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André Sanches

André Sanches- diretor de Pesquisa Clínica da Novartis Brasil

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Por que investir em pesquisa clínica é investir em equidade em saúde

No Brasil, a pesquisa clínica tem potencial para desempenhar um papel transformador, tanto do ponto de vista científico quanto social

Técnicos na Suíça realizam testes para vacina contra Covid-19
Técnicos de laboratório realizam testes relacionados a pesquisas sobre vacina contra a Covid-19  • Foto: Arnd Wiegmann - 22.abr.2020 / Reuters
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A pesquisa clínica desempenha um papel fundamental no desenvolvimento de terapias seguras e eficazes, sendo uma etapa indispensável para a inovação em saúde. No entanto, nem todas as áreas recebem a mesma atenção. Algumas condições, especialmente aquelas que atingem populações em maior situação de vulnerabilidade, como as doenças negligenciadas, continuam à margem dos grandes investimentos e da produção científica.

No Brasil, a pesquisa clínica tem potencial para desempenhar um papel transformador, tanto do ponto de vista científico quanto social. Com uma das maiores diversidades étnicas do mundo e uma carga significativa de doenças infecciosas e crônicas, o país reúne características ideais para ampliar sua participação em estudos multicêntricos internacionais. Isso não apenas contribui para a geração de conhecimento, como também pode promover o acesso precoce a novas terapias.

Ainda assim, desafios persistem. A maior parte dos centros de pesquisa clínica está concentrada nas regiões Sul e Sudeste, o que restringe a diversidade dos participantes dos estudos e limita o desenvolvimento de infraestrutura científica em outras regiões. Esse desequilíbrio geográfico tem implicações importantes: tratamentos desenvolvidos sem a inclusão de populações diversas podem apresentar eficácia e segurança diferentes para os perfis menos representados. Iniciativas que promovem a capacitação de profissionais e a estruturação de centros fora dos grandes eixos urbanos são, portanto, essenciais.

Nos últimos anos, surgiram experiências voltadas justamente para a descentralização da pesquisa clínica no país. Um exemplo foi o programa de capacitação realizado pela Novartis com centros de saúde nos estados do Amazonas, Pará e Amapá, voltado ao desenvolvimento de um estudo clínico sobre doença de Chagas aguda. A ação combinou formação presencial e à distância, além de suporte técnico contínuo. Como resultado, os centros não apenas conduziram o estudo com qualidade técnica, mas também passaram a implementar campanhas diagnósticas em suas comunidades, com impactos positivos no fluxo assistencial e no acesso da população a cuidados básicos de saúde.

A diversidade é outro ponto chave. Ainda hoje, há sub-representação de determinados grupos nos estudos clínicos, especialmente pessoas negras, indígenas e moradores de regiões remotas. Essa lacuna precisa ser enfrentada com estratégias específicas para inclusão desses perfis, tanto no planejamento dos estudos quanto na implementação em campo.

A Lei da Pesquisa Clínica (Lei nº 14.874/2024) pode ser um ponto de inflexão. A legislação estabelece marcos regulatórios mais claros e ágeis, o que pode tornar o Brasil mais competitivo para atrair estudos clínicos internacionais multicêntricos. Para que isso se concretize, é necessário que todos os atores do ecossistema (instituições públicas, universidades, empresas e agências reguladoras) atuem de forma coordenada para garantir que os benefícios da pesquisa cheguem de forma equitativa à população.

Neste Dia da Pesquisa Clínica, vale reforçar: investir em ciência é também investir em inclusão. A pesquisa clínica é a ferramenta essencial para promover acesso a tratamentos mais eficazes e seguros. Torná-la mais diversa, descentralizada e conectada às necessidades locais é um passo necessário para avançarmos na equidade em saúde, com um sistema mais justo e acessível.

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