“Encenador e dramaturgo mais importante para qualquer geração”, diz biógrafo de Zé Celso
Aimar Labaki explica a importância do diretor para a transformação do Brasil dos últimos 60 anos
- 1 de 24
O diretor de teatro José Celso Martinez Correa, ou Zé Celso, durante entrevista realizada na capital paulista. • MILTON MICHIDA/ESTADÃO CONTEÚDO/AE
- 2 de 24
O diretor de teatro Zé Celso fala ao público durante audiência pública no Teatro Oficina, em São Paulo, para discutir a aprovação da Condephaat para a construção de duas torres comerciais ao lado do teatro., em setembro de 2013. • JOSÉ PATRÍCIO/ESTADÃO CONTEÚDO/AE
- 3 de 24
O diretor de teatro Zé Celso fala ao público durante audiência pública no Teatro Oficina, em São Paulo, para discutir a aprovação da Condephaat para a construção de duas torres comerciais ao lado do teatro., em setembro de 2013. • JOSÉ PATRÍCIO/ESTADÃO CONTEÚDO/AE
-
- 4 de 24
Zé Celso Martinez Correa, diretor, dramaturgo e ator, no Teatro Oficina em São Paulo. • DANIEL TEIXEIRA/ESTADÃO CONTEÚDO/AE
- 5 de 24
Zé Celso Martinez Correa, diretor, dramaturgo e ator, no Teatro Oficina em São Paulo. • DANIEL TEIXEIRA/ESTADÃO CONTEÚDO/AE
- 6 de 24
Retrato do ator e diretor José Celso Martinez Corrêa (c), mais conhecido como Zé Celso, durante peça teatral, em fevereiro de 1983. • ESTADÃO CONTEÚDO
-
- 7 de 24
Juntos há quase 40 anos, os diretores Zé Celso e Marcelo Drummond se casaram no início de junho • Reprodução
- 8 de 24
O diretor de teatro Zé Celso fala ao público durante audiência pública no Teatro Oficina, em São Paulo • JOSÉ PATRÍCIO/ESTADÃO CONTEÚDO/AE
- 9 de 24
O diretor de teatro José Celso Martinez Correia, ou Zé Celso, sorri em teatro da capital paulista. • ESTADÃO CONTEÚDO
-
- 10 de 24
Zé Celso atuando como Dona Poloca em ensaio de "O Rei da Vela", de Oswald de Andrade, no teatro Paulo Autran, em São Paulo, em outubro de 2017. Ele também foi diretor da remontagem da peça. • DANIEL TEIXEIRA/ESTADÃO CONTEÚDO/AE
- 11 de 24
O diretor de teatro José Celso Martinez Correa, ou Zé Celso, durante entrevista realizada no Teatro Oficina, na capital paulista, em setembro de 1995. • O diretor de teatro José Celso Martinez Correa, ou Zé Celso, durante entrevista realizada no Teatro Oficina, na capital paulista, em setembro de 1995.
- 12 de 24
O diretor de teatro José Celso Martinez Correa, ou Zé Celso, durante entrevista realizada na capital paulista, em agosto de 1993. • RENATA JUBRAN/AE
-
- 13 de 24
Brasil, São Paulo, SP. 04/02/1983. Parte do Grupo Oficina de teatro é vista reunida com um de seus fundadores, José Celso Martinez Corrêa, mais conhecido como Zé Celso (2º à dir.). - Crédito:DOMICIO PINHEIRO/ESTADÃO CONTEÚDO/AE/Codigo imagem:39678
- 14 de 24
O diretor de teatro José Celso Martinez Corrêa, ou Zé Celso, em camarim de teatro da capital paulista, em junho de 1978. • ROLANDO DE FREITAS/ESTADÃO CONTEÚDO/AE
- 15 de 24
Foto de arquivo de novembro de 2014 do dramaturgo José Celso Martinez Corrêa durante entrevista concedida em São Paulo. • GABRIELA BILÓ/ESTADÃO CONTEÚDO
-
- 16 de 24
Foto de arquivo de novembro de 2014 do dramaturgo José Celso Martinez Corrêa durante entrevista concedida em São Paulo. • GABRIELA BILÓ/ESTADÃO CONTEÚDO
- 17 de 24
Dramaturgo José Celso Martinez durante audiência pública realizada no Teatro Oficina, na Bela Vista, região central de São Paulo • JOSÉ PATRÍCIO/ESTADÃO CONTEÚDO/AE/
- 18 de 24
Foto de arquivo de novembro de 2014 do dramaturgo José Celso Martinez Corrêa durante entrevista concedida em São Paulo. • GABRIELA BILÓ/ESTADÃO CONTEÚDO
-
- 19 de 24
Foto de arquivo sem data do dramaturgo José Celso Martinez Corrêa, o Zé Celso, em apresentação no Teatro Oficina, em São Paulo. • ALLAN CALISTO/SEM DATA DEFINIDA/AGÊNCIA F8/ESTADÃO CONTEÚDO
- 20 de 24
Foto de arquivo sem data do dramaturgo José Celso Martinez Corrêa, o Zé Celso, em apresentação no Teatro Oficina, em São Paulo. • ALLAN CALISTO/SEM DATA DEFINIDA/AGÊNCIA F8/ESTADÃO CONTEÚDO
- 21 de 24
Zé Celso lutava na Justiça contra Silvio Santos há 43 anos por terreno do Oficina • Teatro Oficina Uzyna Uzona / Reprodução
-
- 22 de 24
Foto de arquivo, de novembro de 2018, do dramaturgo José Celso Martinez Corrêa, o Zé Celso, na ocasião dos preparativos da peça "Roda Viva", no Teatro Oficina, em São Paulo. • GABRIELA BILÓ/ESTADÃO CONTEÚDO
- 23 de 24
Foto de arquivo, de março de 2017, do dramaturgo José Celso Martinez Corrêa, o Zé Celso, no Teatro Oficina, em São Paulo. • DANIEL TEIXEIRA/ESTADÃO CONTEÚDO
- 24 de 24
Foto de arquivo do dramaturgo José Celso Martinez Corrêa, o Zé Celso, morto nesta quinta-feira (6). • Estadão Conteúdo
-
“O Zé Celso tem algo que é único no mundo: ele é um grande artista que teve duas florações”, explica o dramaturgo Aimar Labaki, autor do livro “José Celso Martinez Corrêa”, lançado pela editora Publifolha em 2002.
