Desaceleração econômica aumenta desigualdade e prejudica carreiras de mulheres, diz LinkedIn
Segundo a plataforma, Brasil poderia levar até 60 anos para atingir níveis adequados de equidade de gênero
Um estudo exclusivo do LinkedIn aponta que a desaceleração econômica deve contribuir para maior disparidade profissional entre homens e mulheres no Brasil e no mundo.
Segundo o relatório Global Gender Gap 2023, do Fórum Econômico Mundial (FEM), somente no primeiro trimestre de 2023, o número de profissionais femininas em cargos de liderança caiu para 32% a nível mundial.
O percentual é equivalente ao de 2020, durante a pandemia da Covid-19.
De acordo com Ana Plihal, executiva de soluções de talentos do LinkedIn no Brasil, o cenário de incerteza econômica tende a prejudicar muito as carreiras de mulheres.
“Durante a pandemia, por exemplo, uma das pressões que as mulheres sofreram foi a necessidade de acomodar tarefas domésticas com o trabalho. Com isso, muitas mulheres acabaram abrindo mão de suas carreiras”, afirma.
O levantamento mostrou ainda que o número de contratação de homens e mulheres vinha crescendo cerca de 1% ao ano em todo o mundo desde 2015.
No entanto, devido à desaceleração econômica, as mudanças no mercado de trabalho passaram a ser percebidas.
“Quando você tem um momento de insegurança, tende a voltar para o modelo de trabalho que você conhecia antes”, afirma.
Apesar disso, a pesquisa revelou que o Brasil está em seu melhor momento em termos de equidade de gênero no ambiente de trabalho, ocupando a posição 57ª no ranking mundial, melhor nível desde 2006.
Ao comparar os resultados da Global Gender Gap Report de 2022 e 2023, é possível observar que 7 dos 21 países participantes da América Latina e Caribe, inclusive Brasil, melhoraram suas pontuações de equidade de gênero no ambiente profissional.
No entanto, segundo Plihal, se o ritmo atual for mantido, a região deve levar 53 anos para atingir níveis adequados de equidade de gênero.
“É uma previsão alarmante para um problema tão atual”, afirma.
Se considerarmos somente o Brasil, esse número poderia chegar a 60 anos.
“O modelo de pesquisa que eu conheço estimava uma redução para menos de 50 anos para nosso país um pouco antes da pandemia, ou seja, a gente retrocedeu”, explica a executiva.
Apesar do Brasil ter tido progresso em relação à equidade de gênero, os países da América Latina permanecem atrás de regiões como a Europa e América do Norte.
“A minha expectativa é que a gente volte a acelerar e recupere muito mais rápido esses números”, diz Plihal.
Recrutamento mais justo
Uma das formas de corrigir esse déficit estaria relacionada à comunicação dos recrutadores.
Segundo o relatório, a seleção deve se tornar mais “justa”, com foco no aumento da representação de mulheres em cargos de liderança, especialmente em setores de alto crescimento.
“Dependendo da forma que uma posição é apresentada e de como é nomeada, isso impede que as mulheres se apliquem”, explica Plihal.
“A área de vendas, por exemplo, é uma área na qual tradicionalmente as mulheres não se encontram, especialmente quando se descreve na busca um perfil agressivo e de imposição”, afirma.
No entanto, segundo a especialista, ao divulgar a mesma oportunidade citando habilidades como organização, estratégia e relacionamento com clientes, a chance de uma mulher se candidatar aumenta exponencialmente.
A executiva do LinkedIn explica ainda que as mulheres tendem a ser extremamente mais rigorosas do que os homens para escolher uma posição e, por isso, se aplicam menos às vagas.
“Uma mulher tende a querer atender 100% dos requisitos para se aplicar a uma oportunidade, enquanto um homem precisa apenas de 60%”, diz.
Para o Global Gender Gap Report, é necessária uma mudança sistêmica para tornar os locais de trabalho mais justos, igualitários e abertos a receberem mulheres, tanto em cargos de entrada quanto de liderança.
Mulheres na ciência e tecnologia
Segundo o LinkedIn, o percentual de profissionais femininas que desenvolveram habilidades relacionadas à ciência e tecnologia aumentou entre 2015 e 2023 a nível global.
Entre todos os usuários da plataforma que listaram qualidades técnicas importantes para o setor em 2023, 26% são mulheres, contra 21% em 2015.
Apesar disso, os homens ainda formam maioria no setor.
O levantamento mostra também que a representação feminina em áreas relacionadas à Ciência, Tecnologia, Engenharia e Matemática tende a cair 21% entre a conclusão da graduação e a entrada das mulheres no mercado de trabalho.
“Durante a faculdade, a mulher entende que tudo só depende dela. Porém, na hora que ela tem que se transformar num produto e se vender, elas tendem a criar essa percepção de que ‘o mundo não é para mim’ e acabam desviando suas carreiras”, afirma Plihal.
A especialista define esse movimento como um “viés inconsciente”.
“É muito real, no sentido de que a gente se questiona historicamente sobre ‘onde eu posso ir’ e ‘onde eu não posso ir’. Isso se reflete também no mercado de trabalho”, explica.
Para a executiva do LinkedIn, o movimento de inclusão de mulheres no mercado deve partir de várias frentes.
“A gente está falando de um histórico de muitos anos que precisa ser repensado”, afirma.
“A forma com que se posta uma posição de trabalho buscando diversidade, mas que ao mesmo tempo se busca competência e não gênero, faz com que as oportunidades sejam acolhedoras a todos, e a evolução também se dá da mesma maneira”, conclui.