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    Copa do Brasil: campanha de doação de sangue tem venda de lugar na fila e de ingressos

    Ação era válida para o primeiro jogo da decisão entre Flamengo e São Paulo

    Guilherme Gamada CNN

    Neste domingo (17), o Hemorio, Hemocentro coordenador do Estado do Rio de Janeiro e a Superintendência De Desportos Do Estado Do Rio De Janeiro (Suderj) realizaram a campanha “Sangue, amor e paixão”, que ofereceu 100 convites para o primeiro jogo da final da Copa do Brasil entre Flamengo e São Paulo, no Maracanã.

    De acordo com a Secretaria de Saúde do Rio de Janeiro, ao todo, a campanha arrecadou 257 bolsas de sangue, batendo o recorde histórico de doações no domingo, que costuma ser de 42 bolsas.

    Entretanto, nas redes sociais, torcedores denunciam que cambistas negociavam a compra dos ingressos antes mesmo dos primeiros doadores realizarem a coleta do sangue. Os bilhetes para acompanhar a partida custam entre R$ 400 e R$ 4.500.

    Aluguel de fila e venda de ingressos

    Em grupos de torcedores do Flamengo, circularam propostas de compra de lugares na fila, que eram ofertadas em 250,00 reais.

    Em entrevista à CNN, um dos doadores que prefere não se identificar relata falta de fiscalização e tumulto na fila para a doação. “Campanha enganosa, não é ‘doe sangue e ganhe um ingresso”, é ‘não doe sangue e venda seu ingresso’”, afirma.

    Torcedores ainda relatam moradores em situação de rua sob efeito de drogas e efeito de álcool entre os que acamparam para garantir os ingressos. Vale ressaltar que o consumo dessas substâncias não é permitido para realização da doação, por colocar em risco a saúde do doador e do receptor.

    Em nota à CNN, a Suderj informa que as cortesias foram entregues às mãos, que não houve distribuição de ingressos nominais e que desconhece venda de lugares na fila.

    Para José Francisco Comenalli Marques Jr., presidente da Associação Brasileira de Hematologia, Hemoterapia e Terapia Celular (ABHH), a entrega de ingresso não nominais, que facilita a venda, é um dos aspectos inadequados da campanha.

    “A doação de sangue deve ser um ato altruísta e benevolente. Não pode haver recompensas, de qualquer natureza. Quem se propõe a doar sangue não deve querer nada em troca”, afirma.

    De acordo com ele, o resultado da campanha são doadores de má qualidade, excesso de rejeição na triagem e ineficiência na fidelização de doadores adequados. Marques ressalta que campanhas como essas são contra a legislação.

    O que diz a legislação

    Em nota à CNN, o Ministério da Saúde informa que, conforme estabelecido no Art. 14 da Lei nº 10.205/2001, são princípios e diretrizes da Política Nacional de Sangue, Componentes e Hemoderivado a utilização exclusiva da doação voluntária, não remunerada, do sangue, cabendo ao poder público estimulá-la como ato relevante de solidariedade humana e compromisso social; e a proibição de remuneração ao doador pela doação de sangue, com vista à proteção do doador e do receptor do sangue doado.

    A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) ainda destaca que doação de sangue deve ser voluntária, anônima e altruísta, não devendo o doador, de forma direta ou indireta, receber qualquer remuneração ou benefício em virtude da sua realização e entende que a campanha da cantora Ludmilla não fere a Constituição Federal e Lei do Sangue (Li 10205/01), que regulamenta o art.199 da Constituição Federal.

    A Anvisa ainda ressalta que incentivos podem ser fornecidos, desde que seja a todos os candidatos à doação, não apenas aos doadores efetivos.

    Questionada sobre se os ingressos foram entregues a quem não pode doar, a Suderj informa que os ingressos foram entregues aos primeiros doadores.

    *Sob supervisão de Márcia Barros

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