Rússia foca em celebridades das redes sociais nos EUA para influenciar eleitores
Departamento de Justiça americano revelou um processo criminal contra dois ex-funcionários do Russia Today, acusados de financiar uma empresa de mídia política
A Rússia está cada vez mais utilizando celebridades das redes sociais dos Estados Unidos para secretamente influenciar eleitores antes da eleição presidencial de 2024, de acordo com autoridades dos EUA e um processo criminal recentemente divulgado.
“O que estamos vendo é eles apostarem em americanos que, consciente ou inconscientemente, passaram a promover e a dar credibilidade a narrativas que servem aos interesses desses atores estrangeiros”, disse um funcionário sênior do setor de Inteligência em um briefing na sexta-feira.
“Esses países estrangeiros normalmente acreditam que os americanos têm maior probabilidade de acreditar em pontos de vista vindos de outros americanos.”
A estratégia foi apontada por agências de segurança dos EUA como uma das táticas preferidas da Rússia neste ciclo eleitoral para tentar deixar mais autênticas as suas operações psicológicas estrangeiras.
De maneira geral, essa estratégia busca irritar cidadãos dos Estados Unidos, reforçando as divisões dentro da sociedade americana e enfatizando pontos de discussão partidários, ao mesmo tempo em que questiona a eficácia do governo dos EUA e o seu papel na segurança global, afirmam os especialistas.
“Estamos focando nessas táticas porque o público americano deve saber que o conteúdo a que eles têm acesso online, especialmente em redes sociais, pode ser propaganda estrangeira, mesmo se, aparentemente, tudo aparece em vozes de compatriotas”, disse outro funcionário sênior de Inteligência em um encontro em julho com jornalistas.
“Resumindo, atores estrangeiros estão ficando melhores em esconder seus interesses e em usar americanos.”
Tenet Midia
Na quarta-feira, o Departamento de Justiça revelou processo criminal contra dois ex-funcionários do meio de comunicação Russia Today, ou RT, que eles acusam de financiar secretamente uma empresa de mídia política dos Estados Unidos.
A acusação aponta um suposto esquema em que os russos teriam enviado cerca de 10 milhões de dólares para dois proprietários de empresa de comunicação social, Lauren Chen e Liam Donovan, que então teriam pago influenciadores conservadores americanos para criarem vídeos e publicações nas redes sociais.
Em períodos diferentes, comentaristas teriam compartilhado conteúdo contra a Ucrânia, algo que se alinhava com o ponto de vista russo. Chen e Donovan não responderam aos pedidos de comentário.
O indiciamento não dá nome ao veículo de imprensa acusado, mas a Reuters descobriu que trata-se de empresa baseada no Tennessee chamada Tenet Media, que se descreve como o lar das “vozes sem medo”. A Tenet também não respondeu a pedidos de comentário.
A empresa teria contratado diversas celebridades proeminentes nas redes sociais, incluindo o podcaster Tim Pool e o ex-jornalista Benny Johnson, entre outros.
O indiciamento afirma que Chen e Donovan sabiam que estavam recebendo os recursos de agentes russos, mas os influenciadores pareciam não conhecer esse acordo.
A Tenet controla um canal no Youtube e outros perfis nas redes sociais, nos quais publica vídeos e áudios de parceiros.
Segundo documentos no processo, os fundadores da Tenet fizeram um influenciador não-identificado a fazer falsas alegações de que a Ucrânia teria sido responsável pelo ataque terrorista em Moscou em abril, e não o Estado Islâmico.
Pool e Johnson divulgaram nota no fim da quarta-feira afirmando saber do indiciamento contra a Tenet. Pool disse que “eu, assim como os outros comentaristas fomos enganados e somos as vítimas”.
Johnson escreveu algo similar, dizendo que ficou “incomodado com as alegações no indiciamento que deixa claro que eu e os outros influenciadores somos as vítimas desse suposto esquema”.
Especialistas afirmam que a estratégia se encaixa em uma tendência histórica.
“Pagar jornalistas ou financiar veículos de imprensa é um processo antigo para conseguir lavar pontos de vistas que eram propaganda, algo feito desde a Guerra Fria, e estamos vendo a atualização disso para o mundo digital”, disse Renee DiResta, analista de desinformação digital.
“É interessante ver que eles estão usando influencers em vez de jornalistas — indica quais são as vozes realmente influentes.”