OPINIÃO
Brasil precisa escolher entre o futuro da energia ou as termelétricas


O setor elétrico brasileiro está diante de uma encruzilhada histórica: ou avança na modernização da matriz elétrica com soluções inovadoras e sustentáveis, ou perpétua um modelo caro, inflexível e poluente. Os Leilões de Reserva de Capacidade (LRCAP), programados para junho de 2025, podem consolidar o Brasil como protagonista da transição energética global – mas também carregam o risco de aprisionar o país em um ciclo de ineficiência e desperdício.
O governo brasileiro tem uma decisão clara a tomar: seguir a tendência internacional de armazenamento de energia e otimização da rede elétrica ou insistir na contratação de térmicas inflexíveis e extremamente onerosas para o consumidor.
O desperdício de energia renovável e o impacto na conta de luz
O Brasil desperdiça uma quantidade alarmante de energia limpa e barata. Com o crescimento da geração solar e eólica, tem se tornado comum o chamado vertimento de energia renovável – ou seja, eletricidade que poderia ser utilizada, mas é desperdiçada por limitações na transmissão ou na gestão do sistema. Em vez de maximizar o aproveitamento dessas fontes, o planejamento atual ainda prioriza a expansão de termelétricas, que são caras e poluentes.
O modelo do próximo LRCAP prevê contratação de térmicas com tempos mínimos de acionamento de até 12 horas. Isso significa que, mesmo quando há disponibilidade de energia solar ou eólica, essas usinas serão obrigadas a operar, gerando custos desnecessários e elevando a tarifa para os consumidores. O teto do Custo Variável Unitário (CVU) das térmicas no próximo leilão foi estabelecido em R$ 1.500,71/ Megawatt-hora (MWh), praticamente o triplo do limite do leilão de 2021 (R$ 600/MWh). Essa decisão representa um impacto direto na conta de luz de milhões de brasileiros.
O armazenamento de energia é a solução estratégica para o Brasil
A solução para o dilema energético brasileiro está nos Sistemas de Armazenamento de Energia (SAE), especialmente nos sistemas baseados em baterias (BESS). Diferentemente das térmicas, os BESS podem ser acionados em milissegundos, garantindo estabilidade ao sistema elétrico sem custos exorbitantes. Essas tecnologias já são amplamente utilizadas em mercados desenvolvidos, como Estados Unidos e Europa, onde a transição energética já acontece de forma acelerada.
Adotar armazenamento de energia não é apenas uma escolha ambientalmente correta, mas também uma decisão economicamente racional. Estudos apontam que, comparado à contratação de térmicas, o armazenamento pode gerar economias de até R$ 900 milhões por GW contratado. Além disso, os avanços tecnológicos reduziram os custos das baterias em 90% na última década, tornando a solução cada vez mais competitiva.
O Brasil precisa destravar o LRCAP-Baterias
Apesar da crescente pressão do setor elétrico e da sociedade para a implantação de um LRCAP específico para armazenamento, o governo ainda não publicou a portaria que oficializa esse leilão. A falta de definição cria insegurança jurídica e incerteza regulatória, afastando investimentos e mantendo o Brasil preso a um modelo ineficiente e ultrapassado.
O Brasil tem a oportunidade de liderar a transição energética na América Latina, impulsionar a eficiência do setor elétrico e reduzir o custo da energia para consumidores e indústrias. Para isso, é fundamental que o governo priorize a flexibilidade e eficiência dos sistemas de armazenamento, garantindo que o próximo LRCAP contemple soluções modernas e sustentáveis.
O futuro da energia no Brasil depende das decisões tomadas agora. O armazenamento de energia é o caminho mais inteligente para garantir segurança, competitividade e sustentabilidade ao setor elétrico nacional. O Brasil precisa escolher: avançar rumo a uma matriz elétrica moderna e eficiente ou continuar preso às amarras de um sistema ultrapassado e oneroso. A hora de decidir é agora.
Fórum CNN
Os artigos publicados pelo Fórum CNN buscam estimular o debate, a reflexão e dar luz a visões sobre os principais desafios, problemas e soluções enfrentados pelo Brasil e por outros países do mundo.
Os textos publicados no Fórum CNN não refletem, necessariamente, a opinião da CNN.