Em luto por Abe, coalizão governista garante vitória em eleições no Japão
Partido do ex-primeiro-ministro assassinado aumentou sua bancada na Câmara Alta de 55 para 63 dos 125 assentos
Em luto pelo assassinato do ex-primeiro-ministro Shinzo Abe, o partido do qual ele fazia parte garantiu uma vitória eleitoral que dá a chance ao atual primeiro-ministro, Fumio Kishida, para cimentar seu próprio poder.
As pessoas que lamentavam a morte, incluindo a secretária do Tesouro dos EUA, Janet Yellen, entraram em um templo em Tóquio para um velório particular para Abe na noite desta segunda-feira, no horário local, três dias depois de ele ter sido morto a tiros em um comício eleitoral.
Um funeral privado está marcado para terça-feira (12).
“Há um profundo sentimento de tristeza por sua perda”, disse Yellen a repórteres do lado de fora do templo.
O suspeito, identificado pela polícia como Tetsuya Yamagami, de 41 anos, acredita que Abe promoveu um grupo religioso ao qual sua mãe fez uma “grande doação”, disse a agência de notícias Kyodo, citando fontes investigativas.
A Igreja da Unificação, um grupo controverso conhecido por seus casamentos em massa e seguidores dedicados às vezes pejorativamente chamados de “Moonies”, disse nesta segunda-feira (11) que a mãe do suspeito era um de seus membros.
Nem Abe, nem Yamagami, eram membros da igreja, disse Tomihiro Tanaka, presidente da filial japonesa da igreja, oficialmente chamada de Federação da Família para a Paz Mundial e Unificação.
Abe também não era um conselheiro da igreja, disse Tanaka, acrescentando que cooperaria com a polícia se solicitado a fazê-lo.
A Reuters não conseguiu entrar em contato imediatamente com a mãe de Yamagami e não conseguiu determinar se ela pertencia a outras organizações religiosas.

Vitória Sombria
Nas eleições realizadas no domingo, o Partido Liberal Democrático (LDP) e seu parceiro de coalizão no governo, o partido Komeito, ampliaram sua maioria na Câmara Alta do parlamento.
Com a maioria já em vigor na Câmara Baixa, o que teria sido um clima de comemoração na sede do LDP em circunstâncias normais tornou-se sombrio.
Um momento de silêncio para Abe foi oferecido em sua memória, e o rosto de Kishida permaneceu sombrio enquanto ele fixava rosetas ao lado dos nomes dos candidatos vencedores em um quadro em um símbolo de sua vitória.
O secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, se encontrou com Kishida durante uma breve parada nesta segunda-feira (11) para oferecer condolências em nome do presidente Joe Biden.
“Eu compartilhei com nossos colegas japoneses a sensação de perda, a sensação de choque que todos nós sentimos – pessoas conectadas sentem – nesta tragédia horrível”, disse Blinken.
“Mas principalmente, eu vim a mando do presidente porque mais do que aliados, somos amigos. E quando um amigo está sofrendo, outros amigos aparecem.”
Kishida, Yellen e o embaixador dos EUA no Japão, Rahm Emanuel, estavam entre as centenas de pessoas que se dirigiram para o velório desta segunda-feira (11) no templo Zojoji, em Tóquio, onde estava o corpo do ex-primeiro-ministro.
Uma fila de carros sedan pretos, incluindo vários com placas diplomáticas, chegou ao local, com alguns enxugando as lágrimas enquanto faziam fila sob os degraus que levavam ao templo no calor abafado.
O LDP e seu parceiro de coalizão Komeito conquistaram 76 dos 125 assentos disputados na Câmara, contra 69 que já tinham anteriormente.
O LDP sozinho ganhou 63 assentos, acima dos 55 que já tinha, para ganhar a maioria dos assentos, embora tenha ficado aquém de uma maioria simples por conta própria.
Sem eleições marcadas para os próximos três anos, Kishida ganhou um espaço extraordinariamente grande para tentar implementar uma agenda ambiciosa que inclui expandir os gastos com defesa e revisar a Constituição pacifista do Japão – um sonho de longa data de Abe antes que problemas de saúde levassem à sua renúncia.
Abe liderou a maior corrente dentro do LDP, e analistas disseram que sua morte pode levar a uma potencial turbulência dentro do partido que pode desafiar o controle de Kishida.
Kishida disse em entrevista coletiva que vai abordar os problemas difíceis que Abe não conseguiu resolver, como a revisão da Constituição, acrescentando que espera que haja discussões sobre o assunto durante a próxima sessão doParlamento.
“Ganhamos força dos eleitores para um governo estável desta nação”, disse Kishida em entrevista coletiva.
