Ajuda humanitária da ONU é saqueada na capital do Haiti em meio a crise com gangues

Seis em cada 10 hospitais em todo Haiti não conseguem funcionar devido à falta de eletricidade, combustível e suprimentos médicos

Da CNN, Porto Príncipe, Haiti
Jimmy "Barbecue" Cherizier lidera marcha contra premiê Ariel Henry em Porto Príncipe, Haiti, em 19 de setembro de 2023.
Membros de gangue liderada por Jimmy "Barbecue" Cherizier  • Ralph Tedy Erol/Arquivo/Reuters
Compartilhar matéria

Um contêiner que transportava itens essenciais para bebês recém-nascidos e suas mães – incluindo reanimadores e outros suprimentos essenciais – foi saqueado em Porto Príncipe no sábado (16), disse a agência humanitária UNICEF em um comunicado.

Nas últimas semanas, a violência de gangues e uma crise humanitária vem se agravando na capital haitiana.

Além de suprimentos de maternidade e neonatais, o contêiner saqueado também continha “equipamentos para desenvolvimento e educação na primeira infância e água”, disse a UNICEF.

Mais de 260 contêineres contendo ajuda humanitária são agora controlados por grupos armados que invadiram o principal porto da cidade na semana passada, acrescentou a agência da ONU.

O roubo dos suprimentos “ocorre num momento crítico, quando as crianças mais precisam deles”, disse o representante da UNICEF, Bruno Maes, no Haiti.

“A pilhagem de bens essenciais para o apoio à vida das crianças deve terminar imediatamente e o acesso humanitário deve permanecer seguro”, acrescentou Maes.

“Privar as crianças de suprimentos vitais de saúde em meio a um sistema de saúde em colapso é uma violação dos seus direitos.”

Desde janeiro, a violência no Haiti exacerbou um sistema de saúde já em ruínas.

Três em cada quatro mulheres e crianças na área de Porto Príncipe não têm acesso à saúde pública e à nutrição básicas, segundo a UNICEF.

Existem apenas dois centros cirúrgicos funcionais disponíveis na capital. Seis em cada 10 hospitais em todo o país não conseguem funcionar devido à escassez de eletricidade, combustível e suprimentos médicos.

O derramamento de sangue continuou nos últimos dias, com vários criminosos mortos durante uma operação policial num bairro de Porto Príncipe onde vive e opera o líder de gangue Jimmy “Barbeque” Cherizier, anunciou no sábado a Polícia Nacional do Haiti (HNP).

As autoridades afirmaram ter trocado tiros com os homens de Cherizier em operação realizada na sexta-feira (15), para “frustrar as ações de gangues armadas”. A polícia também disse que apreendeu armas de fogo e desbloqueou estradas no bairro Lower Delmas.

“Novas estratégias estão sendo implementadas pela instituição policial com o objetivo de recuperar algumas áreas ocupadas por essas gangues armadas nos últimos dias, a fim de facilitar a livre circulação de cidadãos pacíficos”, diz um comunicado da PNH.

Duas fontes policiais disseram à CNN na sexta-feira que as autoridades lançaram a operação em Lower Delmas enquanto as forças especiais perseguiam Cherizier.

A PNH não especificou se a polícia localizou Cherizier, mas disse que um relatório sobre o andamento das operações seria divulgado em breve.

O Haiti tem lutado para resolver uma crise política e humanitária de longa data e 80% de Porto Príncipe é atualmente controlada por gangues, segundo estimativas da ONU.

Dentro do país, restam poucos espaços seguros. Todas as estradas que saem de Porto Príncipe atualmente estão bloqueadas por gangues. A polícia nacional reagiu, mas com recursos limitados.

Todos os acessos aos portos e ao aeroporto internacional foram bloqueados.

Nada está entrando também. Os supermercados estão ficando sem alimentos, os postos de gasolina estão sem combustível e os hospitais estão com pouco sangue.

“O fracasso em parar a violência e em reabrir rotas logísticas críticas irá agravar significativamente a crise da saúde”, disse Maes. “Estamos testemunhando uma catástrofe humanitária e resta pouco tempo para revertê-la.”

Uma equipe da CNN conseguiu pousar em Porto Príncipe de helicóptero na sexta-feira, após dias de planos intermitentes que exigiam medidas de segurança detalhadas e múltiplas camadas de aprovação diplomática.

Entretanto, foram concluídos os primeiros voos de uma ponte aérea da ONU entre o Haiti e a vizinha República Dominicana, disseram fontes da ONU à CNN.

Por enquanto, a única opção para entrar e sair da capital haitiana é um helicóptero de evacuação privado, disponível para estrangeiros ricos e diplomatas – onde um único assento pode custar atualmente mais de US$ 10.000 (R$ 49.963).

Os suprimentos médicos seriam a prioridade para o frete, disseram as fontes, com os trabalhadores da ONU sendo transferidos para dentro e para fora do país.

Esse conteúdo foi publicado originalmente em
inglêsVer original