
Brasil completa 4 anos da SAF e ultrapassa 100 clubes
Botafogo, que é SAF, disputou a 1ª Copa do Mundo de Clubes da Fifa
O Brasil chegou a marca de 117 clubes que se tornaram Sociedade Anônima do Futebol (SAF), exatamente no momento em que vai completar 4 anos da homologação, em 6 de agosto de 2021.
Deste montante atual, apenas 6 equipes estão na Série A, casos de Atlético-MG, Bahia, Botafogo, Cruzeiro, Fortaleza e Vasco da Gama. Já na Série B encontram-se 8 times: Amazonas, Atlético Goianiense, Cuiabá, América Mineiro, Athletic Club, Coritiba, Ferroviária e Novorizontino.
"É inegável que, com a transformação desses clubes em SAF, ao menos inicialmente, houve investimento no futebol, com a chegada de novos atletas e melhora na qualidade do elenco e nos resultados", contextualiza Talita Garcez, sócia do Garcez Advogados e Associados.
Sul e Sudeste fortes
A região que concentra o maior número de SAFs do país é o estado de São Paulo, com 29, mas, curiosamente, nenhum corresponde à Série A. É seguido por Paraná (15), Minas Gerais (13), Santa Catarina (9) e Goiás (9), Bahia (8), Distrito Federal (6), Rio de Janeiro (4), Rio Grande do Norte (4), Ceará (3), Mato Grosso (3), Amazonas (2), Espírito Santo (2), Paraíba (2), Pernambuco (2), Acre (1), Alagoas (1), Mato Grosso do Sul (1), Rio Grande do Sul (1), Roraima (1) e Sergipe (1). Os únicos estados que não possuem times com SAF são Amapá, Maranhão, Pará, Piauí, Rondônia e Tocantins.
Cuiabá empresa antes da SAF
O time do Mato Grosso já operava como clube-empresa antes da lei, desde sua fundação, em 2001, e teve continuidade com a a entrada da família Dresch na gestão, em 2009.
Além de conquistar alguns recordes, como permanecer na Série A por quatro anos seguidos e disputar sua primeira competição sul-americana, o clube fez recentemente um investimento de mais de R$ 50 milhões na construção de um centro de treinamento, com padrões equiparados aos do futebol europeu.
"Na minha visão ainda é só o início desta transformação, com muitas empresas do exterior querendo investir aqui. Ainda é um processo que, pra ficar ainda mais organizado, vai levar de cinco a sete anos, até termos regras mais claras e profissionais do que é hoje", afirma Cristiano Dresch, presidente do Cuiabá.
Em Ribeirão Preto, o Botafogo-SP foi um dos primeiros clubes do país a migrar do modelo associativo para uma gestão empresarial. Ainda em meados de 2018, Adalberto Baptista, dirigente que passou pelo São Paulo, assumiu o controle do futebol do clube, o que deu início ao projeto da Botafogo SA. Depois de passar para um processo de reestruturação financeira, o Pantera anunciou um investimento de mais de R$25 milhões no novo Centro de Treinamento para as categorias de base do clube.
“Desde que entramos no Botafogo, conseguimos estruturar o clube em diversos aspectos. A reconstrução deve ser feita de forma responsável. Funcionamos como uma empresa, com organograma, estratégias e respeitando os limites financeiros. A mudança para o modelo de SAF deu um novo rumo para a história do clube, com muito mais profissionalismo e preocupação com os aspectos financeiros”, comenta Adalberto Baptista, gestor da Botafogo SA.
O futuro
O cenário que se desenha para os próximos anos é de esperança, afinal, os clubes negociam a criação de uma liga que visa uma maior igualdade na distribuição das receitas e o controle das operações, inclusive com negociação dos direitos de TV e receitas.
Para Cristiano Dresch, presidente do Cuiabá, o número de clubes que se tornarão SAF será alto. "Acredito em 70%, 80%. Muitos times tem necessidade de virar empresa, incluindo os grandes, que vão precisar desta transformação para sobreviver. Mas muita coisa precisa ser corrigida, em especial com uma lei específica para o fair play financeiro. Hoje ainda temos uma facilidade muito grande para um clube entrar em recuperação judicial e dar um calote generalizado", aponta.
Cristiano Caús, sócio da CCLA Advogados, entende que a SAF por si só não é a solução e depende da gestão. Ao mesmo tempo, enxerga que esse modelo pode ser o mais viável para grandes clubes como Corinthians e Flamengo.
"A SAF permite fazer projeções superiores a cinco ou dez anos. Seriam implementadas melhorias com profissionais de mercado, desde a base até o profissional, passando pelo departamento administrativo, financeiro, comercial, marketing, jurídico, entre outros, que não estariam sujeitos às mudanças de grupos políticos e acordos de eleição", exemplifica.
Talita Garcia, do Garcez Advogados e Associados, também corrobora da opinião. "O futuro dos times não está necessariamente atrelado à transformação em SAF. Entendo que clubes bem administrados, que adotam boas práticas de governança, e que possuem credibilidade com têm potencial para arrecadar receitas diversificadas, só se transformarão em SAF caso encontrem vantagens adicionais nesse modelo — como, por exemplo, benefícios tributários", indica.