COP30

COP30: À CNN, Reino Unido defende mudança na arquitetura financeira global

Delegada britânica Rachel Kyte disse à CNN Brasil que negociações da COP30 avançam, mas ainda refletem uma divisão “do século XX” entre países ricos e pobres

Vinícius Murad, da CNN Brasil, Belém
A delegada do Reino Unido na COP30, Raquel Kyte
A delegada do Reino Unido na COP30, Raquel Kyte  • Reprodução/CNN
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A delegada do Reino Unido na COP30, Rachel Kyte, afirmou em entrevista exclusiva à CNN que as negociações sobre as metas nacionais de redução de emissões (as chamadas NDCs) e sobre o financiamento climático ainda enfrentam impasses, apesar dos avanços registrados em Belém.

Segundo Kyte, os compromissos apresentados até agora pelos países representam a terceira geração de NDCs, mas ainda estão aquém do necessário para limitar o aquecimento global.

“Alguns países, como Brasil e Reino Unido, têm planos alinhados à meta de neutralidade até o fim do século. Mas muitos outros apresentaram compromissos que não são ambiciosos o suficiente. Quando somamos tudo, ainda não estamos no caminho certo”, afirmou.

A representante britânica explicou que a negociação atual não exige novas metas formais, mas busca que os governos reconheçam a necessidade de ampliar seus esforços. “É como receber o dever de casa com nota B e ouvir: será que dá para tentar chegar ao A?”, comparou.

Kyte destacou que várias NDCs entregues nesta conferência são abrangentes e cobrem toda a economia e todos os gases que provocam o aquecimento global, tornando-se, segundo ela, verdadeiros planos de investimento. “Os países devem ser parabenizados pela qualidade desses planos, mas precisamos de mais ambição”, disse.

Financiamento Climático

A delegada também avaliou o cenário do financiamento climático, que ela considera um dos temas mais promissores da COP30. Kyte descreveu o espaço da conferência como “um corredor de um quilômetro” dividido entre debates modernos sobre economia verde e discussões ainda presas a uma lógica antiga. “Aqui estamos tendo uma conversa realmente positiva sobre a mobilização de financiamento. Mas lá embaixo ainda estamos numa conversa do século 20 sobre o mundo rico e o mundo pobre”, afirmou.

Ela ressaltou que parte das transições mais rápidas para economias de baixo carbono ocorre em países emergentes. “Vemos transformações impressionantes na China, na Índia, na África do Sul e no Brasil”, observou.

Kyte defendeu ainda mudanças estruturais no sistema financeiro internacional, em linha com o discurso do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. “Podemos chegar a 1,3 trilhão de dólares, mas precisamos ser inteligentes e mudar algumas regras financeiras. Muitos países pequenos e em desenvolvimento estão endividados — devem mais ao mundo desenvolvido do que recebem em investimentos — e isso precisa mudar”, afirmou.