Análise: Pesquisas indicam que otimismo de Trump sobre inflação é ineficaz
Presidente tem afirmado que preços caíram, mas a percepção dos eleitores americanos é diferente

A eleição de 2025, há duas semanas, cristalizou o quão grande parece ser o problema da economia e do custo de vida para o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e o Partido Republicano.
A estratégia inicial de Trump para lidar com esse problema parecia ser fingir que ele na verdade não existia. Trump se dedicou a afirmar falsamente que os preços na verdade tinham caído, que havia “quase nada de inflação” e que tudo estava mais ou menos maravilhoso.
Foi estranho, mesmo vindo de um presidente que frequentemente parece viver em sua própria realidade alternativa cuidadosamente elaborada.
E parece que não está funcionando.
Novas pesquisas realizadas desde que Trump começou a promover essa mensagem mostram que os americanos continuam vendo as coisas de maneira muito diferente de como ele as apresenta. E suas opiniões sobre a administração da economia por ele parecem estar piorando.
Americanos veem alta nos preços apesar de afirmações de Trump
“Nossos alimentos caíram muito. Tudo caiu muito”, disse Trump no dia 6 de novembro. “Os alimentos caíram muito, exceto a carne bovina”, disse em outro momento. Ele acrescentou, na semana passada, que os preços dos alimentos estavam “já a um nível muito mais baixo do que com o governo anterior.”
Mas apenas 12% dos americanos disseram que os preços dos alimentos caíram nos últimos seis meses, segundo uma nova pesquisa da Faculdade de Direito da Universidade de Marquette, realizada de 5 a 12 de novembro.
Em contraste, 75% disseram que subiram.
(Os preços médios dos alimentos realmente subiram cerca de 1,4% em setembro em comparação com quando Trump assumiu o cargo em janeiro, e o aumento de 0,6% de julho para agosto foi o maior em três anos).
Até mesmo entre os republicanos, apenas 2 em cada 10 concordaram com a versão alternativa da realidade de Trump, na qual os preços realmente estão caindo. A maioria disse que os preços subiram.
Os números foram semelhantes em uma pesquisa da Fox News publicada esta semana.
Essa pesquisa, realizada de 14 a 17 de novembro, mostrou que 85% dos eleitores registrados disseram que os preços dos alimentos estão mais altos do que há um ano, e 60% disseram que subiram “muito”.
Cerca de dois terços ou mais também disseram que os preços dos serviços públicos, da saúde e da habitação subiram.
(“Há um ano” tecnicamente inclui dois meses nos quais Trump ainda não era presidente, mas é razoável pensar que as pessoas perceberam a pergunta como se referindo principalmente ao seu mandato).
Talvez o mais impressionante: a porcentagem que diz que os preços dos alimentos subiram “muito” (60%) é significativamente maior do que a porcentagem que disse isso sobre alimentos e itens cotidianos em outubro de 2021 (43%). Isso apesar de a inflação naquela época ser aproximadamente o dobro do que é hoje.
Isso sugere que esse problema está realmente enraizado, e será difícil para Trump vencê-lo com palavras otimistas.
A diferença entre o que diz Trump e a percepção dos americanos sobre a inflação
Trump afirmou que há “praticamente nada de inflação”, “quase nada de inflação” e disse que a inflação é “quase inexistente”. Também afirmou “não temos inflação”.
Na realidade, a inflação se manteve persistente durante todo o mandato de Trump e está em torno de 3% anualizado, exatamente onde estava quando ele assumiu o cargo.
E a percepção pode ser ainda pior.
52% dos eleitores registrados disseram que a inflação “não está nem um pouco” sob controle, de acordo com a pesquisa da Fox. Isso inclui quase dois terços dos independentes (65%).
Menos de 2 em cada 10 no geral, e apenas um terço dos republicanos, disseram que a inflação estava, pelo menos, “majoritariamente” sob controle.
Trump culpa Joe Biden, mas os eleitores não
Na medida em que Trump admitiu que há dificuldades econômicas, geralmente as apresentou como remanescentes do governo Joe Biden.
“Biden foi um desastre com o custo de vida”, disse Trump à Fox News logo após a eleição. “Quando assumi o cargo, era um desastre”, acrescentou.
Mas isso, também, parece ser um argumento fadado ao fracasso.
A pesquisa da Fox News perguntou se Trump ou Biden eram mais responsáveis pela economia atual, e os eleitores escolheram Trump, 62% a 32%.
Apenas cerca da metade dos republicanos (53%) culpou Biden.
Os números de Trump parecem estar piorando
A aposta de Trump ao apresentar essa realidade alternativa é evidente: se as pessoas não a aceitarem, poderiam começar a vê-lo como desconectado da realidade e não levando o problema a sério o suficiente.
Uma pesquisa da CBS News-YouGov revelou que 75% dos americanos e a maioria dos republicanos disseram que Trump não está suficientemente focado em reduzir os preços.
E, de fato, parece que Trump não está se ajudando muito nesse momento. Pelo contrário, sua imagem política em relação à economia e o custo de vida está piorando:
- Seu índice de aprovação sobre o “custo de vida” estava em um recorde de 39 pontos negativos em uma nova pesquisa da Reuters-Ipsos realizada de 14 a 17 de novembro.
- A pesquisa da Fox mostrou Trump com seus piores números com relação à economia em qualquer um de seus dois mandatos: 38% de aprovação, 61% de desaprovação.
- Os eleitores registrados favoreceram os democratas sobre os republicanos por 10 pontos em “fazer as coisas mais acessíveis” (53% - 43%), de acordo com a Fox. (Isso é notável porque os americanos tendem a favorecer os republicanos em questões econômicas).
- 72% desaprovam Trump no que diz respeito à inflação, em comparação com 65% em julho, segundo a pesquisa de Marquette.
A mesma pesquisa mostra que os americanos dizem, por uma margem de aproximadamente 2 para 1, que esperam que as políticas de Trump continuem a aumentar a inflação.
Na verdade, Trump deu às pessoas muitas razões para associar o que aconteça com a economia a ele. Isso é o que acontece quando você agita a economia com uma série de tarifas globais unilaterais que nem mesmo foram apoiadas pelos republicanos no Congresso.
Trump assumiu voluntariamente a responsabilidade pela economia. Agora ele quer negar a realidade do que aconteceu.
Os analistas políticos adoram procurar nas ações de Trump alguma estratégia secreta ou movimentos de xadrez tridimensionais. Mas isso parece mais uma demonstração de desespero do que qualquer outra coisa.

