São os abraços que nos manterão por aqui

Recentemente participei de um grande evento de tecnologia e minha maior surpresa foi a importância do papel da humanidade para o futuro. A despeito do senso comum que tem se construído de que perderemos todos nossos empregos para ferramentas de inteligência artificial, podemos usar a inteligência artificial (IA) como um parceiro, estagiário ou assistente, e, no futuro, se usarmos bem essas ferramentas, elas poderão nos ajudar a ser mais criativos. Com a IA, estamos descobrindo que algumas atividades humanas são muito mais mecânicas do que pensávamos. Temos pouco entendimento da nossa própria inteligência e entendemos pouco como pensamos.
Com a massificação da inteligência artificial no trabalho, nos relacionamentos interpessoais e na sociedade, teremos que ser humanos no sentido mais imperfeito do ser. Não somos seres binários, isso significa que temos dúvidas, tomamos riscos, fazemos escolhas, nos arrependemos, aprendemos, esquecemos, temos discernimento do bom ou mau uso, discutimos aspectos éticos. Somos mais complexos do que a tecnologia e a inteligência artificial podem ser. Reduzir nossos problemas a questões binárias, supostamente de simples soluções, nos deixa mais distantes uns dos outros. É justamente a incerteza que faz com que a gente se sinta mais vivos: perseguir a certeza nos deixou inflexíveis e socialmente atrofiados.
Trazendo esses apontamentos para a área de People & Culture, não podemos também ignorar o protagonismo que as ferramentas tecnológicas ganham em nossas atividades e que profissionais não sobreviverão apenas por meio da boa vontade em seus corações. O papel só é útil se soubermos escrever. A calculadora só é importante se soubermos matemática. Ou seja, se não tivermos conhecimento para usar as ferramentas, elas perdem seu valor. Isso gera uma demanda em ebulição: temos que qualificar e requalificar a população, investindo e repensando a abordagem em educação, de modo a enxergar bilhões de profissionais, atualmente, invisibilizados pelo analfabetismo tecnológico. O problema está causando mais uma grande desigualdade digital, especialmente em países em desenvolvimento. Mas quem tem a solução somos nós mesmos, com nossa capacidade humana de discutir, legislar, pensar e educar. A capacidade de colaborar é a única forma de sobreviver no mundo.
Não por acaso, uma das inovações mais interessantes que vi recentemente foi a Hugtics, uma tecnologia para você sentir seu próprio abraço ou enviá-lo para alguém a distância. Quando a pessoa veste um colete com músculos artificiais e abraça o sensor em forma humana, a sensação de seu próprio abraço é transmitida ao seu corpo em tempo real. Você também pode gravar seu abraço e enviá-lo para alguém que esteja distante fisicamente.
É curioso pensar que em um mundo que se desenha cada vez mais tecnológico, é dos abraços que sentimos falta. Mas não apenas os abraços físicos, e sim enquanto metáfora para as emoções complexas que sempre escaparão às inteligências artificiais. Sorte a nossa ainda não precisarmos de um aparato técnico para sentir o calor dos afetos.
Fórum CNN
Os artigos publicados pelo Fórum CNN buscam estimular o debate, a reflexão e dar luz a visões sobre os principais desafios, problemas e soluções enfrentados pelo Brasil e por outros países do mundo.
Os textos publicados no Fórum CNN não refletem, necessariamente, a opinião da CNN Brasil.
Sugestões de artigos devem ser enviadas a forumcnn@cnnbrasil.com.br e serão avaliadas pela editoria de especiais.
