as cotações das ações.

Quanto menor o interesse por um determinado título - ou seja, quando há mais pessoas querendo vender do que comprar -, mais altos ficam seus juros, e isso faz com que o desconto sobre seu preço original fique maior.

"Com o caso atual da empresa e, agora, com a recuperação judicial, tudo indica que ela tende ir ao default, que sua dívida não será honrada. Com isso, a taxa dos papéis dela, hoje, disparam, e o valor caiu muito", disse Siqueira.

"Estão oferecendo valores baixíssimos. O investidor viu que aqueles R$ 1.232 que tinha viraram pó; se receber alguma coisa vai demorar muito, então ele só quer qualquer coisa de volta."

De acordo com o analista, já vinha havendo um rali de vendas das debêntures da Americanas nos últimos dias, desde que desabou a notícia, na semana passada, de que a companhia teria um rombo bilionário não computado em seu balanço.

Mas, diferentemente do que aconteceu com as ações da Americanas - que  despencaram 80% logo no primeiro pregão após a notícia -, o processo de desvalorização das debêntures foi mais lento, por conta das particularidades de cada mercado.

"Foi com a recuperação judicial que o pessoal entendeu que deve ser um caso de default e precificou que não tem mais volta", disse o analista da Genial.

De acordo com Siqueira, antes da crise deflagrada, esses títulos eram negociados no mercado secundário com remuneração de IPCA + 8%, em um pequeno ágio sobre os juros iniciais, de IPCA + 7,4%.

Em 12 de janeiro, primeiro dia de negociações após o estouro da notícia, esses juros adicionais subiram para a casa dos 20%, na quarta-feira estavam em torno dos 45%, até que, nesta quinta-feira, passaram dos 100% ao ano.

As debêntures são um pedaço de dívida vendido pelas empresas no mercado de capitais, na forma de títulos de renda fixa e com uma remuneração em juros, e são uma maneira delas levantarem recursos para se financiar e investir.

Em um caso de recuperação judicial, como o da Americanas, as pessoas e fundos que investiram em suas debêntures são também credores da empresa, o que significa que dependerão do que for negociado no processo de recuperação para saber o quanto conseguirão receber de volta do valor que emprestaram.

Acompanhe Economia nas Redes Sociais