BBC admite erro em edição de discurso de Trump após polêmica

Presidente da emissora, Samir Shah, pediu desculpas pela edição do discurso do presidente dos EUA, mas rejeitou as alegações de parcialidade sistêmica em reportagens

Da Reuters
Prédio da BBC em Londres, Reino Unido
Prédio da BBC em Londres, Reino Unido  • Rasid Necati Aslim/Anadolu via Getty Images
Compartilhar matéria

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, ameaçou entrar com uma ação judicial contra a emissora britânica BBC, que admitiu, nesta segunda-feira (10), ter cometido um "erro de julgamento" na edição de um discurso feito pelo líder republicano em 2021 no dia em que seus partidários invadiram o Capitólio.

Os advogados do presidente disseram que a BBC deve retirar seu documentário até 14 de novembro ou enfrentará um processo de "nada menos" que US$ 1 bilhão.

O documentário do programa Panorama, carro-chefe da BBC, reuniu dois trechos separados de um dos discursos de Trump, criando a impressão de que ele estava incitando o motim de 6 de janeiro de 2021, o que os advogados disseram ser "falso e difamatório".

A revelação sobre o discurso e as críticas mais amplas à BBC mergulharam a emissora em uma crise, resultando na renúncia de seus dois chefes principais, o diretor-geral Tim Davie e a diretora-executiva de Notícias, Deborah Turness, no domingo (9).

O presidente da BBC, Samir Shah, pediu desculpas nesta segunda-feira pela edição do discurso, mas rejeitou as alegações de parcialidade sistêmica nas reportagens da emissora.

Ele disse que a BBC estava considerando como responder à ameaça legal.

Entenda escândalo envolvendo edição de discurso de Trump

A crise foi desencadeada pelo vazamento de um relatório interno que falou sobre a cobertura da BBC , incluindo a edição do discurso de Trump em um programa transmitido pouco antes da eleição presidencial dos EUA em novembro de 2024.

Os partidários de Trump invadiram o Capitólio em 6 de janeiro de 2021, quando o Congresso deveria certificar a vitória do democrata Joe Biden sobre Trump na eleição de novembro de 2020.

A edição foi incluída em um dossiê que vazou para o jornal Daily Telegraph, que também incluía críticas à cobertura da BBC sobre a guerra entre Israel e Gaza e sobre questões de transgêneros.

Shah disse que a BBC aceitou que a forma como o discurso foi editado deu a impressão de um apelo direto à violência. "A BBC gostaria de se desculpar por esse erro de julgamento", disse ele em uma carta aos parlamentares britânicos.

A carta dos advogados de Trump afirma que a BBC violou a lei de difamação da Flórida ao omitir fatos deliberadamente e justapô-los de forma enganosa para criar uma impressão falsa do que Trump disse.

Normalmente, é difícil para figuras públicas como Trump vencerem processos por difamação de acordo com a legislação dos EUA, pois precisam provar que os réus sabiam ou deveriam saber que as informações eram falsas, mas as publicaram mesmo assim.

Várias empresas de mídia dos EUA, incluindo a CBS e a ABC News, resolveram recentemente ações judiciais movidas pelo presidente dos EUA.

Imparcialidade

Embora o presidente da emissora tenha aceitado as críticas sobre a edição da fala de Trump, ele rebateu as sugestões de que a BBC havia tentado inserir discussões sobre parcialidade ou deixado de resolver qualquer problema.

Questionado se as acusações de parcialidade sistêmica estavam erradas, ele disse que "sim" e acrescentou que havia casos de erros individuais e questões que apontavam para problemas subjacentes, mas que a noção de parcialidade sistêmica ou institucional não era verdadeira.

"Sei que o DNA e a cultura da BBC News são imparciais. É fornecer as melhores notícias que pudermos e as notícias mais confiáveis", disse ele à BBC .

Ele acrescentou que a BBC estava empenhada em restaurar a confiança do público e garantir que seu jornalismo atendesse aos mais altos padrões de imparcialidade.