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    China quer limitar uso de telas entre menores ao máximo de duas horas por dia

    Medida passará por aprovação popular até setembro; restrição é escalonada por idade e visa promover valores tradicionais na sociedade

    Simone McCarthyda CNN , Hong Kong

    A China está propondo novas medidas para reduzir a quantidade de tempo que crianças e adolescentes podem gastar em seus telefones. O país tem como objetivo combater a dependência da internet e tenta cultivar a “boa moralidade” e os “valores socialistas” entre os menores.

    Uma proposta divulgada na semana passada pela Administração do Espaço Cibernético da China, principal regulador de internet do país, exige que todos os dispositivos móveis, aplicativos e lojas de aplicativos tenham um “modo para menores” embutido que restringiria o tempo de tela diário a um máximo de duas horas por dia.

    O tempo de exibição diário seria de duas horas por dia dependendo da faixa etária.

    Se aprovadas, as restrições marcarão uma expansão das medidas existentes implementadas nos últimos anos. O governo da China pretende limitar o tempo de exibição entre as crianças e reduzir a exposição a “informações indesejáveis”.

    De acordo com o projeto, que está aberto para discussão pública até 2 de setembro, crianças e adolescentes que usam dispositivos em modo para menores terão automaticamente os aplicativos online fechados quando os respectivos limites de tempo foram atingidos. Também seria oferecido um “conteúdo baseado em idade”.

    Ninguém com menos de 18 anos poderá acessar suas telas entre as 22h e as 6h da manhã enquanto estiver usando no modo previsto no projeto.

    Crianças menores de oito anos poderão usar seus telefones por apenas 40 minutos por dia, enquanto aqueles entre oito e 16 anos terão uma hora de tempo na tela, se o projeto for aprovado. Adolescentes com mais de 16 anos e menos de 18 anos poderão usufruir de duas horas de telas.

    Todas as faixas etárias receberão um lembrete para descansar depois de usar seu dispositivo por mais de 30 minutos.

    Os provedores de serviços de internet móvel também devem criar ativamente conteúdo que “difunda os valores socialistas fundamentais” e “fomente um senso de comunidade da nação chinesa”, diz o projeto.

    Os pais poderão substituir as restrições de tempo, e certos serviços educacionais e de emergência não estarão sujeitos aos limites.

    O “vício na Internet” virou uma grande preocupação social nos últimos anos, dando origem a um mercado de clínicas de tratamento no estilo boot-camp que são muitas vezes cientificamente duvidosas e até perigosas.

    Proteção para os olhos

    Os pais entrevistados pela CNN expressaram apoio até certo ponto à proposta.

    “Acho bom. Por um lado, a restrição pode proteger a visão, pois muitas crianças pequenas não conseguem parar de assistir a algo que gostam”, disse uma mãe de duas crianças na província de Zhejiang, no leste da China, que não quis dizer seu nome.

    “Por outro lado, é mais fácil para nós, pais, controlar o tempo de tela de nossos filhos”, completou. “O mais importante é que o conteúdo sob o modo para menores é mais positivo e saudável”.

    A miopia tornou-se uma preocupação nacional de saúde na China. Alguns especialistas ligam a prevalência de miopia entre os jovens à falta de exposição à luz solar ou ao excesso de tempo de tela.

    A China tem uma das maiores bases de usuários de internet do mundo, entre 1,07 bilhão e 1,4 bilhão de pessoas com acesso à web, de acordo com o China Internet Network Information Center. De acordo com dados de dezembro de 2022, cerca de um em cada cinco usuários tinha 19 anos ou menos.

    A eficácia das novas medidas propostas pode depender da adesão dos pais, de acordo com um pai de dois na cidade de Zhuhai, no sudeste da China, que disse que as crianças às vezes usam as contas de seus pais para jogar online.

    O regulamento pode ser útil para “ajudar os pais a supervisionar as crianças” e limitar o tempo de tela.

    “Até nós, adultos, precisamos disso!”, brincou.

    Impacto em empresas de tecnologia

    As novas medidas podem ser difíceis para as empresas de tecnologia, que normalmente são responsabilizadas pela aplicação de regulamentos.

    A proposta surge num momento em que uma severa repressão regulatória de anos sobre os gigantes da tecnologia da China parece estar chegando ao fim.

    As ações cotadas em Hong Kong de algumas das principais empresas de internet do país caíram drasticamente na semana passada depois que as novas regras foram divulgadas.

    A Tencent (TCEHY), que opera a popular plataforma de mensagens Wechat, fechou com queda de cerca de 3%. O aplicativo de streaming de vídeo Bilibili (BILI) perdeu 7%, enquanto o rival Kuaishou fechou com perda de 3,5%. O Weibo, uma plataforma semelhante ao Twitter, terminou com uma queda de 4,8%.

    No dia 17, as empresas estavam mantendo as cotações e até subindo, com a exceção da Weibo, que estava negociando cerca de 1% abaixo.

    A CNN procurou os fabricantes de celulares Xiaomi, Apple e Huawei para comentar.

    Há dois anos, os reguladores chineses impediram jogadores online com menos de 18 anos de jogar nos dias de semana e limitou o jogo a apenas três horas nos fins de semana, deixando os limites anteriores ainda mais apertados.

    Nessa altura, várias empresas de tecnologia introduziram medidas que permitiam mais controles parentais, em sintonia com a pressão do governo por mais supervisão.

    Douyin, a versão usada pelo TikTok na China, introduziu um “modo adolescente” em 2021, limitando a quantidade de tempo que as crianças com menos de 14 anos poderiam gastar no aplicativo de vídeo de formato curto para 40 minutos por dia.

    Kuaishou, outro aplicativo de vídeo popular, tem uma opção semelhante.

    As ações mais antigas confiavam em usuários de internet para se registrar com seus nomes reais. No ano passado, os reguladores mandaram que todos os sites online verificassem as identidades reais dos usuários antes de permitir que eles enviassem comentários ou curtissem posts.

    Wayne Chang, Xiaofei Xu, Berry Wang e Mengchen Zhang da CNN contribuíram para esta reportagem.

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