O ano do Pix: relembre a trajetória do sistema de pagamentos e o que vem em 2022
Ferramenta de pagamento instantâneo do BC passou por mudanças ao longo do ano e já supera boletos, TED, DOC e outros meios na preferência dos brasileiros
Em 16 de novembro, o Pix completou um ano de existência com mais de 348 milhões de chaves cadastradas e 1,6 bilhão de transações neste período, segundo dados do Banco Central (BC).
“Os números já mostram que 2021 foi o ano do Pix. A adesão foi em massa, o que mostrou se tratar de um produto transacional muito bem aceito pela população e que facilitou muito o envio de dinheiro”, analisa Thiago Saldanha, CTO da Sinqia.
“O Pix traz uma evolução do meio de pagamento digital. Por ser um produto transacional do dia a dia e o fato de já termos modalidades parecidas, como TED e DOC, boleto e outras formas de fazer dinheiro fizeram o Pix ser facilmente aderido”, acrescentou.
Em relação a números absolutos, o Pix já supera transações por TED, DOC, boletos, cheques e outros tipos mesmo somados.
Criado em novembro de 2020, a nova ferramenta de pagamento instantâneo do BC ultrapassou movimentações realizadas por DOC ainda em dezembro de 2020, com 144 mil transações ante 39 mil.
Um mês depois, em janeiro de 2021, o Pix chegou a 201 mil movimentações financeiras, superando as realizadas por TED, que tiveram quase metade no mesmo período — 122 mil. Em março deste ano, o novo método superou os 391 mil pagamentos e deixou para trás os boletos, que tiveram 358 mil transações naquele mês.
Em setembro de 2021, o Pix atingiu a marca de mais de 1 milhão de movimentações financeiras, superando DOC, TED, boletos e os outros métodos de pagamento similares.
“O Pix é mais uma opção disponível à população que convive com os tipos tradicionais. A diferença é que, com o Pix, não é necessário saber onde a outra pessoa tem conta. Você realiza a transferência a partir, por exemplo, de um telefone na sua lista de contatos, usando a Chave Pix”, explica o BC.
Evolução
Projetado com o objetivo de simplificar as transações automáticas por débito, o Pix foi ganhando novas funcionalidades ao longo do ano.
Primeiro, a opção mais tradicional era cadastrar uma chave Pix, enviar para a pessoa que vai realizar um pagamento e receber o dinheiro instantaneamente. Essa categoria ainda rege a ferramenta, mas incorporou ramificações.
A ferramenta passou a ser utilizado via QR Code e a opção “copia e cola”, função muita aproveitada por restaurantes e lanchonetes em aplicativos de delivery.
No fim de 2021, o Banco Central lançou o Pix Saque e o Pix Troco. Essas novas ferramentas permitem que os consumidores consigam sacar dinheiro de um ponto de venda qualquer, como uma loja de bairro, uma padaria ou um supermercado. Caso façam uma compra por Pix, podem solicitar o troco em dinheiro também.
Nesta modalidade, o usuário poderá sacar até R$ 500 durante o dia e R$ 100 no período noturno (das 20 horas às 6 horas). O serviço é gratuito em até oito saques no mês, sendo que a partir da nona transação realizada as instituições financeiras ou de pagamentos detentoras da conta do usuário podem cobrar um valor extra.
Outra novidade no fim do ano foi a integração do Pix com o Open Banking. Esse encontro ocorre na Fase 3 do sistema financeiro aberto brasileiro. A parti dela, empresas que prestam serviços podem solicitar serem Iniciador de Pagamento (ITP).
Isso garante a possibilidade de fazer um pagamento via Pix sem que seja necessário usar o aplicativo do banco em que possui conta. Portanto, a opção “copia e cola” não seria mais a única para aplicativos de delivery, sendo que eles podem solicitar ao BC serem iniciadores de pagamentos e oferecem aos clientes a possibilidade de eles pagarem via Pix dentro do próprio app.
A 3ª fase do Open Banking funcionará em etapas. A primeira teve início em 29 de novembro, enquanto a última começará em 30 de setembro de 2022.
