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TikTok: O que se sabe até agora sobre acordo que deve ser assinado em breve

No sábado (20), a Casa Branca revelou que o algoritmo do TikTok será protegido, retreinado e operado nos Estados Unidos, fora do controle da Bytedance

Gisele Farias*, da CNN*, em São Paulo
Logo do TikTok e bandeira dos Estados Unidos em ilustração
Logo do TikTok e bandeira dos Estados Unidos em ilustração  • Dado Ruvic/Reuters
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Os esforços dos Estados Unidos na batalha pelo controle do TikTok, rede social que acumula mais de um bilhão de usuários ao redor do mundo, se estendem por anos. Agora, a China e os EUA parecem finalmente próximos de um acordo, que, segundo a Casa Branca, será assinado "nos próximos dias".

No sábado (20), a porta-voz da Casa Branca, Karoline Leavitt, revelou que o algoritmo do TikTok será protegido, retreinado e operado nos Estados Unidos, fora do controle da Bytedance, atual controladora chinesa da plataforma.

Além disso, Leavitt disse que a Bytedance vai deter menos de 20% de uma joint venture para as operações do TikTok nos EUA. Segundo ela, o conselho que irá operar a empresa em solo americano será composto por sete membros, sendo seis deles dos EUA.

O acordo entre Washington e Pequim sobre o futuro do aplicativo exigirá que todos os dados de usuários americanos sejam armazenados na infraestrutura de computação em nuvem dos EUA, administrada pela empresa de software Oracle.

"O TikTok continuará sendo uma plataforma globalmente interoperável para usuários dos EUA", afirmou Leavitt.

A China, por outro lado, manteve sua posição sobre o futuro do TikTok nos EUA.

No sábado, o Ministério do Comércio da China disse que o "governo chinês respeita os desejos da empresa e a incentiva a realizar negociações comerciais de acordo com as regras de mercado para chegar a uma solução compatível com as leis e regulamentações da China e atingir um equilíbrio de interesses".

Os detalhes vieram em seguida do anúncio do presidente dos EUA, Donald Trump, de que o líder chinês Xi Jinping aceitou o acordo sobre o controle da rede social. Trump e Xi conversaram por ligação na sexta, quando o presidente americano comemorou e disse que a conversa foi "muito produtiva".

Controle de dados

O avanço do acordo sobre o TikTok gira em torno de um tópico sensível: o regime de governança de dados dos usuários do TikTok. O futuro da rede social levanta questionamento sobre onde ficarão armazenados os dados, quem terá acesso e como serão tratados.

Segundo Gustavo Macedo, especialista em IA (Inteligência Artificial) e professor de Relações internacionais do Ibmec-SP, a tecnologia é a nova fronteira da guerra fria digital entre Estados Unidos e China.

Em entrevista ao CNN Money, Macedo explica que não se sabe ao certo se os dados de usuários serão enviados à China ou permanecerão em solo americano, assim como quais poderiam ser os mecanismos de segurança e tecnologia dos EUA para que as informações não saiam do país.

Além dos dados, de extrema importância para a China, há um interesse na questão comercial, já que é uma empresa bilionária, onde "há muitas compras e vendas de serviços e mercados", explica Macedo.

O especialista reforça que a grande preocupação dos EUA é que a China possua controle sobre “dados sensíveis e estratégicos dos cidadãos americanos”.

A preocupação levou a maioria dos estados americanos a aprovarem leis para restringir o acesso ao TikTok no país durante os últimos meses, explica Macedo. “Tem vários lugares nos Estados Unidos, como algumas universidades, que, ao conectar no Wi-Fi, não é possível acessar o TikTok”.

Em setembro, Trump estendeu a proibição do TikTok nos Estados Unidos por mais três meses, enquanto aguardava um acordo para vender os ativos americanos do aplicativo.

Quem deve deter controle do TikTok

Os termos do acordo entre os países ainda não foram divulgados. Porém, fontes familiarizadas com a estrutura disseram que a proposta do acordo envolve investimentos de várias empresas de capital de risco, fundos de private equity e empresas de tecnologia dos EUA.

Entre os investidores, que deteriam a participação majoritária na empresa, estão Oracle, Andreessen Horowitz e Silver Lake, segundo as fontes. Investidores chineses manteriam os 20% restantes da empresa.

O novo consórcio seria operado por um conselho com maioria americana, incluindo um membro indicado pela administração Trump. O Wall Street Journal foi o primeiro a reportar os detalhes da estrutura do acordo.

"Quaisquer detalhes sobre a estrutura do acordo do TikTok são pura especulação, a menos que sejam anunciados por esta administração", disse à CNN um alto funcionário da Casa Branca. O TikTok e sua empresa controladora ByteDance não responderam aos pedidos de comentário da CNN sobre o status do acordo.

Linha do tempo e tensões comerciais

O ex-presidente dos EUA, Joe Biden, havia assinado um projeto de lei – que entrou em vigor em 19 de janeiro – proibindo o TikTok no país, a menos que fosse cedido o controle de ao menos 80% de seus ativos a operadores americanos.

Trump, no entanto, suspendeu a proibição diversas vezes, em busca de realizar a venda por meio de um acordo com a China.

Agora, o acordo e as conversações são um precursor para uma reunião entre Trump e Xi, que enfrentam uma guerra comercial.

A China mostrou relutância em permitir que a ByteDance abra mão de sua participação nos EUA.

Com o aumento das tensões comerciais entre as empresas, evidenciado pelo anúncio pela China de que a Nvidia violou as leis antitruste, as autoridades chinesas parecem ter decidido cooperar.

A maior parte do acordo – organizando um grupo de investidores liderado pelos americanos para comprar os ativos do TikTok nos EUA – havia sido concluída em abril, segundo Bessent.

Porém, quando as tarifas de Trump entraram em vigor, efetivamente estabelecendo um embargo sobre todos os produtos chineses, as negociações do TikTok entraram em um impasse.

Após a redução das tarifas e a retomada das conversas entre EUA e China, Bessent disse que tanto Trump quanto Xi manifestaram interesse em retomar as discussões sobre o TikTok.

No entanto, detalhes importantes ainda precisavam ser resolvidos, incluindo preocupações com a segurança nacional dos EUA e a disposição da China em aprovar o acordo.

O TikTok, que conta com cerca de 170 milhões de usuários nos EUA, ficou temporariamente fora do ar no país em 18 de janeiro, um dia antes da entrada em vigor da Lei de Aplicativos Controlados por Adversários Estrangeiros.

Mas em 19 de janeiro, um dia antes de Trump assumir seu segundo mandato, ele disse que assinaria uma ação executiva no início de seu mandato garantindo que as empresas americanas não seriam punidas por hospedar o TikTok em suas lojas de aplicativos ou servidores.

A lei concede ao presidente ampla discricionariedade sobre como aplicar a proibição, e Trump já adiou a data de aplicação quatro vezes – mais recentemente para meados de dezembro. Críticos, no entanto, afirmam que as extensões de Trump contrariaram a vontade do Congresso.

Trump, ao final de seu primeiro mandato, havia defendido o banimento do TikTok – uma política que nunca foi aprovada, mas que Biden acabou apoiando e transformando em lei. No entanto, a opinião de Trump mudou depois que ele passou a ver o aplicativo de mídia social como um contribuinte para sua vitória eleitoral em 2024.

*Com informações de Clare Duffy, da CNN, com colaboração de Alayna Treene e Kevin Liptak, da CNN

 

 

 

 

 

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