Governo aposta em prorrogação da salvaguarda chinesa e vê alívio para carne
Investigação foi aberta em dezembro de 2024 pelo MOFCOM (Ministério do Comércio da China) para avaliar se o aumento das importações de carne bovina desde 2019 causou prejuízo à indústria local

O governo brasileiro acredita que a China deve adiar mais uma vez a decisão sobre a salvaguarda da carne bovina importada, abrindo uma nova janela de tempo até abril de 2026.
A avaliação é de que Pequim busca ganhar tempo para equilibrar o abastecimento interno e calibrar a pressão sobre os grandes exportadores do Mercosul, sem gerar impacto político no consumo doméstico.
A investigação foi aberta em dezembro de 2024 pelo MOFCOM (Ministério do Comércio da China) para avaliar se o aumento das importações de carne bovina desde 2019 causou prejuízo à indústria local.
O prazo atual de análise vai até 26 de novembro, mas há expectativa de um novo adiamento — movimento que, segundo interlocutores brasileiros, evitaria ruído no mercado e daria fôlego às exportações.
A medida que a data para publicar a decisão se aproxima, o governo chinês também se prepara. Nesta terça-feira (4), representantes do Brasil, Argentina e Uruguai participaram de uma reunião em Pequim convocada pelos chineses.
O encontro serviu para que os três países apresentassem argumentos técnicos e comerciais sobre a importância da oferta sul-americana para o equilíbrio do mercado interno chinês.
A possibilidade de prorrogação é vista em Brasília e por exportadores como um alívio imediato. A China responde hoje por cerca de 40% das exportações de carne bovina brasileira, e uma eventual aplicação de cotas ou sobretaxas poderia travar embarques e pressionar os preços domésticos.
No entanto, apesar da possível trégua temporária, o ambiente segue de tensão comercial. Exportadores brasileiros relatam queda de braço nas negociações de preço: os chineses têm pedido descontos de até US$ 200 por tonelada em relação aos valores praticados há dois meses.
Do lado brasileiro, a leitura é de que a demanda tende a se reaquecer nas próximas semanas, à medida que os estoques chineses diminuem e o país precisa recompor as compras para o início de 2026.
A expectativa dentro do governo é de que o adiamento funcione como uma pausa técnica, permitindo que as autoridades chinesas reavaliem volumes, preços e impacto interno antes de decidir sobre a imposição ou não de salvaguardas.
O Brasil, por sua vez, pretende usar o período para reforçar rastreabilidade, sanidade e previsibilidade logística, consolidando a imagem de fornecedor estratégico e confiável.
A jornalista viajou a convite da Abiec (Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne).


