Saiba por que últimas ondas de calor na Europa receberam nomes de mitos gregos
Cérbero e Caronte teriam ganhado esses nomes por, assim como os personagens míticos, serem ruins para a humanidade
Quando uma pessoa morre, a alma dela deve navegar de uma margem até a outra do rio Aqueronte, no submundo, para conseguir entrar no mundo dos mortos, reino do deus Hades. Assim, os gregos antigos tentavam explicar o que acontece com os indivíduos depois que morrem.
Conforme os mitos, a travessia pelo rio Aqueronte é feita com ajuda de Caronte, o barqueiro da morte. Ao chegar do outro lado, os recém-mortos encontram Cérbero, um gigantesco cão-de-guarda que permite a entrada das almas no reino dos mortos e impede que jamais possam voltar.
Alguns desses personagens míticos têm sido relembrados no sul da Europa nos últimos dias. As ondas de calor que atingem a região, incluindo Itália, Grécia e Espanha, vêm recebendo seus nomes.
Na semana passada, a onda de calor que elevou as temperaturas para a casa dos 40º C nesses países foi chamada de Cérbero (ou Cerberus, em latim). Já o fenômeno previsto para a próxima semana vem sendo nomeado de Caronte (ou Cháron).
Justamente criaturas que, pelos mitos, levam as almas para o mundo dos mortos, onde haveria um rio de fogo, o Flegetonte.
Em outros mitos que tentam explicar a morte, como os ligados ao cristianismo, esse submundo também seria um lugar de calor intenso e fogo por todos os lados ou teria alguma região assim.
Dentre as diversas culturas e crenças narram o “mundo dos mortos” como um lugar de sofrimento e calor intenso está ainda o hinduísmo, o budismo e o islamismo.
“Isso é novo. Ondas são classificadas como de frio ou calor. Geralmente não recebem nomes. Mas a Europa começa a fazer isso [nomear] para identificar os fenômenos por conta da gravidade, intensificação e persistência deles”, explica a Andrea Ramos, meteorologista do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet).
De acordo com ela, há uma relação direta entre os nomes dados a fenômenos climáticos e o que provocam no entorno e para as pessoas.
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Um termômetro digital marca 41 graus Celsius em uma tarde muito quente em 18 de julho de 2023 em Madri, Espanha. Uma área de alta pressão, chamada Cerberus em homenagem ao monstro do submundo do Inferno de Dante, está atravessando o país, levando 13 das 17 comunidades autônomas a serem categorizadas como risco extremo (alerta vermelho), risco significativo (alerta laranja) ou (alerta amarelo), com alguns lugares registrando temperaturas de 43 °C. • Miguel Pereira/Getty Images
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Um termômetro digital marca 43 graus Celsius no Paseo de la Castellana em 18 de julho de 2023 em Madri, Espanha. • Miguel Pereira/Getty Images
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Profissionais de saúde atendem um turista que passou mal devido às altas temperaturas na área do Coliseu, durante a onda de calor em curso, com temperaturas atingindo 45 graus Celsius em 18 de julho de 2023 em Roma, Itália. • Stefano Montesi - Corbis/Getty Images
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Turistas com guarda-chuvas passam em frente ao Coliseu durante um dia abafado em Roma, Itália, em 18 de julho de 2023. Temperaturas acima de 40 graus Celsius não impedem turistas e visitantes de caminhar entre os monumentos. • Anadolu Agency/Getty Images
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Os turistas são refrescados por um ventilador pulverizando água nebulizada na área do Coliseu, durante a onda de calor em curso com temperaturas atingindo 45 graus Celsius em 18 de julho de 2023 em Roma, Itália. • Stefano Montesi - Corbis/Getty Images
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Bombeiros extinguem o fogo de uma casa em chamas durante um incêndio florestal no sudeste da Ática em Lagonisi, Grécia, em 17 de julho de 2023. • Anadolu Agency/Getty Images
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Bombeiros extinguem o fogo de uma casa em chamas durante um incêndio florestal no sudeste da Ática em Lagonisi, Grécia, em 17 de julho de 2023. • Anadolu Agency/Getty Images
“Os furacões, por exemplo, recebiam nomes de mulheres normalmente porque as mulheres são tidas como mais temperamentais. Mas isso também vem mudando. Em relação aos furacões, a nova tendência é colocar nomes como alfa, beta, ligados à matemática, por causa das questões da sociedade como um todo”, explica.
Já os nomes recentes dados às ondas de calor, segundo Ramos, estão associados a coisas ruins, assim como o guarda do mundo dos mortos ou o barqueiro da morte.
“A associação é feita para chamar a atenção das pessoas. É uma associação com catástrofe. Quem escolhe como um fenômeno vai chamar ou não são as agências meteorológicas, buscando na literatura, o que poderia se assemelhar aos impactos que devem ser provocados”, finaliza.