Stuhlberger: Trump é parecido com Gleisi sobre juro e este é seu trunfo
Sobre o Brasil, CEO e CIO da Verde Asset Management avalia que pior momento da crise do tarifaço parece ter ficado para trás

A visão do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, sobre política monetária é parecida com a da ministra da Secretaria de Relações Institucionais, Gleisi Hoffman, observa Luis Stuhlberger, CEO e CIO da Verde Asset Management.
O gestor ainda avalia que o republicano não medirá esforços para obter sucesso em sua cruzada pela redução dos juros norte-americanos, numa aposta all in (tudo dentro, em tradução livre) para cima do Federal Reserve, o banco central dos EUA.
A avaliação de Stuhlberger é de que Trump vem obtendo "sucesso moderado", enquanto sua "popularidade não é boa", o que deverá levá-lo a focar no ataque à política monetária.
"Olhando o mundo, sob o ponto de vista do Fed e sob o ponto de vista do Trump é o grande risco para o valuation e para a forma de investir no futuro", afirmou, durante painel em evento do Santander, em São Paulo, nesta quarta-feira (20).
"O pensamento do Trump sobre política monetária e o quanto devemos pagar de juro é muito parecido com o da Gleisi. Qualquer juro que você pague é dinheiro jogado fora."
Desde a campanha presidencial de 2024, o republicano vem atacando o chairman do Fed, Jerome Powell, que foi indicado por ele próprio em seu primeiro mandato. Trump o chama de "Too Late" (tarde demais, em tradução livre), enquanto defende que o BC norte-americano está atrasado no corte de juros.
Em seu mais recente ataque ao presidente do banco central, Trump disse que Powell está prejudicando o setor imobiliário e impedindo as pessoas de obter financiamento.
Tarifaço
Entre os sucessos considerados por Trump e pelo Partido Republicano, estão as tarifas, cuja receita aos cofres norte-americanos subiu de US$ 5 bilhões mensais para algo entre US$ 40 bilhões e US$ 50 bilhões.
"Trump é um cara que vai escalando até algo dar errado", disse Stuhlberger.
O gestor acrescentou que o presidente norte-americano prevê uma queda dos preços nos próximos 12 meses, com a inflação de tarifas baixa porque os importadores absorvem 55% da alta de custos sem repassar os preços ao consumidor.
“Há um mix razoável de políticas em vigor [o consumidor nos EUA está bem], mas os resultados não são tão positivos quanto gostaria. O grande trunfo, porém, será a política monetária: o Fed deve apostar todas as fichas como nunca antes, pressionado todos os agentes até conseguirem o que querem”, disse.
Stuhlberger, como gestor, diz também que é preciso pensar em estratégias alternativas que não dependam de moeda, dado o cenário. Ele lembra que a tomada de uma decisão de hedge tem diferença de tempo em relação a de investimento, citando que, dos US$ 34 trilhões em ativos aplicados nos EUA, 15% estão em hedge.
Sobre o Brasil, o gestor do fundo Verde avaliou que o pior momento da crise do tarifaço parece ter ficado para trás, após a atuação de empresários que conseguiu retirar parte dos produtos brasileiros da sobretaxa norte-americana.
Stuhlberger também observou que a defesa do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), um dos motivos apontados por Trump como motivador das tarifas, não é mais o ponto principal da Casa Branca.
Ele ponderou que o risco a ser monitorado está no tratamento dado às grandes empresas de tecnologia, uma vez que retaliações contra as big techs podem levar a novas sanções do presidente dos Estados Unidos.
“O que mais tenho medo é de o governo ir em cima de big techs - por exemplo, tirar do ar -, é um perigo. Aí você joga Trump para cima de nós, porque prejudica interesses americanos por aqui”, comentou Stuhlberger.
A atenção também se volta, segundo Stuhlberger, a se o governo vai querer escalar o embate com os Estados Unidos, já que a defesa da soberania nacional tem trazido uma reação nos índices de aprovação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Além disso, acrescentou, as tarifas de Trump e a articulação da família Bolsonaro, com os “lobbies impressionantes” do deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) nos Estados Unidos, estão sendo condenadas pela maioria.
Publicado por João Nakamura; com informações de Estadão Conteúdo e Reuters