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    Perícia oficial não identifica fala racista de Rafael Ramos contra Edenílson

    Em jogo entre Internacional e Corinthians, Edenilson acusou jogador corintiano de tê-lo chamado de "macaco"

    Douglas PortoAndré Luiz Rosada CNN , em São Paulo

    O laudo pericial do Instituto Geral de Perícias (IGP) do Rio Grande do Sul, enviado nesta quarta-feira (8) à 2ª Delegacia de Polícia de Porto Alegre (RS), não conseguiu identificar na fala do jogador Rafael Ramos, do Corinthians, movimentos compatíveis com a palavra “macaco” durante uma partida contra o Internacional, realizada no dia 14 de maio pelo Campeonato Brasileiro.

    Foram enviados quatro vídeos para análise, sendo selecionado um “por apresentar maior extensão da cena questionada e melhor qualidade de sinal”. As imagens foram tratadas por software de melhoramento e foram extraídos 41 frames.

    “É tecnicamente inviável localizar todos os vestígios que definem a sequência de consoantes e vogais emitidas. A maior parte dos gestos que compõem a fala ocorrem justamente no ambiente intraoral ou em outras porções internas, como a faringe e a laringe”, explica a perícia.

    “Nem em vídeos com excelente qualidade de imagem é possível obter as informações do que se passa na parte não visível do aparelho fonador”, continua.

    O órgão esclarece que não conseguiram encontrar metodologia científica, aplicada à análise forense de vídeos para a leitura labial. Os registros enviados também não possuem som das falas que interessavam à investigação, o que impossibilitou a perícia de áudio.

    “Por essas razões, é impróprio que a perícia criminal oficial do Estado afirme, com responsabilidade do ponto de vista processual e científico, o que foi proferido pelo jogador na cena questionada.”

    Procurado pela CNN, o Internacional informou que “mantém o acompanhamento do caso envolvendo Edenilson, dando suporte ao atleta. O processo segue seu andamento normal na justiça criminal e desportiva. O Clube aguarda desdobramentos.”

    Após a divulgação do laudo, Edenílson apagou todas as fotos de sua conta no Instagram e mudou seu nome para “Macaco Edenilson Andrade dos Santos”.

    E escreveu: “não iriam nos calar? Já nos calaram. Se ofendidos aceitem, engulam a seco. Finjam que não escutaram, é uma luta desleal, é uma luta inconclusiva.”

    Outros laudos

    Dois laudos contratados pela defesa de Rafael Ramos concluíram que o atleta não pronunciou a palavra “macaco”.

    O primeiro, divulgado em 20 de maio, concluiu que Ramos falou “pô, cara*** [palavra de baixo calão]”.

    Já o segundo, publicado em 3 de junho, apontou que o corintiano teria dito “f***-se mano cara*** [palavras de baixo calão]”.

    Entenda o caso

    Defendendo a liderança do Campeonato Brasileiro, o Corinthians foi a Porto Alegre enfrentar o Internacional em 14 de maio. Durante a partida, Edenilson afirmou ao árbitro que o lateral-direito Rafael Ramos o teria chamado de “macaco”. A partida ficou paralisada por alguns minutos e foi retomada.

    Edenilson prestou queixa contra Ramos a agentes da Polícia Civil, que foram ao vestiário apurar o ocorrido com o jogador. Em publicação nas redes sociais, o atleta do time gaúcho pontuou que “sabe o que ouviu”, reiterou que sofreu o xingamento e repudiou o suposto ato do companheiro de profissão.

    Em nota, o Internacional confirmou que Edenilson relatou ter sofrido injúria racial por parte de Ramos. O pronunciamento acrescenta que “é inadmissível que ainda ocorram fatos desse tipo em 2022, não há espaço para o racismo em nossa sociedade”.

    “O Clube do Povo reitera que repudia todo e qualquer ato de preconceito e apoia o seu atleta”, finaliza o texto.

    O Corinthians se pronunciou oficialmente apenas na madrugada de domingo (15), informando que Ramos negou que proferiu o xingamento e que o atleta foi procurar Edenilson no vestiário, após a partida, para se explicar.

    Ainda segundo o clube paulista, “em decorrência da denúncia feita pelo atleta colorado, a lei obriga que se trate o caso como flagrante, seguido de detenção. O pagamento de fiança não implica admissão de culpa, permitindo ao atleta que se defenda em liberdade no inquérito”.

    O Corinthians finaliza pontuando que tanto o clube quanto o atleta estarão à disposição das autoridades.

    Ramos se pronunciou, alegando que “não fui, não sou, e nunca serei racista”. “Fui me explicar para meu colega de profissão, sempre me pautei por uma postura correta em toda a minha carreira, e não iria ser de outra forma agora”.

    Recorde de racismo no futebol

    Com nove casos de injúria racial, sendo seis na Libertadores e três na Copa Sul-Americana, e em todos os episódios de discriminação, os alvos foram torcedores brasileiros, a Conmebol decidiu desde o dia 9 de maio endurecer as sanções, em todas as competições da entidade, contra atos de discriminação que ocorram “por motivação de cor de pele, raça, sexo ou orientação sexual, etnia, idioma, credo ou origem”.

    Ao alterar as medidas previstas no artigo 17 de seu Código Disciplinar, a Conmebol subiu a multa mínima contra esses atos de US$ 30 mil para US$ 100 mil. A partir das alterações, o órgão judicial responsável por um caso pode ainda determinar que o clube punido jogue um ou mais jogos sem torcida, ou até que tenha que fechar seu estádio para partidas.

    Somente em abril, cinco casos de racismo foram registrados em jogos válidos pela Libertadores, em jogos do Flamengo, Corinthians, Bragantino, Palmeiras e Fortaleza. A última ocorrência, no dia 17 de maio, aconteceu momentos antes da partida entre Corinthians e Boca Juniors e envolveu um torcedor do time argentino que fez gestos racistas para brasileiros.

    Dos nove casos, até o momento a Conmebol abriu sete investigações para apurar as denúncias. Em três deles, a suspeita de injúria racial foi comprovada e os clubes foram multados. A sentença mais recente foi dada contra o Emelec, no valor de US$ 30 mil (cerca de R$ 150 mil). A decisão da entidade, do dia 18 do mês passado, julgou registros de uma partida onde um torcedor do Emelec foi filmado chamando palmeirenses de “macacos” e rindo com outros torcedores.

    No final de abril, foi a vez da confederação multar o time argentino River Plate, também em US$ 30 mil. Um torcedor do clube jogou uma banana na direção da torcida do Fortaleza durante uma partida da Libertadores.

    O que é injúria racial

    Injúria racial é um crime é previsto no Código Penal e estabelece punição de 1 a 3 anos de reclusão e multa para quem ofende a dignidade de outra pessoa utilizando elementos referentes a raça, cor, etnia, religião, entre outros. Consistindo, assim, ataque à honra ou à imagem e violação de direitos constitucionais.

    Diferente do crime de racismo, previsto na Lei 7.716/1989, que ocorre quando a pessoa do agressor atinge um grupo ou coletivo de pessoas, discriminando uma etnia de forma geral. Assim, no crime de racismo, a ofensa é contra uma coletividade, por exemplo, toda uma raça, não há especificação da vítima.

    (*Com informações de Leandro Silveira, Tiago Tortella, Filipe Brasil e Lucas Janone, da CNN)

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