Pressão de Bolsonaro sobre política de preços da Petrobras tem aval de Guedes
Avaliação do ministro da Economia, segundo auxiliares bastante próximos, é a de que a Petrobras também tem que pagar parte da conta
As críticas do presidente Jair Bolsonaro à política de preços da Petrobras têm o aval do ministro da Economia, Paulo Guedes. Segundo relatos feitos à CNN, o chefe da equipe econômica e seu time entendem que o momento político do país pede ação mais incisiva do presidente e que, no ano em que Bolsonaro vai disputar a reeleição, o modelo atual da estatal cria uma armadilha ao mandatário do Palácio do Planalto.
As posições defendidas pelos adversários de Bolsonaro, principalmente pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e pelo ex-ministro Ciro Gomes (PDT), a respeito de um maior controle sobre os preços praticados pela estatal, foram apontadas como um dos principais argumentos pela equipe econômica para que o governo mudasse de postura em relação aos preços praticados pela estatal.
Na manhã desta segunda-feira (7), Bolsonaro afirmou que a paridade internacional do preço do petróleo é resultado de uma “legislação errada”. “Tem uma legislação errada feita lá atrás que você tem uma paridade com o preço internacional [dos combustíveis]. Ou seja, o petróleo —o que é tirado do petróleo— leva-se em conta o preço fora do Brasil. Isso não pode continuar acontecendo”, disse o presidente, em entrevista a uma rádio de Roraima.
O presidente afirmou ainda que, hoje, repassar o aumento do barril de petróleo ao consumidor é “inadmissível” e que o governo estava buscando uma solução “de forma bastante responsável”. “Se você for repassar isso tudo para o preço dos combustíveis, você tem que dar aumento em torno de 50% nos combustíveis. Não é admissível”, disse Bolsonaro.
De acordo com relatos feitos à CNN, Bolsonaro e Guedes conversaram nesta manhã, durante uma hora, antes de o presidente conceder a entrevista. Eles já haviam falado algumas vezes também durante o fim de semana. A avaliação do ministro da Economia, segundo auxiliares bastante próximos, é a de que a Petrobras também tem que pagar parte da conta.
Guedes tem criticado com veemência o que tem chamado de “lucros abusivos” da estatal. O ministro da Economia tem dito que, hoje, são “três” os candidatos a pagar a conta do aumento do preço do combustível: o Executivo, que tem feito a sua parte ao, por exemplo, reduziu o Imposto Sobre Produtos Industrializados (IPI) em até 25%; os governadores, que podem segurar o ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços); e a Petrobras, segurando os preços, como tem feito desde 12 de janeiro.
Auxiliares de Guedes falam que esse seria um modelo de exceção para tempos de guerra e não mudança de forma estrutural na política de preços da Petrobras. O ministro da Economia defende, no entanto, que esse movimento seja casado com a aprovação no Congresso do projeto de lei que mexe na cobrança do ICMS, para mudar a alíquota atual (um porcentual sobre um valor) para uma cobrança fixa sobre o litro.
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O petróleo é considerado uma commodity. O termo se refere a recursos finitos que têm origem na natureza e são comercializados. No caso, o petróleo é usado principalmente como combustível, mas também dá origem a materiais como o plástico • REUTERS/Vasily Fedosenko
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O petróleo pode ser de vários tipos, dependendo principalmente do seu grau de impureza. Os dois principais, Brent e WTI, são leves (pouco impuros), e a diferença se dá pelo local de negociação: bolsa de Nova York no caso do Brent e bolsa de Londres no caso do WTI • Instagram/ Reprodução
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Os preços do petróleo seguem uma cotação internacional, e flutuam pela oferta e demanda. No Brasil, o preço de referência adotado pela Petrobras - maior produtora no país - é do Brent, seguindo a cotação internacional, em dólar • REUTERS
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Quando se fala da comercialização de petróleo, um fator importante é a Opep (Organização dos Países Exportadores de Petróleo). Com 13 membros, ela é responsável por quase 50% da produção mundial de petróleo, e portanto consegue regular a oferta - e preços - pelos fluxos de produção • Reuters/Dado Ruvic
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A partir de 2020, os preços do petróleo foram afetados pela pandemia e pela guerra na Ucrânia. A Opep+ (que inclui países aliados do grupo, como a Rússia) decidiu cortar a produção temporariamente devido à baixa demanda com lockdowns, e os preços caíram. A média em 2020 foi US$ 40, distante da de anos anteriores, entre US$ 60 e US$ 70 • REUTERS
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Em 2021, porém, o cenário mudou, com o avanço da vacinação, os países reabriram rapidamente, e a demanda por commodities decolou, incluindo pelo petróleo. A Opep+, porém, decidiu manter os níveis de produção de 2020, e a oferta baixa fez os preços saltaram, ultrapassando US$ 80 • REUTERS/Nick Oxford
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Já em 2022, a situação piorou. A guerra na Ucrânia, e as sanções ocidentais a um dos maiores produtores mundiais da commodity, a Rússia, fizeram os preços dispararem, ultrapassando os US$ 120. Atualmente, o barril varia entre US$ 100 e US$ 115 • 03/06/2022REUTERS/Angus Mordant
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A alta dos preços do petróleo, porém, trouxe consequências negativas para o Brasil. Como a Petrobras segue a cotação internacional e o dólar está valorizado ante o real, ela subiu o preço nas refinarias, o que levou a uma elevação da gasolina e outros combustíveis. Até o momento, o preço da gasolina já subiu 70% • REUTERS/Max Rossi
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A alta do petróleo não afetou só o Brasil. Países dependentes da commodity, como EUA, Índia e Reino Unido, também viram os preços dos combustíveis subirem, e têm tentado pressionar a Opep+ a retomar os níveis de produção pré-pandemia, o que tem ocorrido lentamente enquanto a organização aproveita para se recuperar das perdas em 2020 • Reuters
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