Filhos de serial killers: a vida de quem descobriu na infância que os pais eram assassinos
Jenn Carson e Zak Ebrahim tiveram suas vidas abaladas com a descoberta que os pais se tornaram autores de crimes hediondos
Imagine se, por algum acaso, você descobrisse que um familiar ou amigo muito próximo cometeu um crime hediondo? Muito provavelmente, você jamais trataria ou veria aquela pessoa, até então querida, da mesma forma.
Este é exatamente o mesmo caso da norte-americana Jenn Carson, que descobriu ainda criança, que seu amado e carinhoso pai havia era um serial killer.
Da mesma forma, o também norte-americano Zak Ebrahim sofreu bullying e teve sua infância e adolescência afetada após seu pai ser condenado a prisão perpétua por planejar um atentado ao World Trade Center, em 1993.
De pai carinhoso a assassino
Jenn Carson nasceu em uma família amorosa, com seus pais Lynn e James Clifford Carson. Enquanto sua mãe era professora e se dedicava no crescimento profissional, James era responsável por cuidar de Jenn, além dos afazeres domésticos.
Em entrevista à CNN, Jenn descreve sua relação com o pai como “tão próxima quanto temos geralmente com nossas mães”. Ela conta, que durante sua infância, lembra que James sempre se mostrou uma pessoa carinhosa e atenciosa.
Jenn passou a maior parte da infância em Phoenix, no Arizona, após um amigo do seu pai ter os convencido a se mudarem para a cidade na década de 70.
No mesmo período, Lynn e James se juntaram ao popular movimento hippie nos EUA, principalmente em protestos contra a Guerra do Vietnã.
A partir deste ponto, as coisas mudaram na vida da pequena Jenn. Enquanto a mãe continuava saindo para trabalhar, James começou a vender e consumir drogas dentro de casa, se viciando.
O comportamento de James mudou a partir disso. Jenn conta à CNN que o pai começou a agredir fisicamente a esposa. Os episódios motivaram sua mãe a pedir o divórcio, onde foi decidido que a filha ficaria em uma guarda compartilhada entre os pais.
A transformação de um assassino
Após a separação, Jenn e sua mãe se mudaram para Tucson, também no Arizona. O pai continuou morando em Phoenix.
Algum tempo depois, James conheceu em uma festa, através de um amigo, a pessoa que mudaria ainda mais sua vida: Suzan Barnes. Não demorou muito, e eles começaram um relacionamento.
Foi após o início da relação que James mudou seu nome para “Michael Bear”, após alegar que “Deus lhe deu esse nome”.
Durante anos, o agora Michael e Suzan viajaram para diversos países, principalmente na Europa. Na década de 1980, o casal retornou aos Estados Unidos, onde começaram a fazer suas primeiras vítimas em São Francisco.
Michael e Suzan alegavam que os assassinatos faziam parte de uma “guerra santa” e que “Deus havia pedido” que eles matassem pessoas supostamente envolvidas com bruxaria. O casal ficou conhecido na mídia como “Os assassinos de bruxas de São Francisco”.
Os dois assumiram serem os autores de pelo menos três mortes e foram condenados a três sentenças de 25 anos pelas mortes das vítimas.
O episódio com o pai fez Jenn crescer com medo e paranoia. À CNN, ela relata que chegava a dormir com uma faca na mão caso alguém quisesse matá-la.
Mesmo assim, com o tempo, Jenn afirma que começou a entender que nenhuma pessoa, nem mesmo seu pai, poderia tirar sua dignidade e a vontade de viver.
É simplesmente inimaginável pensar que seu amoroso pai se transformou em um bicho-papão.
Jenn Carson
Filho de um terrorista
O ativista e escritor Zak Ebrahim também teve uma adolescência conturbada por conta do seu pai, o terrorista El Sayyid Nosair.
Em entrevista à CNN, Zak conta que até onde se lembra, na infância, seu relacionamento com o pai era marcado por muito carinho e principalmente, senso de humor. Ele ressalta que El Sayyid era uma pessoa divertida e sempre fazia de tudo para o filho cair em gargalhadas.
O escritor revela que essa relação tão amorosa foi se tornando cada vez mais rara a partir dos sete anos de idade. Neste período, Sayyid começou a se envolver profundamente com grupos terroristas – ainda no início dos ataques aos EUA.
As ideias e o comportamento do pai se transformaram radicalmente, deixando de lado aquela personalidade bem-humorada para uma pessoa que não demonstrava carinho e estava indiferente à família – incluindo, claro, Zak.
A mudança de comportamento de Sayyid tem um personagem central: Omar Abdul Rahman. Conhecido como “Sheik Cego”, o líder da organização terrorista “O Grupo Islâmico” chegou a Nova Jersey, onde morava Zak e sua família, com o intuito de “chamar o povo mulçumano à luta contra os inimigos”.
O ativista afirma que ainda durante a infância, seu pai o levou para ouvir diversos sermões de Abdul Rahman. Entre os discursos, se destacava o ódio pelos judeus e norte-americanos, o que Omar chamava de “inimigos naturais”.
O “Sheik Cego” também defendia o uso da violência contra qualquer pessoa ou grupo que fosse considerada um inimigo.
Planejamento de ataques terroristas
Em 1990, Sayyed cometeu seu primeiro crime. Em um hotel de Nova York, o terrorista assassinou o líder da liga de defesa judaica, o rabino Meir Kahane.
Zak revela à CNN que mesmo seu pai preso por assassinato, ele – até então com 7 anos de idade – o visitava muitas vezes na prisão. “Ele dizia que era inocente, então acreditava nele”.
Anos depois, em 1993, Sayyed planejou, dentro da cadeia, as ações terroristas que o tornaram famoso nos Estados Unidos. Entre os principais alvos, estavam o World Trade Center, as sedes da ONU e do FBI e a Estátua da Liberdade.
O WTC – que anos mais tarde seria alvo do ataque terrorista de 11 de setembro – foi atacado quando um caminhão com mais de 600 quilos de explosivos estourou no subsolo de uma das torres.
O objetivo era explodir os alicerces de uma das torres para que ela caísse em cima da outra. Durante a explosão, seis pessoas morreram e mais de mil sofreram ferimentos.
Em 1996, Sayyed foi condenado a prisão perpétua ao planejar o ataque ao World Trade Center.
No meio de tudo isso, estava Zak. Ele afirma que, após a sentença, a imagem divertida que tinha do pai mudou radicalmente. “Difícil falar, mas sinto vergonha [do meu pai]”.
Eu não sei como um pai adorável é capaz de fazer tantas coisas terríveis.
Zak Ebrahim
Ainda durante a infância e adolescência, o escritor conviveu com constantes mudanças por conta de ameaças de morte e islamofobia.
A juventude envolta no preconceito motivou Zak a escrever o livro “O Filho do Terrorista”, que conta a relação com o pai e as adversidades que enfrentou. Ele também é ativista da paz.
Jenn Carson e Zak Ebrahim conversaram com a jornalista Lisa Ling sobre como suas vidas foram impactadas pelos pais assassinos.
Assista ao episódio completo no dia 23 de abril, às 19h15, na CNN Brasil na TV, YouTube e Prime Video.