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CNN exclusivo: Wesley Batista abre o jogo sobre Eldorado, JBS e economia

Empresário diz que não gosta de brigar, que vê JBS no S&P 500 e aponta otimismo com o país

Fernando Nakagawa, Gabriel Bosa, João Nakamura e Marien Ramos, da CNN, em São Paulo
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Enquanto a holding J&F se consolida como o maior grupo empresarial do Brasil, o acionista e membro do conselho da JBS, Wesley Batista, falou em entrevista exclusiva ao CNN Money sobre o momento das marcas da família e da economia nacional.

"Crescer faz parte do DNA da empresa, do que nós gostamos de fazer, de empreender crescendo, expandindo, gerando oportunidade, criando oportunidade para os stakeholders. Então, assim, sem dúvida nenhuma, esse é o nosso DNA, é a nossa história, e nós vamos continuar fazendo isso", afirmou ao âncora do CNN Money Fernando Nakagawa.

Questionado sobre os próximos passos, Wesley ponderou que é "difícil dizer" ao notar que, para a J&F, há "oportunidades que não acabam nunca".

Mas reparou que, num momento no qual o grupo dos irmãos Batista está cada vez mais globalizado, há espaço para abraçar ainda mais mercados como o norte-americano e o europeu, além de seguir otimizando o que já está dentro do próprio negócio.

A J&F hoje está presente nos setores de alimentos, celulose, mineração, energia, cosméticos e limpeza, ecossistema financeiro e comunicação. Questionado se a holding estaria disposta de abrir mão de alguma dessas posições, Wesley é direto: "Não".

"Nós somos felizes com todos os segmentos que nós temos e não temos plano, intenção de sair de nenhum deles. A não ser que precise. Como a gente diz aqui: 'se precisar, nós voltamos para o Goiás para matar 60 bois por dinheiro'. Mas não é o caso, o grupo está super bem financeiramente."

"Eu claramente vejo a JBS crescendo. Continuando, expandindo, crescendo. Quando você olha quando meu pai começou em 53, quando abriu a Casa de Carne Mineira, a trajetória ao longo desses mais de 70 anos, nós fomos expandindo, e hoje a JBS tem tamanho de ser uma das maiores empresas de alimentos no mundo. Então assim, nós vamos continuar", apontou.

Acordo pela Eldorado

Wesley comentou pela primeira vez sobre o mais recente — e um dos mais marcantes — desdobramentos para o grupo, que foi a conclusão da disputa judicial com a sino-indonésia Paper Excellence pela Eldorado Celulose Brasil.

"O ex-sócio [Paper] fez um grande investimento, saiu com um retorno extraordinário, não foi um acordo que saiu com um prejuízo ou com qualquer coisa do tipo. Ao contrário, saiu com um retorno muito bom, foi um grande investimento. Ficamos super felizes porque o que nós gostamos de fazer é trabalhar, não brigar", enfatizou o empresário.

Wesley Batista explicou que não houve uma bala de prata para convencer o lado de lá: “Essas coisas são um processo", explicou.

Em setembro de 2017, a J&F vendeu 49,41% das ações da Eldorado por R$ 3,8 bilhões, além de fechar um acordo de venda das ações restantes, desde que a multinacional sino-indonésia assumisse algumas obrigações, como as dívidas da empresa de celulose que estavam em nome da holding dos irmãos Batista.

Um ano depois, a Paper Excellence inicia o litígio e recorre à Justiça, alegando que a J&F e a Eldorado não deram as condições necessárias para que a empresa pudesse cumprir com as obrigações de adquirir as ações restantes da companhia de celulose.

O caso passou por uma arbitragem que foi vencida pela Paper. A J&F pediu a anulação do processo, apontando espionagem por parte da multinacional de 70 mil e-mails trocados com os advogados do caso durante a arbitragem; a relação de um dos árbitros com a Paper Excellence; e a ilegalidade das ordens contidas na sentença.

"Desde o início da disputa, nós procuramos e falamos com a parte, com o ex-sócio, que era muito simples de nós paramos com aquilo. Nós não temos disputas na nossa trajetória empresarial. Muito raramente ocorreu alguma divergência, e nós desde o início da palavra fomos muito simples: quem der mais na parte um do outro leva", relatou Wesley.

