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Empresa canadense pode refinar terras raras de Minas Gerais nos EUA

Acordo prevê, no entanto, testes que podem levar à instalação, no Brasil, da tecnologia americana usada no refino de terras raras, em uma etapa de transferência tecnológica

Gabriel Garcia, da CNN Brasil, Brasília
Amostras de terras raras: Óxido de cério, Bastnasita, óxido de neodímio e carbonato de lantânio
Amostras de terras raras: Óxido de cério, Bastnasita, óxido de neodímio e carbonato de lantânio  • .REUTERS/David Becker
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A empresa canadense Resouro Strategic Minerals, dona de um projeto rico em titânio e terras raras em Minas Gerais, assinou um memorando de entendimento com a americana Rare Earth Technologies para testar o refino do minério brasileiro em Cincinnati, nos Estados Unidos.

O acordo foi divulgado pela empresa canadense, listada em bolsas nos Estados Unidos, Frankfurt e Austrália, nesta quinta-feira (13).

A proposta das empresas é unir suas competências — a Resouro na extração e a RETI na tecnologia de refino e separação química — para criar uma cadeia produtiva integrada de terras raras, reduzindo custos e ampliando a competitividade do projeto.

A extração das terras raras em si, embora poluente, não é a etapa mais complexa do processo.

O grande desafio está no refino: a separação dos elementos químicos presentes no minério, etapa que demanda tecnologia sofisticada, alto investimento e mão de obra especializada.

É esse processo que transforma o minério bruto em produtos de alto valor agregado, usados em imãs permanentes, semicondutores, turbinas e equipamentos de defesa.

A China domina mais de 90% do processamento global de terras raras. Diante disso, os Estados Unidos têm buscado reduzir a dependência chinesa e estimular empresas domésticas e parceiras a desenvolver alternativas de refino.

O memorando assinado entre Resouro e Rare Earth ainda é não vinculante e prevê três fases de testes até uma decisão final sobre refino conjunto.

Na primeira fase, a Resouro enviará amostras de minério de alto teor do projeto Tiros para a empresa americana, que aplicará sua tecnologia de extração e separação.

Os testes serão pagos integralmente pela companhia americana, enquanto a Resouro custeará apenas o envio das amostras. O objetivo é simplesmente verificar se a tecnologia é compatível com o minério de Minas Gerais.

Se essa etapa inicial for bem-sucedida, inicia-se a segunda fase, na qual os dados poderão ser incorporados ao estudo de pré-viabilidade do projeto pela Resouro.

Nesse momento, as empresas podem assinar um memorando definitivo que estabeleça todos os termos da parceria, incluindo a possibilidade de desenvolver uma instalação de separação primeiro nos Estados Unidos e, posteriormente, no parque de minerais críticos que a Resouro planeja construir em Campos Altos (MG).

Caso todas as etapas avancem, a parceria também abre espaço para uma transferência tecnológica gradual, beneficiando o Brasil.

A terceira fase prevê a criação de uma joint venture entre as duas empresas para construir uma planta completa de processamento, caso a tecnologia se mostre viável.

A unidade, preferencialmente instalada em Campos Altos, produziria óxidos de terras raras de alta pureza destinados ao mercado internacional, transformando o projeto Tiros em um potencial fornecedor global de minerais críticos refinados.

Se a terceira fase for adiante, com a construção de uma planta conjunta de separação em Minas Gerais, a tecnologia de refino — hoje concentrada nos Estados Unidos — precisará ser instalada, operada e dominada no Brasil, o que, na prática, representa a internalização do conhecimento e uma transferência industrial de tecnologia para o país.

O Projeto Tiros, localizado no noroeste de Minas Gerais, é hoje uma das maiores descobertas de terras raras em superfície no Brasil.

Com 28 concessões minerais que somam quase 500 km², o depósito apresenta características consideradas raras no setor: homogeneidade, grande extensão lateral e teores elevados tanto de terras raras quanto de dióxido de titânio.

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