Novidades
Muitas novidades sobre o Pix são aguardadas para os próximos anos. Já em 2022, o Banco Central vai implementar atualizações no Pix Cobrança e lançar o débito automático no Pix.
No primeiro, as atualizações vão permitir a integração por meio de um arquivo padronizado, facilitando pagamentos em lote. Isso significa que empresas que trabalham com este tipo de pagamento em massa serão beneficiadas e terão o trabalho simplificado.
Já em relação ao débito automático, o próprio nome já sugere a nova funcionalidade, que vai permitir o agendamento de algum pagamento instantâneo. Segundo o BC, este novo método surge como alternativa para “facilitar pagamentos recorrentes”.
Além desses meios, o Banco Central confirmou ao CNN Brasil Business que estuda outras possibilidades para o Pix, ainda sem data marcada.
A entidade monetária avalia utilizar a ferramenta de maneira offline, de modo que um dos usuários da transação não precise estar conectado à internet. No entanto, o BC explica que para o produto ser lançado “é necessário que o uso dos QR Codes seja melhor assimilado pela população”.
Outra ferramenta que o BC estuda é o Pix por aproximação, visto com bons olhos por especialistas. “Pix por QR Code é bom, mas ele perde para a proximidade do cartão de débito, por exemplo. Quando isso acontecer, teremos o melhor e mais seguro pagamento instantâneo do mundo”, afirma Rodrigoh Henriques, líder de inovações da Fenasbac (Federação Nacional das Associações de Servidores do Banco Central).
Outra função que pode ser disponibilizada em breve é a possibilidade de pagamento parcelado com o Pix. O BC ressalta que esta modalidade ainda está em estudo interno e, assim como as outras, não possui data de lançamento.
Por fim, a entidade monetária disse que está avaliando oferecer a opção de o usuário realizar transações internacionais via Pix. “[O BC] vem acompanhando proximamente experiências de interligação em desenvolvimento em outras jurisdições”, disse o banco ao CNN Brasil Business.
Segurança
Ao mesmo tempo em que o Pix chamou a atenção dos brasileiros devido à facilidade de uso e praticidade para pagamentos do dia a dia, Thiago Saldanha, CTO da Sinqia, afirma que ele também levantou pontos importantes sobre segurança.
“Vemos alguns grupos políticos se posicionando sobre o uso do Pix, por demandas de questões de segurança, como sequestros e roubos em que os criminosos buscam ter acesso à chave do Pix do usuário”, afirma.
Com o objetivo de evitar fraudes e roubos deste tipo, o Banco Central anunciou, em agosto de 2021, mudanças na ferramenta, como boqueio de horários para transferências, limitação de valores e até a escolha dos destinatários.
Após o crescimento de sequestros relâmpago, o BC divulgou o impedimento de movimentações financeiras maiores durante o período da note. Das 20h às 6h foi estabelecido um limite de R$ 1.000 para transferências para mesmo banco.
Outra mudança foi anunciada no dia 12 de novembro. A alteração ocorreu acerca de regras que estabelecem infrações e penalidades aos participantes que violarem os regulamentos do Pix.
A partir da nova norma, o infrator passa a receber uma notificação para que adote ou cesse determinada prática. Além disso, em casos de reincidência, a instituição deverá apresentar à entidade um plano de ação.
O regulamento prevê multas que vão de R$ 50 mil a R$ 1 milhão. Com o objetivo de disciplinar os usuários da ferramenta, o BC elaborou um Manual de Penalidades.
Especialistas ouvidos pelo CNN Brasil Business dizem que as novidades podem sofrer alterações caso o Banco Central considere mais apropriado, mas que os usuários não devem ter receio sobre a segurança do Pix.
“O Pix é seguro, o mundo não”, afirma Rodrigoh Henrique, líder de inovações financeiras da Fenasbac (Federação Nacional das Associações de Servidores do Banco Central).
“Temos que entender que a segurança no mundo digital é algo para irmos nos acostumando”, acrescentou.