Casa Branca exclui jornal de comitiva presidencial por caso Epstein
Secretária de imprensa afirmou que a remoção foi feita “devido à conduta falsa e difamatória do Wall Street Journal”, em referência à recente reportagem do jornal sobre Trump e Jeffrey Epstein
Quando a Casa Branca assumiu o controle do chamado “pool de imprensa” que acompanha o presidente dos EUA, jornalistas temeram que o governo Trump usasse esse poder para punir veículos de mídia. Primeiro foi a Associated Press; agora é o Wall Street Journal.
Nesta segunda-feira (21), a Casa Branca anunciou que removerá o jornal de um dos assentos cobiçados na viagem do presidente americano Trump à Escócia.
A secretária de imprensa Karoline Leavitt afirmou que a mudança foi feita “devido à conduta falsa e difamatória do Wall Street Journal”, em referência à recente reportagem do jornal sobre Trump e Jeffrey Epstein.
A matéria, publicada em 17 de julho, descreve uma coleção de cartas dadas a Epstein por seu aniversário de 50 anos, em 2003 — incluindo um bilhete com o nome de Trump e o desenho de uma mulher nua.
O líder americano entrou com um processo no dia seguinte, alegando difamação, “porque nenhuma carta ou desenho autêntico existe”.
Agora, a Casa Branca está usando uma ferramenta à sua disposição, o controle sobre o acesso a Trump, para retaliar contra o jornal pertencente a Rupert Murdoch.
Um repórter do Journal, que não participou da reportagem sobre a carta de aniversário de Epstein, estava escalado para integrar o pool de imprensa durante a viagem do presidente aos campos de golfe na Escócia.
Até o início deste ano, as designações para o pool eram feitas pela Associação de Correspondentes da Casa Branca (WHCA, na sigla em inglês), um grupo independente que representa os jornalistas que cobrem o governo.
No entanto, em fevereiro, Leavitt excluiu o grupo e assumiu o controle do pool, dando à administração uma nova forma de influência.
O pool é um pequeno grupo de jornalistas que viajam com o presidente e cobrem eventos em nome de toda a imprensa. Essa rotação é fundamental porque muitos compromissos presidenciais, como sessões de fotos no Salão Oval ou entrevistas a bordo do Air Force One, ocorrem em ambientes com espaço limitado.
Disputa pelo acesso da imprensa
Leavitt excluiu a associação dos correspondentes em meio à disputa com a AP por conta da nomenclatura do Golfo do México, que Trump ordenou que o governo dos EUA passasse a chamar de “Golfo da América”.
A AP, sendo uma agência de notícias global, continua se referindo à região como Golfo do México, embora mencione a ordem de Trump.
Isso deu início a uma disputa legal de meses sobre o acesso da imprensa. “Como confirmou o tribunal de apelações, o Wall Street Journal ou qualquer outro veículo de imprensa não têm acesso garantido para cobrir o presidente Trump no Salão Oval, a bordo do Air Force One ou em seus espaços de trabalho privados”, disse Leavitt.
“Treze veículos diversos participarão do pool de imprensa para cobrir a viagem do presidente à Escócia”, ela acrescentou, antes de afirmar que o WSJ não será um deles.
A Casa Branca não respondeu imediatamente ao questionamento sobre qual veículo substituirá o WSJ.
Um porta-voz do jornal se recusou a comentar sobre o ato de retaliação. Mas, em resposta aos questionamentos sobre o processo, na semana passada, disse: “Confiamos plenamente no rigor e na precisão da nossa reportagem e defenderemos vigorosamente qualquer ação judicial”.
“A tentativa da Casa Branca de punir um veículo de mídia cuja cobertura ela desaprova é profundamente preocupante e desafia a Primeira Emenda”, disse Weijia Jiang, presidente da Associação de Correspondentes da Casa Branca, em comunicado.
Organizações de defesa da liberdade de imprensa também condenaram rapidamente a decisão da Casa Branca.
“É inconstitucional, para não dizer vingativo e sensível demais, que um presidente revogue o acesso para punir um veículo por publicar uma reportagem que ele tentou abafar”, disse Seth Stern, diretor de advocacy da Freedom of the Press Foundation.