Governo anterior “encobriu fatos” sobre crise, diz atual presidente do Sri Lanka
Em entrevista à CNN, Ranil Wickremesinghe reafirmou desejo de liderar país para reconstruir economia
O presidente interino do Sri Lanka, Ranil Wickremesinghe, afirmou que a administração anterior do país estava “encobrindo fatos” sobre sua crise financeira paralisante.
O governo do ex-líder Gotabaya Rajapaksa não disse a verdade, que o Sri Lanka estava “falido” e “precisava ir ao Fundo Monetário Internacional (FMI)”, disse Wickremesinghe à CNN, em entrevista realizada no parlamento na capital administrativa do país, Sri Jayawardenepura Kotte, na segunda-feira (18).
“Gostaria de dizer às pessoas que sei o que estão sofrendo”, acrescentou. “Nós voltamos. Temos que nos sustentar. Não precisamos de cinco ou 10 anos. Até o final do próximo ano vamos começar a nos estabilizar, e certamente até 2024 teremos uma economia em funcionamento que começará a crescer.”
A entrevista exclusiva de Wickremesinghe à CNN foi a primeira dele com uma organização internacional de notícias desde que ele foi nomeado presidente interino pelo ex-líder Rajapaksa, que fugiu do país na semana passada.
Wickremesinghe acrescentou que falou com Rajapaksa desde que ele fugiu para as Maldivas e depois viajou para Singapura. No entanto, o atual presidente disse que não sabe se o ex-líder ainda está em Singapura ou se foi para outro lugar.
Wickremesinghe agora está competindo para ser o próximo presidente do Sri Lanka, com o parlamento pronto para eleger um novo líder nesta quarta-feira (20).
O ex-primeiro-ministro, apoiado pelo partido político governista Podujana Peramuna, enfrentará pelo menos outros três candidatos. A indicação de Wickremesinghe ameaçou inflamar uma situação já volátil no país de 22 milhões de habitantes do sul da Ásia.
Desde março, o Sri Lanka enfrenta uma crescente crise econômica que deixou o país com problemas para comprar produtos essenciais, incluindo combustível, alimentos e remédios.
Os manifestantes saíram às ruas para exigir a renúncia dos líderes do país e na semana passada pareciam ter obtido uma vitória quando Rajapaksa prometeu renunciar, e depois fugiu do país depois que milhares de manifestantes invadiram sua mansão. A residência privada de Wickremesinghe foi incendiada por manifestantes pouco depois.
O atual presidente prometeu renunciar para abrir caminho para um governo de unidade. Ele disse à CNN que sua casa incendiada e grande parte de seus itens não eram recuperáveis.
Wickremesinghe disse que perdeu mais de 4.000 livros, incluindo alguns com séculos de idade. Um piano de 125 anos também foi destruído no incêndio, acrescentou.
Mas, apesar disso, na segunda-feira, ele reiterou seu desejo de competir pela presidência, dizendo à CNN que “não era o mesmo governo”. “Eu não sou o mesmo, as pessoas sabem disso”, disse Wickremesinghe. “Eu vim aqui para lidar com a economia.”
Quando perguntado por que queria ser presidente, Wickremesinghe disse: “Eu não quero que isso aconteça no país. O que aconteceu comigo eu não quero que outros sofram… Certamente eu não quero que isso aconteça com mais ninguém.”
Enquanto isso, a vida da população continua caótica enquanto o país navega pela crise paralisante. As pessoas continuam a formam enormes fila em postos de gasolina – às vezes por dias – na esperança de comprar combustível. Muitas empresas locais estão fechadas e as prateleiras dos supermercados estão cada vez mais vazias.
À medida que a raiva continua a crescer, Wickremesinghe disse que as pessoas podem protestar “pacificamente”. “Não impeçam os parlamentares e o parlamento de cumprirem seu dever”, disse ele.
Wickremesinghe declarou estado de emergência nacional a partir de segunda-feira, em uma tentativa de reprimir qualquer possível agitação social antes da votação presidencial do parlamento em 20 de julho.
“Estamos tentando impedir (a polícia e os militares) de usarem armas”, disse Wickremesinghe. “Eles foram atacados em algumas ocasiões, mas ainda assim dissemos a eles que tentassem ao máximo não usar armas.”
Mas o presidente interino disse que pode “entender o que (o povo do Sri Lanka) está passando”. “Eu disse a eles que houve três semanas ruins… E todo o sistema quebrou”, disse. “Não teríamos gasolina, não teríamos diesel. Foi ruim.”
Wickremesinghe disse que não permitirá que os manifestantes impeçam o Parlamento de votar na quarta-feira, ou que mais prédios sejam invadidos. “Tem que haver lei e ordem no país”, concluiu.