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    Eneva busca gás na Bacia do Paraná em área não explorada por 20 anos

    Empresa do setor de petróleo e gás e energia elétrica também buscará encontrar reservatórios salinos para projetos de captura e armazenamento de dióxido de carbono

    Marta Nogueirada Reuters

    A Eneva iniciou trabalhos de sísmicas na Bacia do Paraná, entre os Estados de Mato Grosso do Sul e Goiás, onde planeja buscar gás natural em uma campanha exploratória que não acontece na área há mais de 20 anos.

    A empresa do setor de petróleo e gás e energia elétrica também buscará nessa campanha encontrar reservatórios salinos com potencial para projetos de captura e armazenamento de dióxido de carbono, disse um diretor da companhia à agência Reuters.

    As sísmicas, cujos primeiros registros começaram no mês passado, preveem investimentos de R$ 200 milhões e deverão durar cerca de um ano e meio, segundo o diretor de Exploração, Reservatório e Tecnologias de Baixo Carbono na Eneva, Frederico Miranda.

    A expectativa da empresa é iniciar uma campanha de perfurações na região provavelmente em 2027, o que interromperia um jejum de poços exploratórios e produtivos de mais de 20 anos na Bacia do Paraná, que abrange os Estados do rio Paraná, segundo dados da reguladora ANP.

    “A gente vai procurar gás natural, mas toda informação que a gente adquirir pode ser utilizada também para avaliação no projeto de captura e armazenamento de carbono”, afirmou Miranda.

    O executivo revelou que a empresa já está em conversas com usinas de etanol, cujo carbono emitido nas operações poderia ser capturado nos reservatórios, em movimento que poderia ajudar a descarbonizar a atividade.

    As usinas de cana buscam ter a menor pegada possível de carbono, já que esse componente interfere na Nota de Eficiência Energético-Ambiental dos produtores de biocombustíveis. Quanto melhor, mais Créditos de Descarbonização (CBios) podem ser emitidos por essas empresas, o que impulsiona suas receitas.

    Miranda não revelou nomes das usinas interessadas.

    A proximidade das usinas com os ativos que serão explorados pela Eneva, segundo ele, permitiria reduzir custos relacionados ao transporte do CO2.

    Miranda comentou que quando a Eneva arrematou os quatro blocos na Bacia do Paraná, no segundo ciclo de oferta permanente da ANP, em 2021, tinha uma estratégia bem focada no potencial de gás natural na região.

    A companhia é operadora dos blocos, com 70% de participação, e tem a Brava — nova petroleira formada pela fusão entre 3R e Enauta — como sócia.

    Resevatórios para usinas

    Porém, ao avançar com projetos relacionados à descarbonização, chamaram a atenção da Eneva dados geológicos sobre a bacia, apurados no passado pela Petrobras e também por universidades e outras empresas, sobre as estruturas geológicas que poderiam armazenar carbono.

    “Reservatórios salinos são rochas profundas, onde a água que estava dentro não [serve] nem para uso humano, nem para uso industrial. Muito se fala de reservatórios depletados, que são uma opção [para o armazenamento de CO2], mas aí você vai estar restrito a locais onde havia um campo de petróleo ou gás”, destacou.

    Miranda ponderou que prospecções apenas para projetos de captura e armazenamento de carbono poderiam ter uma “remuneração incerta”, mas que a associação da ideia com a busca da companhia por gás trouxe mais valor à iniciativa.

    O executivo adicionou que a possibilidade de capturar CO2 de usinas de etanol se mostrou também mais atrativa do que em suas próprias termelétricas em outras localidades, não só apenas pela proximidade.

    “Em uma usina termelétrica de ciclo combinado, como são a maioria das nossas, aquela fumaça branca que a gente vê saindo dá 4% de CO2. Então você tem que ter um aparato enorme para capturar 4% de CO2. Já numa planta de produção de etanol, no processo de fermentação, a exaustão é de 95% a 98% de CO2 puro”, afirmou.

    Dessa forma, os custos com a etapa de captura do CO2 seriam reduzidos.

    Miranda também destacou que o Brasil carece ainda de um mercado regulado de carbono, que permitiria maior impulso a projetos como esse.

    A captura e estocagem geológica de dióxido de carbono (CCS) estão previstas no projeto de lei “Combustível do Futuro”, que aguarda sanção presidencial.

    Por ora, Miranda afirmou que a companhia já tem gerado impactos econômicos positivos na região onde atua na Bacia do Paraná, com cerca de 500 empregos diretos a partir dos prestadores de serviços da companhia relacionados à sísmica, que acaba por gerar empregos indiretos ligados a hotelaria, refeição, lavanderia, transporte, dentre outros.

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