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Carla Poskus

Carla Poskus- Gerente de People eXperience da Trimble no Brasil

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Mães no mercado de trabalho: desafios e receios quando chega a sua vez de tirar a licença maternidade

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Mulher passou por cirurgia de transposição uterina e conseguir engravidar após tratamento oncológico  • Getty Images/Tetra images RF
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A maternidade e o mercado de trabalho são temas que despertam questões importantes e complexas, especialmente para as mulheres. Recentemente, me deparei com uma pesquisa realizada pela Fundação Getúlio Vargas que constatou que quase metade das mulheres que tiram licença-maternidade não está mais presente no mercado de trabalho após 24 meses –padrão que se repete até mesmo 47 meses depois. Essa estatística chocante fez ecoar em mim um sentimento de preocupação e sororidade, colocando um peso ainda maior em todas as autocríticas que tenho experienciado desde que retornei da licença maternidade.

Ao longo de um dia comum de trabalho, tenho inúmeras conversas comigo mesma que refletem as pressões que muitas mães enfrentam no ambiente profissional. "Você não está produzindo o suficiente; você está sendo pouco eficiente; sua memória não é mais a mesma; você está ficando para trás; você está se tornando mais retraída e menos participativa, vai perder espaço e oportunidades." Essas vozes internas ecoam, alimentando a síndrome da impostora que sabemos afetar principalmente as mulheres.

É crucial reconhecer que a sobrecarga materna, o preconceito no local de trabalho e os desafios emocionais são realidades enfrentadas por muitas mulheres. Infelizmente, não é surpreendente que esse combo resulte no óbvio: a maioria das mães deixando o mercado de trabalho.

Ainda, tenho o privilégio de estar experienciando o oposto da maioria destes casos. Inclusive, me surpreendendo constantemente sobre como é possível uma empresa criar um ambiente de trabalho mais inclusivo para as mães. Ao anunciar minha gravidez, fui surpreendida positivamente seguidas vezes.

Desde o início, fui acolhida de maneira excepcional pela minha equipe. Recebi parabéns e apoio de todos os colegas próximos. Minha gestora direta desempenhou um papel fundamental ao me orientar a priorizar os projetos da equipe e redimensionar as metas de acordo com o novo cronograma, já levando em consideração minha licença maternidade. Fiquei aliviada ao perceber que não havia cobranças irreais para entregar todo o planejamento anual em apenas seis meses.

A contratação de uma pessoa temporária para apoiar a equipe durante minha ausência não apenas demonstrou o comprometimento da Trimble em garantir a continuidade dos projetos, mas também aliviou o peso sobre os meus ombros como mãe e profissional.

Além desta rede de apoio profissional, recebi uma promoção e a oportunidade de integrar o conselho global de diversidade, equidade e inclusão da empresa. Essa valorização profissional durante minha jornada como mãe foi extremamente encorajadora. Pude sentir que minhas habilidades e contribuições continuavam sendo reconhecidas e valorizadas após a maternidade.

Os seis meses de licença maternidade foram fundamentais para cuidar de mim mesma e do meu bebê. Graças à segurança proporcionada – e reforçada – pela Trimble, não tive dúvidas de que meu emprego estaria à minha espera após esse período. No entanto, mesmo com todos os aspectos favoráveis, o retorno ao trabalho foi desafiador.

Durante minha ausência, muitas mudanças ocorreram, o que inevitavelmente me fez sentir deslocada e sem direção no início. Minha equipe teve um cuidado especial ao me receber de volta - me mantiveram atualizada sobre os temas críticos e me incluíram gradualmente nos principais projetos. Essa abordagem foi fundamental para minha reintegração e ajudou a superar as inseguranças iniciais.

Em minha primeira conversa com minha gestora direta após a licença, discutimos sobre o que eu visualizava como meu próximo passo na carreira. Ela demonstrou interesse genuíno em meu desenvolvimento profissional e exploramos a possibilidade de expandir o escopo do meu cargo. Essa abertura para o crescimento e progressão profissional mesmo após a maternidade foi, para mim, uma prova concreta de que a companhia valoriza e investe em suas colaboradoras mães.

Além disso, recebi total apoio quando comuniquei que precisaria usufruir dos dois períodos de 30 minutos durante o horário comercial para continuar amamentando meu bebê. Minha gestora e colegas compreenderam a importância desse momento para mim e meu filho, e isso contribuiu para que eu me sentisse mais segura e amparada. Essa flexibilidade é um exemplo claro de como a adoção de modelos de trabalho flexíveis pode contribuir para o bem-estar das mães no ambiente profissional.

No entanto, mesmo com todas as vantagens e apoio que recebi, devo admitir que este momento tem sido o mais desafiador e transformador, tanto emocional como fisicamente, de minha vida. Considerando que apenas 10% dos colaboradores de nossa organização no Brasil são mães, faz-se necessário elevar a voz deste grupo. Como mulher e mãe, me sinto motivada a fortalecer essa rede de mulheres por meio de programas e políticas inclusivas que abracem a realidade das mães e permitam que todas vivenciem experiências positivas na empresa.

À medida que avançamos em direção a uma sociedade mais igualitária, é fundamental que as empresas assumam a responsabilidade de criar políticas e programas inclusivos que atendam às necessidades das mães. Isso pode incluir medidas como licença maternidade estendida, programas de apoio à conciliação entre trabalho e vida familiar, flexibilidade de horários e espaços adequados para amamentação.

A maternidade não deve ser vista como um obstáculo para o crescimento e desenvolvimento profissional das mulheres, mas como uma experiência enriquecedora que pode trazer novas habilidades e benefícios tangíveis para as empresas, como maior atração e retenção de talentos e diversidade de perspectivas.

A jornada da maternidade e do trabalho pode ser desafiadora, mas com o apoio adequado e uma mudança de mentalidade por parte das empresas, podemos criar um futuro em que todas as mulheres possam conciliar com sucesso suas carreiras e suas responsabilidades como mães. Juntos, podemos construir um ambiente de trabalho mais empático, inclusivo e igualitário para todas as mães.

 

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