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Abe quebra a tampa de um barril de saquê para comemorar a conquista de um assento na Câmara dos Representantes do Japão em 1993. O pai de Abe, Shintaro, já ocupou o mesmo cargo • The Asahi Shimbun/Getty Images
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Abe e sua esposa, Akie, se casam em Tóquio, em 1987. Eles foram acompanhados pelo ex-primeiro-ministro japonês Takeo Fukuda e sua esposa, Mie • Kyodo News Stills via Getty Imag
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Abe e sua esposa, Akie, se casam em Tóquio, em 1987. Eles foram acompanhados pelo ex-primeiro-ministro japonês Takeo Fukuda e sua esposa, Mie • Kyodo News Stills via Getty Imag
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Abe recebe o distintivo de membro da Dieta Nacional (poder legislativo bicameral do Japão) em sua primeira sessão legislativa em 1993 • The Asahi Shimbun/Getty Images
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Abe discursa na cerimônia memorial de seu pai em Tóquio em 1993 • The Asahi Shimbun/Getty Images
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Abe, como vice-secretário-chefe do gabinete, joga golfe com o primeiro-ministro Yoshiro Mori, à esquerda, e o secretário-chefe do gabinete, Hidenao Nakagawa, ao centro, em 2000 • Kyodo News Stills/Getty Images
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Abe, como secretário-geral do Partido Liberal Democrata, dirige-se a repórteres do lado de fora da Casa Branca após se encontrar com a então Conselheira de Segurança Nacional dos EUA, Condoleezza Rice, em 2004 • Tim Sloan/AFP/Getty Images
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Abe fala com repórteres depois de almoçar com Thomas Schieffer, o embaixador dos EUA no Japão, em 2005. Na época, Abe era o secretário-chefe do gabinete do Japão • Itsuo Inouye/AFP/Getty Images
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Abe e Koizumi usam óculos 3D durante uma conferência de ciência e tecnologia realizada na residência oficial de Koizumi em 2006 • The Asahi Shimbun/Getty Images
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Abe e Koizumi usam óculos 3D durante uma conferência de ciência e tecnologia realizada na residência oficial de Koizumi em 2006 • The Asahi Shimbun/Getty Images
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Em 2006, Abe se encontra com Sakie Yokota e seu marido, Shigeru, cuja filha Megumi foi sequestrada em 1977 por agentes norte-coreanos • Katsumi Kasahara/AFP/Getty Images
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Abe se curva aos aplausos dos legisladores do Partido Liberal Democrata, no poder, depois de vencer a eleição presidencial do partido em 2006. Ele se tornaria o primeiro-ministro do Japão, sucedendo Koizumi • Tatsuyuki Tayama/Gamma-Rapho/Getty Images
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Abe se instala na cadeira presidencial de seu partido em 2006 depois de suceder Koizumi como primeiro-ministro do Japão • Pool Interagences/Gamma-Rapho/Getty Images
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As telas de televisão mostram Abe anunciando sua renúncia como primeiro-ministro em 2007. Ele estava no poder há menos de um ano, mas uma série de escândalos prejudicou sua agenda e fez seus índices de aprovação despencarem
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Abe inicia seu segundo mandato como primeiro-ministro em 2012. Aqui, ele posa para fotos com novos membros do gabinete em sua residência oficial em Tóquio • The Asahi Shimbun/Getty Images
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A visita de Abe ao Santuário Yasukuni de Tóquio em 2013 inflamou as tensões com a China e a Coreia do Sul. As visitas ao santuário por líderes japoneses são controversas porque a instalação consagra criminosos de guerra de classe A, bem como os mortos de guerra • The Asahi Shimbun/Getty Images
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Abe e sua esposa, Akie, assistem a uma apresentação da cerimônia do chá na conferência da Assembleia Mundial para Mulheres em Tóquio em 2015 • Toshifumi Kitamura/AFP/Getty Images
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Ex-primeiro-ministro japonês Shinzo Abe fala em reunião conjunta do Congresso dos EUA, ladeado pelo então vice-presidente Joe Biden (à esquerda) e o então presidente da câmara dos EUA John Bonemer (à direita) em 29 de abril de 2015, em Washington • Mark Wilson/Getty Images
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Shinzo Abe encontra-se com a Rainha Elizabeth em Londres, em 2016 • John Stillwell - WPA Pool /Getty Images
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Depois de fazer discursos em Pearl Harbor, no Havaí, em 2016, Abe e o presidente dos EUA, Barack Obama, conversam com veteranos que sobreviveram ao ataque japonês em 1941. No discurso, Abe ofereceu suas "sinceras e eternas condolências" por aqueles que morreram no ataque • Kyodo News/Getty Images
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Abe participa da cerimônia de encerramento dos Jogos Olímpicos de 2016 no Rio de Janeiro. Tóquio sediaria os próximos Jogos Olímpicos de Verão • David Ramos/Getty Images
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Ex-presidente americano Donald Trump é recebido em Tóquio por Shinzo Abe • Gamma-Rapho via Getty Images
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Abe senta-se ao lado do presidente russo Vladimir Putin em uma cerimônia para um projeto de intercâmbio cultural em Osaka, Japão, em 2019 • Kyodo News/Kyodo News Stills/Kyodo News Stills via Getty Images
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Presidente Jair Bolsonaro com o então primeiro-ministro japonês Shinzo Abe. • Reprodução
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Pessoas em Osaka, no Japão, passam por um monitor que mostra uma transmissão ao vivo de Abe falando sobre a pandemia de Covid-19 em 2020 • Tomohiro Ohsumi/Getty Images
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Abe se encontra com o presidente chinês Xi Jinping no Grande Salão do Povo em Pequim em 2019