Ler ensina empatia a crianças, diz presidente da Biblioteca Nacional

Para Marco Lucchesi, a literatura infantil desperta empatia ao mostrar outras formas de vida, mundos e afetos, espelhando ou expandindo o que a criança vive em casa

Alana Gandra - Repórter da Agência Brasil, da Agência Brasil
Biblioteca Nacional, no Rio de Janeiro, foi fundada após a chegada da Família Real Portuguesa ao Brasil
Biblioteca Nacional, no Rio de Janeiro, foi fundada após a chegada da Família Real Portuguesa ao Brasil  • Halleypo/Wikimedia Commons
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O Dia Nacional do Livro, comemorado no Brasil nesta quarta-feira (29), pode ser uma oportunidade para estimular a leitura já a partir da infância, contribuindo para o desenvolvimento da pessoa. É o que afirma o presidente da Biblioteca Nacional, Marco Lucchesi.

“Sem dúvida alguma, a infância que começa com esse impacto de leitura acaba lendo o mundo dos livros e lê o livro do mundo. São duas descobertas que se complementam mutuamente. A criança vai criando dentro dela viagens para outros mundos, possibilidades de exercício de liberdade, de imaginação, de criatividade, e, particularmente também, de empatia".

 

Para Lucchesi, a literatura infantil desperta empatia ao mostrar outras formas de vida, mundos e afetos, espelhando ou expandindo o que a criança vive em casa

Em entrevista à Agência Brasil, ele lembra que o Dia do Livro no Brasil é comemorado em 29 de outubro por ser o aniversário de fundação da Biblioteca Nacional.

"São 215 anos de grandes aventuras, de grandes resultados para o país, de uma política da memória que atravessa inúmeras gerações. E cada uma imprime uma direção nessa mesma política”, afirma.

"O livro significa um grau de expansão da sensibilidade da criança, da imaginação, do intelecto e do espírito. É para um adulto melhor que a leitura orienta, para um adulto mais generoso, mais fraterno que a leitura abre portas e janelas com muita beleza.”

Incentivo à leitura

Com esse objetivo, a Fundação Biblioteca Nacional reforça a atuação da Casa da Leitura, aberta em 1993, que visa à formação de leitores e a garantir acesso democrático à literatura, destinada em especial ao público infantil e juvenil.

A unidade funciona na rua Pereira da Silva, 86, em Laranjeiras, zona sul do Rio de Janeiro. O funcionamento é de segunda a sexta-feira, das 10h às 17h.

“A Casa da Leitura tem um papel fundamental diante dos desafios de criar novas vozes, ampliando o lugar dessas crianças e adolescentes”, disse Lucchesi.

Esse olhar estratégico da BN foi ampliado na semana passada com a inauguração de uma biblioteca em âmbito hospitalar, sob a coordenação da instituição.

O pioneiro foi o Huap (Hospital Universitário Antonio Pedro), da Universidade Federal Fluminense. Segundo Lucchesi, a ideia é instaurar a biblioterapia, ou seja, trabalhar o livro como grande terapia, não só para as crianças neurodiversas, mas também para os acompanhantes e equipes médicas.

“Nós vamos continuar trabalhando com essa meta de hospitais, porque queremos abrandar a espera para todo mundo. A gente quer humanizar esses espaços com o projeto dessas bibliotecas, sempre com a curadoria da BN”.

Outra ação na área socioeducativa deverá ser lançada pela Biblioteca Nacional em fevereiro do próximo ano, com objetivo de levar livros a adolescentes privados de liberdade.

Lucchesi destacou que as crianças estão em toda parte e o exercício da leitura não é só levar a leitura às pessoas, mas aprender com as pessoas como elas podem ler.

Potencialização

Para o professor Godofredo de Oliveira Neto, imortal da ABL (Academia Brasileira de Letras), o livro potencializa a cognição da criança e a conduz para um mundo mais humanista.

Daí, a importância dessa data para sublinhar a importância do livro para a criança para, mais tarde, ter uma visão mais crítica e competente das coisas, inclusive da política e da ciência.

“Só pelo fato de o livro servir como material didático e paradidático nas escolas do Brasil inteiro, isso já mostra a importância do livro. Não é um capricho, é algo fundamental”, diz o imortal, que lembrou também que o livro em papel não morreu. “Ao contrário, ele consegue sobreviver ao lado do e-book, do livro digital”.

Oliveira Neto cita a experiência da Suécia, que tinha abolido o livro impresso e voltou atrás em sua decisão. "Então, os livros de conhecimento geral, de história, geografia, matemática, português, ciências humanas e sociais são fundamentais para a sustentação da criança no mundo", defendeu.

Sobre a literatura de ficção, o professor acrescenta que é positiva a experiência, em sala de aula, de ler com as crianças e constatar que a criação de outro mundo pelo autor ou autora coincide com histórias criadas pelas próprias crianças.

“É algo fascinante. Assim, elas mergulham no mundo literário e passam a gostar de ler. De novo, não é apenas um capricho, mas é algo fundamental para sua constituição no mundo. Acho fundamental essa data e a valorização do livro”, concluiu Oliveira Neto.

O presidente da ABL, Merval Pereira, acrescentou que o Dia Nacional do Livro “é um dia para celebrar o poder transformador da leitura em nossas vidas, uma oportunidade de incentivo do amor pelos livros e da valorização da literatura.

"Com o livro, as crianças exploram imaginação e habilidades. Ao ler, aprendem a reconhecer a importância do diálogo e da inclusão, valores cruciais para a vida moderna. Como formadores de opinião, devemos promover e facilitar o acesso aos livros a todos, desde os primeiros anos de vida. E encorajá-los a encontrar os vários mundos que existem dentro dos livros”.

Sabor especial

Na avaliação do professor Hubert Alqueres, vice-presidente da Abrelivros (Associação Brasileira de Livros e Conteúdos Educacionais) e vice-presidente de Operações da CBL (Câmara Brasileira de Livros), o dia 29 de outubro é uma data muito importante para os brasileiros celebrarem a leitura, os autores, as editoras, os livreiros, professores e, acima de tudo, os leitores.

Este ano, a data tem um sabor ainda mais especial, porque o Rio de Janeiro foi escolhido pela Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura) como a Capital Mundial do Livro. “É a primeira cidade de língua portuguesa a receber essa distinção.”,

“Para as crianças, a leitura ajuda a formar o vocabulário, o raciocínio, a sensibilidade, a criatividade. Acho que, para os jovens, ela amplia mundos, dá referências culturais, desenvolve o senso crítico. E, para quem está mais velho ou atravessando momentos difíceis de saúde, o livro é, muitas vezes, uma grande companhia”.

Também curador do Prêmio Jabuti, Alqueres comentou que é muito importante, no Dia Nacional do Livro, que se discuta essas políticas públicas cada vez melhores e mais efetivas para conquistar os leitores, englobando crianças, jovens e adultos, do ponto de vista da educação e da cultura.

Promovido pela CBL, o Prêmio Jabuti é o mais tradicional prêmio literário do Brasil. Criado em 1959 pelo então presidente da CBL, Edgard Cavalheiro, o prêmio foi idealizado para premiar autores, editores, ilustradores, gráficos e livreiros de maior destaque a cada ano.

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Agência BrasilVer original