EUA destinam US$ 5,7 bilhões a cinco programas de vacinas contra a Covid-19
Corrida pela vacina tem como principais concorrentes Estados Unidos, Reino Unido, Alemanha e China
O governo americano anunciou nesta quarta-feira (22) o maior investimento individual até agora em sua estratégia multibilionária para conseguir a vacina contra a Covid-19 o mais depressa possível. O contrato de US$ 1,95 bilhão com a companhia americana Pfizer eleva para US$ 5,7 bilhões o investimento total, envolvendo cinco programas.
É mais um lance na competição global pela vacina, que lembra a corrida espacial dos anos 50 entre Estados Unidos e União Soviética. Neste caso, os principais concorrentes são Estados Unidos, Reino Unido, Alemanha e China.
O Brasil, graças à mórbida “vantagem” de viver uma proliferação quase descontrolada, combinada, paradoxalmente, com seu reconhecido histórico de controle epidemiológico, conseguiu colocar um pé numa canoa dos EUA e Reino Unido e outro da China. A Fiocruz entrou na parceria da Universidade de Oxford com o AstraZeneca e o Instituto Butantan, com a Sinovac.
A Pfizer tem trabalhado nesse e em outros projetos com o laboratório alemão BioNTech, que tem tido bons resultados no combate ao câncer. A empresa americana não quis investimento do governo americano no estágio inicial do programa, para ganhar agilidade no desenvolvimento das etapas, segundo seus executivos.
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Reserva de doses
Neste momento, em que a vacina está na terceira e última fase de testes, já se torna interessante para o laboratório ter uma garantia de mercado, e é isso o que o contrato oferece: a compra de 100 milhões de unidades até dezembro, pelo valor exato de US$ 19,50 por dose, que o governo americano paga e fornece de graça à população, como acontece no Brasil.
O contrato prevê a reserva de até 600 milhões de doses a mais para o governo americano. A população americana está ao redor de 350 milhões (um novo censo está em andamento) mas as autoridades de saúde se preparam para a necessidade de duas doses.
O primeiro acordo entre o governo americano e uma companhia farmacêutica para desenvolver a vacina foi anunciado já em 30 de março. A Agência de Pesquisa e Desenvolvimento Biomédico Avançado (Barda) se comprometeu a destinar US$ 456 milhões a um projeto da Johnson & Johnson, que por sua vez fez uma contrapartida no mesmo valor. A empresa informou ter capacidade de produzir 300 milhões de doses por ano.
Outras duas americanas estão no páreo. A Novavax recebeu US$ 1,6 bilhão e a Moderna, US$ 483 milhões. No projeto da Universidade de Oxford e do britânico-sueco AstraZeneca, o governo americano destinou US$ 1,2 bilhão e encomendou 300 milhões de doses.
Nesses números há um claro excedente de vacinas para a população americana, mas ninguém sabe qual desses programas terá êxito, e qual terá primeiro. Todos têm pressa no mundo inteiro, e o presidente Trump tem um motivo a mais: as eleições do dia 3 de novembro, em que ele figura atrás nas pesquisas, justamente por causa da resposta de seu governo ao coronavírus, considerada ruim pela maioria dos eleitores.
O governo de Angela Merkel comprou 23% das ações da companhia alemã CureVac, para evitar que também fosse arrastada por Trump para o guarda-chuva de programas que dão prioridade aos americanos.
Já a China centralizou seus esforços na Academia Militar de Ciências Médicas, ao mesmo tempo em que participa de parcerias com múltiplos países. A companhia chinesa Sinopharm começou no mês passado testes da fase 3 nos Emirados Árabes Unidos. E a vacina da Sinovac está entrando nessa fase, no Brasil, África do Sul e Reino Unido.
Em meio a toda essa divisão, houve, sim, uma iniciativa para unir os esforços. No início de maio, uma coalizão formada por países do G20 e da União Europeia arrecadou US$ 8 bilhões para custear os projetos mais promissores de vacinas, com participação também de doadores individuais. O governo americano ficou de fora. Trump preferiu seguir em seu voo solo.