A disputa teve idas e vindas por todas as instâncias do Judiciário até que um acordo fosse assinado no dia 15 de maio. Pelo acordo, a J&F adquire os 49% da Eldorado detidos pela multinacional sino-indonésia por mais de R$ 15 bilhões, assim, conquistando sua totalidade.

A vitória judicial leva a holding dos irmãos Batista a se consolidar como o maior grupo empresarial do Brasil, com faturamento de R$ 434 bilhões em 2024 e R$ 340 bilhões em ativos.

O empresário analisa esses últimos anos de disputa como uma "perda de energia e de tempo", algo que impediu o andamento deste processo de expansão e crescimento da J&F.

“Mas tudo isso é um processo. No começo, nos descuidamos, literalmente, descuidamos do processo. Ficou um pouco no piloto automático, eles largaram na nossa frente, conseguindo algumas vitórias ilegítimos. Depois que nós questionamos e a coisa foi se revertendo", relembrou.

"Na medida que foi se revertendo, eu acho que foi ficando mais claro que essa disputa ia terminar desfavorável ao lado do ex-sócio, e aí acabamos chegando num acordo."

Dupla listagem em Nova York

Wesley Batista também falou sobre o assunto que tem colocado os holofotes sobre a JBS: a dupla listagem na bolsa dos Estados Unidos. O empresário se vê confiante e acredita que a companhia irá conquistar o marco de se tornar a primeira brasileira no índice S&P 500.

"É um marco você ter a primeira empresa brasileira no S&P 500. Nós vamos perseguir isso, lógico que tem um processo a ser feito, mas nós acreditamos que estaremos lá. Vamos celebrar muito", afirmou Batista.

A Assembleia Extraordinária de Acionistas da JBS aprovou no último dia 23 a dupla listagem das ações da companhia. Com isso, as ações da JBS passarão a ser negociadas tanto nos EUA quanto no Brasil, onde a empresa emitirá BDRs (Brazilian Depositary Receipts).

O empresário também foi confiante ao afirmar que acredita em projeções apontando que o valor da empresa pode subir de 150% a até 300%.

"Concluir a dupla listagem, sem dúvida nenhuma, na nossa visão, é um movimento super relevante para a economia. É um movimento que, eu diria, transformacional. Você tem uma empresa do tamanho que se tornou a JBS, com uma operação global, estando listada no maior centro financeiro mundial", disse Wesley.

"A realidade é que a JBS não tem nenhuma comparação no mercado brasileiro, de uma multinacional que se tornou líder no seu setor e que se tornou uma das maiores empresas de alimentos do mundo", destacou.

"Somos mais otimistas que o mercado"

Na contramão do viés pessimista do mercado financeiro sobre a economia brasileira, Wesley afirmou que "há muita coisa boa sendo feita. Nós somos mais otimistas do que às vezes a gente ouve no mercado.”

Wesley citou o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB), que em 2024 encerrou com avanço de 3,4%, como um dos fatores que sustentam seu otimismo.

"Estou falando de dados, não estou falando do que eu acho. Você olha o Brasil crescendo 3%. Você fala: 'É ruim?'. Não, não é ruim. O Brasil não está estagnado", explicou.

Além da expansão econômica, o empresário traz o exemplo do desempenho da balança comercial brasileira, com superávit de US$ 74,5 bilhões em 2024 — o segundo melhor resultado da história —, além de dados do mercado de trabalho.

Sobre a agenda de reformas, o acionista e membro do conselho da JBS elogiou o Congresso brasileiro pela reforma tributária, cuja regulamentação foi aprovada no fim de 2024.

"O Brasil sonha com essa reforma tributária desde quando eu me entendo por gente. Acho que é um passo relevantíssimo.”

O empresário avaliou que o Brasil oferece "muita oportunidade", mas reconhece que há desafios, como o cenário fiscal, a inflação e, em consequência desta, a alta taxa de juros no país — hoje em 14,75% ao ano, o maior nível em quase 20 anos.

"Precisamos de coisas serem feitas na direção de permitir que a taxa de juros volte", pontuou.

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