Conflito entre Tailândia e Camboja desloca mais de 100 mil pessoas

Troca de ataques acontece em meio a disputa na fronteira; Exército tailandês usou caças F-16

Kocha Olarn e Jessie Yeung, da CNN
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Tailândia e Camboja trocaram ataques ao longo da fronteira pelo segundo dia consecutivo nesta sexta-feira (25), disseram autoridades de ambos os países. O conflito deixou 15 mortos e mais de 100 mil civis deslocados até o momento.

A tensão entre os dois países vem aumentando há meses por causa de uma disputa por trechos da fronteira, que foi demarcada em parte pela França, que colonizou o Camboja.

Algumas áreas disputadas incluem locais religiosos de importância arqueológica reivindicados pelas duas nações.

Ao menos 14 pessoas foram mortas até agora na Tailândia, a maioria civis, de acordo com o Ministério da Saúde Pública do país.

E no Camboja, ao menos uma pessoa foi morta e cinco ficaram feridas, segundo com Met Measpheakdey, porta-voz da província de Oddar Meanchey, que faz fronteira com a Tailândia.

Ele acrescentou que as tensões "ainda estavam acirradas" na manhã desta sexta.

Mais de 100 mil deslocados no conflito

Até a noite de quinta-feira (24), mais de 100 mil moradores tailandeses haviam sido levados para abrigos temporários, de acordo com o Ministério do Interior.

Imagens da província de Surin mostraram pessoas abrigadas em uma universidade, descansando em esteiras no chão e comendo em recipientes de plástico.

Em outra parte da província, a refugiada Ngerntra Pranoram afirmou estar "chocada" com os conflitos.

"Ninguém quer que isso aconteça. Eu me compadeço dos idosos e dos deficientes. É muito difícil para eles chegarem aqui", destacou ela, segundo a Reuters.

No Camboja, mais de 4 mil pessoas foram tiradas de suas casas perto da fronteira, informou a Associated Press nesta sexta, citando outra autoridade de Oddar Meanchey.

Vídeos da província de Oddar Meanchey da quinta-feira mostraram moradores fugindo à noite, colocando seus pertences em veículos e dormindo sob lonas.

Troca de ataques pelo segundo dia

Segundo o coronel Richa Sooksuwanon, porta-voz adjunto do Exército tailandês, disse à CNN, o conflito nesta sexta-feira começou às 4h30, no horário local, depois que o Camboja usou tanto armas de pequeno porte quanto armamento pesado.

O Exército tailandês respondeu com fogo de artilharia, disse ele.

Os confrontos estavam ocorrendo em dois locais na província de Ubon Ratchathani e um na província de Surin, informou o Exército tailandês, alertando a população para evitar a área.

Os militares também alertaram que suas forças estavam fazendo operações de desarmamento de bombas e recuperando corpos no distrito de Kantharalak, que foi atingido por foguetes do Camboja na quinta-feira (24).

Vídeos compartilhados pela agência de notícias Reuters nesta sexta-feira mostraram disparos de artilharia tailandesa.

Tailândia usa jatos F-16 para bombardear Camboja

Na quinta-feira, houve troca de tiros com armas de pequeno porte e foguetes.

Posteriormente, a Tailândia usou jatos F-16 e bombardeou o que disse serem alvos militares dentro do Camboja.

Ambos os países também têm laços estreitos com a China, que, assim como os Estados Unidos, pediu pela redução da tensão.

Um vídeo sem data compartilhado pelo Exército tailandês mostrou drones lançando bombas sobre o que seriam vários alvos militares dentro do Camboja, levantando fumaça e chamas. A CNN não pôde verificar o vídeo de forma independente.

Autoridades do Camboja acusaram os militares tailandeses de usar munições cluster em dois locais na manhã desta sexta. Esse armamento é proibido em mais de cem países e consiste em um míssil que explode no ar e que, em seguida, espalha uma série de "mini bombas" que também estouram ao acertar os alvos.

A CNN entrou em contato com os militares tailandeses para obter comentários.

Entenda o conflito entre Tailândia e Camboja

Tailândia e Camboja têm mantido uma relação complexa de cooperação e rivalidade nas últimas décadas.

Os países compartilham uma fronteira terrestre de 817 km. A demarcação foi feita pela França, que controlava o Camboja como colônia.

A divisão resultou em uma disputa antiga que envolve áreas onde ficam locais históricos e templos, que os dois países reivindicam propriedade.

O Camboja já havia buscado uma decisão da Corte Internacional de Justiça da ONU sobre áreas em disputa, incluindo o local do confronto mais recente.

Mas a Tailândia não reconhece a jurisdição da CIJ e alega que algumas áreas ao longo da fronteira nunca foram totalmente demarcadas, incluindo os locais de vários templos antigos.

Em 2011, tropas tailandesas e cambojanas entraram em confronto em uma área próxima ao templo Preah Vihear, do século XI, patrimônio mundial da Unesco, deslocando milhares de pessoas de ambos os lados e matando pelo menos 20.

Patrick Sarnsamak e Len Leng, da CNN, contribuíram com a reportagem