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EUA retoma guerra comercial contra a China após subir taxas a 130%; entenda

Depois de meses de trégua entre os países, Trump anuncia novas tarifas a partir de 1° de novembro e volta a escalar tensões com Pequim

Elisabeth Buchwald, da CNN
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O presidente Donald Trump anunciou que vai impor uma tarifa adicional de 100% sobre produtos da China, além das tarifas de 30% já em vigor, a partir de 1º de novembro ou antes. A ameaça representa uma enorme escalada após meses de trégua comercial entre os dois países.

“Os Estados Unidos da América imporão uma tarifa de 100% à China, além de qualquer tarifa que eles estejam pagando atualmente”, disse Trump em uma publicação no Truth Social na tarde de sexta-feira (10). “Também em 1º de novembro, imporemos controles de exportação sobre todo e qualquer software crítico.”

O anúncio de Trump está vinculado ao aumento dos controles de exportação de terras raras por Pequim, essenciais para a produção de diversos eletrônicos. Como resultado, Trump aparentemente cancelou uma reunião com o presidente chinês, Xi Jinping, agendada para o final deste mês na Coreia do Sul.

A mensagem inicial de Trump na sexta, transmitida por meio de uma publicação no Truth Social, na qual ameaçava novas tarifas "massivas", foi mal recebida pelos investidores, em meio aos temores de um déjà vu na primavera, quando as tarifas sobre produtos chineses atingiram impressionantes 145%.

Os mercados fecharam em forte queda após os comentários iniciais, com o Dow Jones caindo 878 pontos, ou 1,9%. O S&P 500 caiu 2,7%, e o Nasdaq, com forte presença de empresas de tecnologia, despencou 3,5%.

Embora Trump nem sempre cumpra suas ameaças, investidores, consumidores e empresas ainda têm motivos para se preocupar.

As duas maiores economias dependem uma da outra

Os Estados Unidos e a China são as duas maiores economias do mundo. Embora o México tenha recentemente substituído a China como principal fonte de produtos estrangeiros enviados aos Estados Unidos, os norte-americanos dependem dos chineses para centenas de bilhões de dólares em mercadorias.

A China, por sua vez, é um dos principais mercados de exportação dos EUA.

Em particular, eletrônicos, vestuário e móveis estão entre os principais produtos que os Estados Unidos recebem da China.

Trump pressionou CEOs, especialmente na área de tecnologia, a transferir a produção para os Estados Unidos, mas suavizou sua abordagem nos últimos meses, à medida que líderes empresariais satisfizeram o presidente com anúncios de centenas de bilhões de dólares em investimentos na indústria manufatureira americana — mesmo que continuem a fabricar a maior parte de seus produtos no exterior.

Pouco depois de impor tarifas mínimas de 145% sobre produtos chineses — um embargo comercial efetivo —, Trump concedeu uma isenção para eletrônicos , tornando-os sujeitos a tarifas de 20%.

A medida foi, em muitos aspectos, um reconhecimento de que o governo compreendia o sofrimento que estava causando à economia americana com suas tarifas altíssimas.

Então, em maio, autoridades americanas e chinesas consolidaram ainda mais a interdependência comercial ao concordarem em reduzir tarifas entre si. A China reduziu as taxas sobre as exportações americanas de 125% para 10%, e os Estados Unidos reduziram as taxas de 145% para 30%.

Como resultado, os mercados de ações de ambos os países se recuperaram.

Era só questão de tempo

Na sexta-feira, Trump afirmou que a hostilidade comercial da China "surgiu do nada". Mas, na realidade, ela vem surgindo há meses.

Para os Estados Unidos, uma parte crucial dos acordos comerciais tem sido garantir que Pequim aumente seu fornecimento de ímãs de terras raras. No entanto, apesar de vários avanços aparentes, Trump tem repetidamente acusado chineses de violar os termos nos últimos meses.

O republicano reagiu inicialmente impondo restrições às vendas de tecnologias americanas para a China, incluindo um importante chip de IA da Nvidia. Muitas dessas restrições foram posteriormente suspensas.

Depois, veio o anúncio do governo Trump de que em breve iria impor taxas sobre mercadorias transportadas em navios de propriedade ou operados por chineses. A China reagiu com um plano semelhante para navios americanos, que entrou em vigor nesta sexta.

Resumindo: Trump já demonstrou que não há limites para as tarifas que ele pode impor à China, e Xi não demonstrou misericórdia na forma como escolhe retaliar.

Mas a capacidade de Trump de continuar a impor tarifas por capricho pode acabar em breve, dependendo do veredito de um caso histórico que será aberto na Suprema Corte no mês que vem. Xi, no entanto, não enfrenta tais restrições.

Tradução revisada por André Vasconcelos*

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