“Todo grande artista tem uma grande floração e depois eventualmente lança algumas outras obras importantes de tempos em tempos. O Zé não, ele tem uma grande floração, que vai de 1964 a 1972 e, de repente, em 1991, monta a peça ‘As Boas’, reabre o Teatro Oficina com o ‘Ham-let’ e passa mais dez anos montando obras-primas. Não há nenhum outro artista assim no mundo.”
O biógrafo cresceu próximo à rua Jaceguai no tempo em que Zé Celso atravessava sua “primeira florada” e lembra como o artista era visto, logo depois daquele período, como “carta fora do baralho”, alguém que vivia das glórias do passado.
“Nos anos 60, o Zé estava no epicentro do pensamento brasileiro, não só da arte – o tropicalismo como um todo: Zé Celso, Oiticica, Caetano, Glauber Rocha… Esses caras eram o centro do redemoinho que pensava o Brasil ainda no rescaldo de 1964 até 1968”, continua Labaki. “Ele consegue produzir até 1972, antes de ser preso, torturado e exilado. Esse lugar ninguém tira dele.”
Labaki também lembra que na década de 1980, depois de voltar do exílio em Portugal, o dramaturgo tornou-se um dos críticos mais vocais da forma como a abertura democrática depois da ditadura militar vinha se desenvolvendo.
“Ele achava que só a abertura não era suficiente e que aquela história de voltar ao Brasil maravilhoso que tinha antes de 1964 era mentira. E isso foi um dos motivos que o fez ser tão odiado naquele momento. E ele tinha razão, não por acaso a gente chegou onde chegou”, diz Labaki.
O autor também comenta sobre sua persona pública.
“Ele já tinha transbordado o teatro para sua vida dele desde o espetáculo Gracias, Señor, de 1972, e a partir dali ele fez de sua vida um teatro. Ele usou sua persona pública a favor das causas que defendia, mas não acho que ela fosse uma construção, o personagem não era tão diferente da pessoa”, lembra.
“Mas as pessoas não conseguiam ver sua delicadeza no meio de todo aquele brilho: Zé tocava piano, almoçava com a família todo domingo, era uma pessoa extremamente ligada à própria família – e nunca escondeu isso.”
Morte do irmão
Labaki aproximou-se de Zé Celso quando começou a escrever um livro que se tornará documentário sobre seu irmão, Luís Antônio, assassinado com 104 facadas no Rio de Janeiro em 1988.
“O Zé transformou a luta pela prisão do assassino num movimento social no ano seguinte, que foi o precursor de todos os movimentos civis a favor do Rio de Janeiro que vieram depois. Todo domingo, às seis da tarde, ele fazia um palanque em algum lugar da zona sul e reunia nomes como Fernanda Montenegro, Marília Pera, exigindo a reabertura do processo para descobrir e prender o assassino de Luís Antônio – o que conseguiu fazer”, comenta o autor, que lembra que Luís Antônio, além de ele mesmo um grande encenador, também foi quem cuidou do Oficina quando Zé Celso foi obrigado a mudar-se do Brasil.
“Zé Celso é um dos encenadores e dramaturgos mais importantes para qualquer geração e sua estética extremamente particular é incômoda para um país careta como o Brasil. Essa caretice não vem só por seu lado sexual, que é quase folclórico e tão evidente em sua vida e obra”, explica o biógrafo.
“Mas essa caretice vem pelo fato de ele sempre ter um pensamento sempre contra a corrente. E se você olha o trabalho do Zé é óbvio que ele dionisíaco e absolutamente sexuado, mas é extremamente racional, apolíneo e extremamente culto”, lembra o biógrafo, que comenta que o incêndio que o acabou o vitimando talvez não fosse tão trágico se o dramaturgo não tivesse uma biblioteca e vários documentos de papel que ajudaram o fogo queimar mais rápido.
“Mas depois que as pessoas que só lembram dele pelo folclore morrerem, Zé Celso vai ser lembrado por sua obra e por sua contribuição para o pensamento sobre o Brasil”, conclui Labaki. “Não dá pra pensar no Brasil dos anos 60 pra cá, sem se perguntar, a cada momento histórico, de que lado estava o Zé. E você pode ter certeza que ele estava sempre no lado certo.”