Análise: Anúncio de Trump dá alívio à Ucrânia, mas evita sanções rigorosas

Presidente dos EUA afirmou que Otan, aliança militar ocidental, comprará armas dos EUA para enviar ao país europeu

Nick Paton Walsh, da CNN
Trump faz anúncio de tarifas contra Rússia  • Reprodução/Reuters
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Os comentários de Donald Trump sobre a Ucrânia nesta segunda-feira (14) estavam longe de ser o maior anúncio que o presidente dos Estados Unidos poderia ter feito.

As boas notícias para o governo ucraniano são familiares. Trump permitiu que outros integrantes da Otan, a aliança militar ocidental, comprem armas americanas – uma ampla gama delas, ao que parece.

Isso inclui os mísseis interceptores Patriot, urgentemente necessários na Ucrânia, e as baterias que os disparam. Trump chegou a sugerir que havia 17 deles "de sobra" em um país da Otan.

Quaisquer sejam os detalhes desse pacote de armas que a Otan eventualmente venha a oferecer, é exatamente o que Trump sugeriu no fim de semana e exatamente o que a Ucrânia precisa.

Os bombardeios noturnos com mísseis balísticos russos só podem ser interrompidos por mísseis Patriot americanos, e somente a Casa Branca pode autorizar seu fornecimento.

A Ucrânia tinha escassez desses dispositivos e de outras armas americanas sofisticadas que podem não ter sido mencionadas, mas que podem estar incluídas no acordo.

Este é um alívio vital e de curto prazo.

Mas outro ponto relevante está no que não foi anunciado: sanções secundárias contra clientes da energia russa, o que poderia esvaziar significativamente os cofres de Moscou.

O escopo das sanções propostas por um projeto de lei no Senado dos EUA – potencialmente 500% sobre todo o comércio com aqueles que compram hidrocarbonetos russos – teria sido devastador.

E essas sanções atingiriam a China e a Índia – o principal rival e principal aliado dos EUA, respectivamente – em um momento em que os preços do petróleo estão baixos, mas a turbulência comercial é alta.

Os danos aos mercados de energia seriam palpáveis, e os EUA também seriam impactados por prováveis preços mais altos do petróleo.

Mas isso vem com um atraso significativo, juntamente com a ameaça um tanto ineficaz de sanções contra a própria Rússia (quase não há comércio a ser penalizado).

Os 50 dias de prazo para um acordo dão a Vladimir Putin até setembro para Trump mudar de ideia, ou para que a suposta nova ofensiva russa altere a realidade do campo de batalha a ponto de Putin se contentar em buscar um congelamento do conflito.

Isso cria uma janela na qual Índia e China podem tentar parar de depender da energia russa – improvável dada sua dependência e quão complexo isso seria – ou talvez pressionar Moscou para encerrar a guerra.

Essa também é uma tarefa difícil para China, cujas autoridades indicaram recentemente que não podem ver a Rússia perder o conflito sem correr o risco de os Estados Unidos voltarem toda a sua atenção para sua rivalidade.

O prazo também mostra que Trump ainda não desistiu do aspecto mais evasivo de sua política para a Ucrânia: que o Kremlin realmente quer a paz e ainda precisa ser persuadido adequadamente a isso.

Assim, o presidente novamente estendeu o prazo para pressionar a Rússia a um acordo. Já passamos por isso antes, e Putin deixou o relógio passar zunindo por sua orelha.

No entanto, é importante aproveitar a mudança de tom de Trump – a música ambiente talvez seja a indicação mais duradoura da política da Casa Branca do que os detalhes fornecidos.

Houve um momento relevante em que Trump parou antes de quase chamar Putin de assassino e contar casos nos quais a primeira-dama o lembra da violência com que Kiev é atingida por drones e mísseis russos.

O presidente dos EUA oscilou intensamente entre todas as fases de Putin – a esperança de que a paz era possível, um breve verão de diplomacia no Golfo e em Istambul, um declínio nas relações e agora o mesmo descontentamento que foi a posição padrão do presidente Joe Biden.

No entanto, após seis meses, nos quais a diplomacia russa – com sua natureza sintética e performática, combinada com demandas cínicas e maximalistas – demonstrou sua força, Trump ainda não desistiu de convencer o Kremlin a interromper voluntariamente sua guerra existencial de escolha.

O presidente dos EUA também se esquivou de algumas das opções mais difíceis disponíveis. Nenhum novo aporte dos EUA será destinado à Ucrânia, e também não ouvimos nada publicamente sobre a entrega de novos dispositivos.

A política dele para a Ucrânia mudou de humor, talvez, mas mantém elementos-chave de seu passado. Um desejo de que qualquer um, exceto os EUA, pague a conta; prazos para ação, em vez de consequências imediatas para a inação; e uma crença desconcertante de que o Kremlin quer a paz.

A Ucrânia ficará aliviada por ora, mas também poderá em breve sentir uma sensação familiar de decepção.