Qualicorp: quem é Júnior Seripieri, o bilionário fundador que foi preso pela PF
Corretor gago, empresário criou o mercado de planos de saúde por adesão coletiva nos anos 90
José Seripieri Filho, o Júnior, preso na manhã desta terça-feira (21) pela Polícia Federal, é um empresário conhecido no setor de saúde. Ele é o fundador da Qualicorp, uma das maiores empresas de planos de saúde do país. Tornou-se um dos primeiros bilionários brasileiros do segmento.
As ações da companhia na B3 recuavam perto de 6% às 11h da manhã. A Qualicorp tem valor de mercado em torno de R$ 8,5 bilhões.
Criada em 1997, a Qualicorp foi pioneira na oferta de planos de saúde coletivos por adesão, que reúne pessoas de acordo com sua profissão, em conjunto com entidades de classe.
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A companhia possui cerca de 2,5 milhões de beneficiários na sua base de segurados de saúde, com acordo com mais de 500 entidades de classe, representando 32 mil empresas.
Júnior deixou o comando da Seripieri em novembro passado, com a conclusão da venda de sua participação de 10% para a Rede D’Or, que se tornou a maior acionista.
Atualmente Júnior comanda a QSaúde, uma empresa que faz uso de inteligência de dados para reduzir ineficiências do sistema de saúde e conseguir vender planos a preços mais baixos. Ele adquiriu a QSaúde no início deste ano da própria Qualicorp por estimados R$ 75 milhões.
Ele ficou dois meses internado com Covid-19 antes do lançamento da QSaúde, em maio.
A Qualicorp divulgou uma nota na manhã desta terça sobre a operação. “A companhia, em linha com o fato relevante divulgado nesta data, informa que houve busca e apreensão em sua sede administrativa e que a nova administração da empresa fará uma apuração completa dos fatos narrados nas notícias divulgadas na imprensa e está colaborando com as autoridades públicas competentes.”
Já o advogado Celso Vilardi, que defende o empresário José Seripieri Filho, afirmou, por meio de nota, que “é injustificável a decretação de prisão temporária de José Seripieri Filho. Os fatos investigados ocorreram em 2014, há seis anos portanto, não havendo qualquer motivo que justificasse uma medida tão extremada.”
Ainda segundo o advogado, os colaboradores mencionados no inquérito não acusam Seripieri de ter feito doações não contabilizadas – relatam que ele fez um mero pedido de doação em favor de José Serra e que a decisão de fazer a doação, assim como a forma eleita, foi decisão de um dos colaboradores. “Portanto, não há qualquer razão ou fato, ainda que se considere a delação como prova (o que os Tribunais já rechaçaram inúmeras vezes), que justifique medidas tão graves”, diz o advogado.
Crescimento meteórico
Júnior, hoje com 52 anos, era um vendedor bem-sucedido de planos de saúde, carreira que assumiu depois de frustradas tentativas para passar no vestibular para medicina, quando fundou a Qualicorp.
Gago, ele enfrentou dificuldades para vender planos de saúde por telefone no início da carreira, mas se mostrou um hábil vendedor no “porta a porta”. Na época, contou com a ajuda de um amigo rico da família, Milton Afonso, fundador da Golden Cross, pioneira em planos de saúde suplementar no país.
A Qualicorp teve forte crescimento ao longo dos anos 2000, a ponto de atrair o interesse de grandes empresas americanas de private equity (especializadas em adquirir participações de empresas de capital fechado). Sucessivas operações valorizaram rapidamente a companhia.
Em 2008, o americano General Atlantic (GA) comprou cerca de 40% da Qualicorp por US$ 100 milhões. Dois anos mais tarde, o também americano Carlyle adquiriu a fatia de 40% da GA e outros 30% que estavam nas mãos de Seripieri por estimado R$ 1,1 bilhão.
Novo salto foi dado no ano seguinte, quando a Qualicorp abriu seu capital na bolsa, a hoje B3. O IPO da companhia captou R$ 1,1 bilhão. A operação alçou Júnior ao clube dos bilionários brasileiros.
Polêmicas na bolsa
Há pouco menos de dois anos, Seripieri acertou uma operação com a Qualicorp que foi criticada por investidores e que gerou a abertura de uma investigação na Comissão de Valores Mobiliários (CVM), responsável por regular o mercado de capitais. Ele recebeu R$ 150 milhões da empresa que comandava em um acordo em que se comprometia a não criar um concorrente num período de seis anos.
No dia seguinte ao anúncio do acordo, as ações da Qualicorp despencaram 30% na bolsa.
Acionistas minoritários e a XP Gestão reclamaram do acerto, que beneficiaria Júnior em detrimento da empresa. Diante da reação negativa, Júnior se ofereceu para reinvestir os R$ 150 milhões na Qualicorp.
Em outubro de 2019, a CVM rejeitou uma proposta em que os seis conselheiros que haviam aprovado o negócio se comprometiam a pagar um total de R$ 1,2 bilhão para encerrar o caso.
(Edição de Marcelo Sakate)
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