Partidos agilizam convenções em meio a impasses para eleições municipais

Em São Paulo, no Recife e em Maceió, partidos realizam convenções no primeiro dia possível do calendário eleitoral, em 20 de julho

Henrique Sales Barros, da CNN, São Paulo
Milton Leite tem em mãos os destinos do União Brasil em São Paulo, Tulio Gadelha insiste em candidatura pela Rede e Ricardo Barbosa aguarda definição da direção nacional do PT
Leite tem em mãos o destino do União em São Paulo, Gadêlha insiste em candidatura pela Rede e Barbosa aguarda definição da direção nacional do PT  • Lucas Bassi/Rede Câmara; Mário Agra/Câmara dos Deputados; Reprodução/X (@ricardoptal)
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Em meio a impasses diversos a serem superados, alguns partidos optaram primeiro dia possível do calendário eleitoral para realizar suas convenções.

É o que acontece no sábado (20), por exemplo, com:

  • o União Brasil em São Paulo
  • a federação PSOL-Rede no Recife
  • e a federação Brasil da Esperança (PT-PCdoB-PV) em Maceió

Na capital paulista, o União tem, de um lado, o deputado federal e pré-candidato à prefeitura Kim Kataguiri, e, de outro, o vereador Milton Leite, presidente do diretório municipal da legenda e da Câmara Municipal.

Kataguiri tem sua pré-candidatura endossada pela direção nacional da legenda, que a entende como estratégica para a pretensão do partido de lançar o governador de Goiás, Ronaldo Caiado, à Presidência da República em 2026.

Leite, porém, é mais comprometido com questões da política paulistana do que com articulações em Brasília — ele está na Câmara Municipal desde 1997.

Até o prefeito se aproximar do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e guinar à direita, Leite era o principal aliado de Ricardo Nunes (MDB) na prefeitura.

Nas últimas semanas, o vereador colocou a aliança com Nunes em xeque ao ir à imprensa reclamar da relação que vinha tendo com o prefeito, que já anunciou um indicado de Bolsonaro para a vice de sua chapa — posto pleiteado por Leite.

Nunes e Leite devem se reunir nesta sexta-feira (19), na véspera da convenção que decidirá os rumos do União na capital, apurou a CNN.

E em meio a tudo isso, na quinta (18), uma peça gráfica com a foto do vereador e a chamada "Milton Prefeito" começou a circular entre integrantes da Executiva paulistana da legenda.

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Milton Leite não voltou a falar diretamente à imprensa sobre por que estaria insatisfeito com Nunes. Procurado pela CNN, ele ainda não se manifestou. A expectativa é de que o vereador só fale abertamente sobre a situação no dia da convenção.

Embora sua relação com Nunes venha sendo de idas e vindas e seu partido já tenha conversado com o empresário e também pré-candidato Pablo Marçal (PRTB), Milton Leite pouco fala sobre Kataguiri.

Fontes do partidos disseram à CNN que o vereador não quer dar impulso à pré-candidatura do deputado por receio de ser "trucado" pela direção nacional do União, que poderia pressioná-lo a lançar o parlamentar.

Articulações e federações

Em Maceió e no Recife, as federações capitaneadas por PT e PSOL se assemelham por terem pré-candidaturas lançadas, mas a pedra no sapato das duas são diferentes: uma resolução vinda de cima, no primeiro caso, e uma pré-candidatura dissidente, no segundo.

O PT de Maceió lançou o nome Ricardo Barbosa à prefeitura da capital alagoana, mas sua pré-candidatura foi colocada em compasso de espera após a direção nacional do partido acionar uma resolução interna, que diz que a palavra final sobre capitais depende de um aval de cima.

A federação Brasil da Esperança tem sido demandada para formar parte da coligação de Rafael Brito (MDB), o pré-candidato do grupo do senador Renan Calheiros (MDB), aliado de primeira hora do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em Alagoas.

Na capital alagoana, a federação deve realizar sua convenção no sábado e até indicar o nome de Barbosa, mas uma reunião na semana seguinte, envolvendo a direção nacional do PT, deve sacramentar a oficialização ou o descarte da candidatura, apurou a CNN.

Já no Recife, a federação PSOL-Rede tem definida, desde maio, uma chapa composta pela deputada estadual Dani Portela (PSOL), na cabeça, e Alice Gabino (Rede), na vice, mas o deputado federal Tulio Gadêlha (Rede) segue se afirmando pré-candidato.

Na semana passada, a Rede aprovou uma resolução classificando como infidelidade partidária os casos de filiados que não apoiam as definições eleitorais da legenda – neste caso: a pré-candidatura de Tulio.

"A Rede tem direito a colocar um nome", disse à CNN a presidente do diretório municipal da legenda, Luciana Nunes.

A dirigente afirma que, seguindo resolução de abril da direção nacional da federação, como Recife é uma cidade com mais de 200 mil habitantes em que não há consenso, decisões sobre candidaturas e coligações devem passar pela instância nacional – e este tem sido o argumento mais utilizado por Tulio para defender sua pré-candidatura.

"É direito do nosso partido recorrer dessa decisão”, afirma Tulio, em vídeo encaminhado à CNN por sua assessoria.

Segundo Luciana, a resolução da Rede apenas define que, enquanto a sigla estiver pleiteando um filiado como candidato pela federação, os membros do partido devem acompanhar a legenda.

“Se a decisão da federação for pela Dani, a Rede vai apoiar, com certeza”, afirma.

Na instância municipal do grupo, a expectativa é de que não haja interferência no processo local. Presidente do diretório da federação no Recife, Luiza Carolina diz que o PSOL - seu partido - "tem muito apreço" pela federação e pela Rede e que a disputa no Recife "é específica com o Tulio".

"É importante ratificar essa posição (chapa Portela-Gabino) o mais rápido possível", diz. "A gente já tem um processo de construção, e não há mais espaço para disputas midiáticas", acrescenta.