Argentina declara Cartel de los Soles como organização terrorista

Anúncio, que ocorre em meio à escalada de tensões entre Estados Unidos e Venezuela, foi feito pelo porta-voz do governo Manuel Adorni nas redes sociais

Da CNN Brasil
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Na Argentina, o governo do presidente Javier Milei anunciou, nesta terça-feira (26), que decidiu declarar o Cartel de los Soles como uma organização terrorista.

O anúncio, que ocorre em meio à escalada de tensões entre Estados Unidos e Venezuela, foi feito pelo porta-voz do governo Manuel Adorni nas redes sociais.

O Ministério de Segurança Nacional argentino afirmou que o Cartel de los Soles foi adicionado RePET (Registro Público de Pessoas e Entidades Vinculadas a Atos de Terrorismo e seu Financiamento).

"O registro permite a aplicação de sanções financeiras e restrições operacionais que limitam sua capacidade de operar em atividades ilícitas, como tráfico de drogas, contrabando, exploração ilegal de recursos naturais e seus vínculos com outras organizações criminosas na região", afirmou o Ministério.

O anúncio surge dias após o governo do Paraguai tomar a mesma medida. 

A presidência do Paraguai divulgou a assinatura do decreto em uma postagem nas redes sociais e escreveu: "O governo reafirma seu compromisso na luta regional contra o crime organizado e o narcotráfico transnacional".

Por outro lado, o presidente da Colômbia, Gustavo Petro, negou a existência do Cartel. “O Cartel de los Soles não existe; é uma desculpa fictícia usada pela extrema-direita para derrubar governos que não a obedecem”, escreveu o líder em sua conta na rede social X na segunda-feira (25).

No final de julho, os Estados Unidos designaram o Cartel de los Soles como terrorista e acusaram Nicolás Maduro de estar à frente da organização. O governo dos EUA também dobrou a recompensa por informações que possam levar à prisão de Maduro para US$50 milhões.

O que é o Cartel de los Soles?

Apesar de não haver informações oficiais sobre o cartel, a tese do governo americano é que ele surgiu junto à chegada de Hugo Chávez ao poder, em 1999, e foi responsável por uma espécie de "estatização do tráfico de drogas" no país, transformando a Venezuela em um narcoestado.

O nome Cartel de los Soles, em português Cartel dos Sóis, faz alusão às insígnias dos generais venezuelanos, que usam sóis em vez de estrelas.

Definições divergentes

Gabriela Reyes, criminóloga boliviana e especialista em segurança regional da América Latina, afirma que fontes confiáveis divergem sobre o Cartel de los Soles e não há um consenso sobre a sua atuação ou até mesmo sobre a sua existência.

“É importante ter um equilíbrio sobre a informação objetiva que existe a respeito, principalmente sobre sua caracterização."

Enquanto os EUA classificam o cartel como uma rede de quadrilhas organizada, liderada por Maduro e entranhada no governo venezuelano, investigações independentes o definem como uma rede descentralizada.

O Insight Crime e o Wilson Center, organizações reconhecidas internacionalmente por investigações sobre segurança na América Latina, reconhecem a existência do Cartel de los Soles, mas como uma rede fragmentada de militares envolvidos no tráfico.

Já organismos internacionais como a ONU não mencionam o Cartel de los Soles, mas classificam a Venezuela como um país de trânsito da cocaína.

Reyes resume que o que está documentado desde 1999 é uma dinâmica que envolve altos funcionários do governo em cooperação com as Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia). E acrescenta que a admissão de culpa de Hugo Carvajal, ex-general que chefiou a inteligência militar no governo Hugo Chávez, é mais um indício da colaboração contínua entre atores estatais de alto nível e redes de tráfico de cocaína.

"O que não existe é uma evidência sólida dessa ideia de uma 'estatização' total ou de um cartel monolítico dirigido desde a cúpula do Estado. Pelo contrário, o Insight Crime, que estuda de perto essa dinâmica, caracteriza a existência de múltiplos nós e rendas fragmentadas, mais do que uma estrutura rígida e vertical", afirma a criminóloga.

A especialista diz que não há evidências de que a Venezuela tenha uma produção significativa de cocaína, conforme avaliação do UNODC (Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime), o país funcionaria mais como um corredor estratégico do narcotráfico, favorecido pela corrupção e pela sua geografia, do que como produtor.

Em sua visão, o Cartel de los Soles não é um cartel clássico, mas uma rede de militares, policiais e atores ligados ao Estado venezuelano que oferecem proteção e logística ao tráfico internacional. "Seu papel é garantir passagem, complementando a atuação dos grandes cartéis mexicanos e colombianos, que controlam de fato a produção e a distribuição global", diz Reyes.