Inflação traz dado positivo e pavimenta queda de juro, dizem analistas
IPCA subiu 0,18% em novembro e retornou ao teto da meta nos 12 meses, informou o IBGE nesta quarta-feira (10), mesmo dia de decisão do Copom

O dado da inflação brasileira – que teve alta de 0,18% em novembro e retornou ao teto da meta nos 12 meses – foi considerado positivo e pavimenta mais o caminho para uma queda na taxa de juros no início do próximo ano, segundo economistas.
O IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) acelerou a 0,18% em novembro, após alta de 0,09% no mês anterior, informou o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) nesta quarta-feira (10).
Nos últimos 12 meses, o índice ficou em 4,46%, de volta à tolerância da meta oficial do BC (Banco Central), que é de 3% com limite de 4,5%.
Dados do IPCA foram divulgados no mesmo dia que o BC anuncia sua última decisão de política monetária do ano, com ampla expectativa de manutenção da taxa básica de juros em 15%.
Em entrevista ao CNN Money, Carla Argenta, economista-chefe da CM Capital Markets, disse que os dados da inflação mostram um cenário melhor e não devem modificar a política monetária do Banco Central no curto prazo.
Segundo a economista, os resultados positivos do IPCA “pavimentam mais o caminho para uma queda nos juros em breve”.
O retorno da inflação para dentro do teto da meta oficial é muito positivo e mostra que a política monetária tem surgido efeito sobre a economia, sendo que as condições atuais possibilitam a queda imediata da Selic, explica.
André Braz, coordenador de Índices de Preços na FGV (Fundação Getúlio Vargas), considera também o retorno do IPCA para dentro do teto da meta um marco importante. Segundo ele, resultado foi puxado pela queda no preço dos alimentos, além da valorização do real frente ao dólar.
Para 2026, por outro lado, um fator de preocupação do Copom é consumo das famílias, devido à aprovação do projeto de isenção do IR (Imposto de Renda), o que deve manter a atitude conservadora do Banco Central, explica Argenta.
IPCA de novembro não muda cenário de corte de juros
Segundo Alexandre Espírito Santo, economista-chefe da Way Investimentos e coordenador de Economia da ESPM, o resultado desta quarta-feira também não deve mudar o cenário já esperado quanto ao corte de juros.
A casa de investimentos vê um início do corte de juros em janeiro de 2026 e acredita que o dado pode, inclusive, sugerir que o “processo está para ser iniciado.”
“Independente do número ter sido bom, estamos a bastante tempo com o cenário de que o BC comece a redução da Selic em janeiro, não mudamos isso com o dado de hoje.”
Também segundo o economista da XP, Alexandre Maluf, apesar da boa leitura do IPCA, o resultado não deve mudar a precificação para Copom de forma abrupta.
A expectativa da XP segue de que o Banco Central inicie o ciclo de corte de juros em março de 2026.
“Conservadorismo” do BC em 2026
Por outro lado, para o economista da Way Investimentos, o movimento de afrouxamento monetário pelo Banco Central no próximo ano deve ser lento e precisa do apoio do governo referente ao cenário fiscal.
“Não podemos desconsiderar essa vitória, ela [inflação] voltou para dentro da meta. Esse trabalho poderia ter sido facilitado se o governo fizesse trabalho no fiscal”, explicou.
Para a Way Investimentos, a expectativa é que a Selic fique entre 12% e 12,5% no próximo ano.
Além disso, a economista Agenta, vê uma permanência do “conservadorismo” do Banco Central em 2026.
“O Banco Central tende a manter o seu conservadorismo por conta de outros movimentos que estão em gestação e que podem provocar alguns impactos indesejados sobre essa inflação futura e sobre as expectativas inflacionais.”, explica.
Alta nas passagens aéreas é sazonal, mas serviços preocupa
Em novembro, a passagem aérea foi o principal fator que puxou para cima o IPCA, com alta de 11,9%. Isso ajudou a inflação de serviços – ponto de atenção do BC em meio à resiliência do mercado de trabalho e à renda elevada – a acelerar para 0,60%, de 0,41% em outubro.
Economistas, porém, explicam, que o aumento nos preços das passagens aéreas é comum nos últimos meses do ano. Segundo Agenta, resultado não preocupa no curto e médio prazo.
“A queda das passagens aéreas, que se estendia por um tempo muito longo e transbordava para hotéis e pacotes turísticos, sofreram uma devolução desse movimento de queda intensa.”, explicou Agenta.
Para André Braz, coordenador de Índices de Preços na FGV (Fundação Getúlio Vargas), as passagens do setor aéreo também são uma questão sazonal, ainda que um componente importante para ser analisado.
Segundo o especialista, o resultado do IPCA em novembro não mostrou uma grande mudança em relação ao que o mercado acompanhava.
Referente às expectativas, ele prevê que em dezembro de 2025, o IPCA fique em 0,2% e, nos 12 meses, feche o ano em 4,13%.
Quanto à inflação no setor de serviços, a preocupação se mostrou como um consenso entre os economistas.
Para Braz, a parte de serviços preocupa, pois possui um peso grande no orçamento e está relacionado à demanda, que permanece aquecida, apesar da Selic em 15% ao ano.
“O resultado consolidou redução na alimentação em domicílio. A parte de serviços, que compromete 30% do orçamento familiar, continuou dentro de uma estabilidade desde janeiro.”
Segundo Agenta, há elementos do setor de serviços que foram negativos: “o que é fator de preocupação do Copom ainda não trouxe o arrefecimento buscado pela autoridade monetária.”