
Por que o novo torneio de duplas mistas do US Open é tão polêmico?
Questionamentos envolvem formato e impacto sobre jogadores de duplas profissionais

A ideia de ver os melhores jogadores de simples do masculino e do feminino formando dupla sempre intrigou os fãs de tênis ao redor do mundo.
É parte do motivo pelo qual as duplas mistas costumam atrair tanto interesse durante as Olimpíadas, como aconteceu em Paris 2024, com Taylor Fritz e Coco Gauff, além de Daniil Medvedev e Mirra Andreeva, formando parcerias estreladas.
Trata-se também de uma das raras oportunidades em que homens e mulheres podem competir diretamente entre si em esportes profissionais.
Agora, o US Open – o quarto e último Grand Slam da temporada – tenta capitalizar esse interesse com uma versão reformulada das duplas mistas.
Em vez de acontecer simultaneamente às competições de simples e duplas, como tradicionalmente nos Slams, a nova edição reduzida será realizada na terça e na quarta da chamada “Fan Week”, que antecede a chave principal do torneio, marcada para a semana seguinte.
Dezesseis duplas participam de um formato encurtado: melhor de três sets, mas cada set vai apenas até quatro games. Não haverá vantagem após 40 iguais: o ponto seguinte define o game. Além disso, o terceiro set será substituído por um tie-break de 10 pontos.
“É uma mudança radical do US Open”, disse Bob Bryan – metade da dupla dos irmãos Bryan, a mais vitoriosa da história das duplas masculinas – à CNN Sports.
Segundo ele, o torneio deve lotar o Arthur Ashe Stadium com grandes estrelas jogando. O lado negativo é que os especialistas em duplas não terão chance de disputar ou defender títulos. Por outro lado, a premiação aumentou de forma significativa.
A dupla campeã receberá US$ 1 milhão, um salto de US$ 800 mil em relação a 2024, cinco vezes mais que no ano anterior.
E a estratégia do US Open para atrair nomes de peso parece ter dado certo.
Mas nem todos aprovam.
Atletas comentam
Kristina Mladenovic, ex-número 1 do mundo em duplas e nove vezes campeã de Grand Slam entre duplas e mistas, disse que é “constrangedor” ouvir jogadores falarem que vão “se divertir” no torneio como preparação para a chave de simples.
“Um Grand Slam não é preparação nem diversão”, disse à Eurosport. “São anos de sacrifício. Quando você é jovem, sonha em vencer um, mesmo que seja em duplas.
“Em termos de estratégia de negócios, é uma ideia brilhante… mas, do ponto de vista esportivo, é problemático porque mexe com a essência do tênis. Um Grand Slam é uma competição cheia de história, tanto em simples quanto em duplas.
“Não há problema em organizar esse tipo de evento, mas, acima de tudo, não o chamem de Grand Slam.”
Na época do anúncio, os atuais campeões de duplas mistas do US Open, Sara Errani e Andrea Vavassori, classificaram a mudança como uma “profunda injustiça”, embora depois tenham recebido um convite para defender o título de 2024.
Jan Zielinski, campeão de duplas mistas no Australian Open e em Wimbledon de 2024, afirmou que “não houve comunicação com os jogadores” por parte da organização.
Mesmo assim, os organizadores já confirmaram que o torneio, chamado de “pseudoexibição” por Errani e Vavassori, contará oficialmente como Grand Slam.
Ou seja, além de perderem a chance de disputar uma premiação que poderia mudar suas carreiras, os especialistas em duplas também foram privados de lutar por outro título de Slam.
Explicação da entidade
A CNN entrou em contato com a Associação de Tênis dos Estados Unidos (USTA) para comentar o caso.
Mike Bryan, irmão gêmeo de Bob, disse entender a frustração dos atletas.
“Se ainda estivéssemos no circuito e ficássemos de fora da chance de ganhar um Grand Slam em duplas mistas, provavelmente estaríamos chateados”, disse.
“Agora que estamos aposentados, vemos de outra forma: o US Open é um negócio. Mas você não quer que isso desvalorize um título de Slam. Vamos ver. Talvez não. Talvez até torne o título ainda maior.”
No entanto, ser grande em simples não significa automaticamente formar uma boa dupla. Posicionamento em quadra, tática e tempo são muito diferentes, e especialistas em duplas costumam ter mais recursos junto à rede do que os principais nomes de simples.
Atualmente, apenas Mirra Andreeva e Jasmine Paolini estão entre os 15 melhores do mundo tanto em simples quanto em duplas. Coco Gauff também já figurou no top 3 dos dois rankings (nº 2 em simples e nº 1 em duplas).
Durante os Slams, é comum que as competições de duplas e duplas mistas atraiam menos público do que as de simples. Para Mike Bryan, havia até o risco de o evento virar uma espécie de “nota de rodapé” no US Open.
“Como jogadores de duplas, esperamos que essa mudança ajude a aumentar a popularidade da modalidade, e eu acho que vai”, disse Bob. “Estamos animados para ver como será.
“Vamos ver se outros Slams vão se interessar em adotar a mesma mudança, mas é uma decisão inovadora e pode revolucionar as duplas mistas nos próximos anos.”


