Enem 2025: tema da redação levanta debate sobre conceito de envelhecimento

Professora Paula Nogueira, do Objetivo, analisa desdobramentos do tema da redação aplicada no primeiro dia de prova do Enem

André Nicolau, da CNN Brasil
Mão segura caneta dourada e escreve em um caderno
Tema da redação do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), “Perspectivas acerca do envelhecimento na sociedade brasileira”  • Freepik
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A professora Paula Nogueira, especialista em redação do curso Objetivo, analisou o tema de redação do Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) 2025: "Perspectivas acerca do envelhecimento na sociedade brasileira". Segundo a professora, o tema exige muita atenção e avaliação profunda sobre um grupo vulnerável da sociedade. 

De acordo com a docente, embora o tema não seja considerado fácil, exige um trabalho de reflexão sobre os desdobramentos do tema - além disso, ela pondera que o assunto corresponde ao "perfil do que o Enem vem cobrando nos últimos anos". 

 

Inversão da pirâmide etária 

A especialista ressalta que o tema da redação propõe um olhar especial sobre um grupo que carece atenção especial não apenas da sociedade, mas das leis e políticas públicas. 

Paula destaca ainda que, além da questão dos idosos, o tema requer a observação do "próprio conceito de envelhecimento, os sentidos dessa palavra, como isso pode ser diferente, como isso vai se atualizando conforme os acontecimentos da contemporaneidade, o mercado de trabalho, as relações entre as pessoas". 

Para ela, a abordagem do tema envolvia um olhar integrado à realidade e focado nos desafios para a dignidade da pessoa idosa, reconhecendo a violência, o abandono, e a negligência como questões cruciais. 

Economia e previdência: a crise demográfica e o sustento familiar 

A questão econômica se configura como um desafio central, segundo pesquisas sobre o tema. Paula compara, por exemplo, como o aumento da população idosa e a diminuição de jovens e trabalhadores levantam a crise da previdência, exigindo uma reflexão sobre como sustentar uma sociedade com menos contribuintes.

"A dimensão social dessa questão é evidente, pois, para muitas famílias, o dinheiro da aposentadoria é o principal meio de sustento, garantindo a sobrevivência de 4 a 5 pessoas. A redação pode argumentar que o envelhecimento populacional exige reformas estruturais que garantam a sustentabilidade da previdência e o bem-estar social dos mais vulneráveis." 

Desigualdade social e envelhecimento ativo: quem pode envelhecer com dignidade? 

A ideia de envelhecimento ativo (participação, lazer, trabalho) deve ser confrontada com a desigualdade social histórica do país. A professora questiona: "Quem é que tem as condições de passar por essa fase da vida, com saúde, com dignidade? São todas as pessoas?".

O texto deve argumentar que a velhice não é uniforme, alerta a especialista. "Enquanto o mais rico tem a opção de um envelhecimento ativo por escolha e condição de saúde, o mais pobre é frequentemente forçado a ser ativo devido à necessidade de trabalho ou à falta de acesso a condições básicas. É fundamental, portanto, uma perspectiva que pense as desigualdades e as diferenças." 

Etarismo e a questão da justiça: a desvalorização do Idoso 

etarismo e a desvalorização do idoso são preconceitos que precisam ser combatidos, como ilustra a visão desumana de comparar o idoso a um "móvel velho". "Além disso, a redação deve abraçar a questão da justiça, reconhecendo que "envelhecimento é muito diferente para ricos e para pobres" e varia em contextos culturais (comunidades indígenas) ou geográficos (periferias versus centros urbanos)", pondera Paula. 

Ela encerra reiterando que o tema levanta um importante debate sobre uma "renovação da perspectiva que seja justa, democrática e que garanta que todos sejam valorizados em suas especificidades e tenham o direito de viver mais com qualidade."